Capítulo 4

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Série criminal

 
  Voltamos pra casa com alguns jornais (cinco, para ser mais específica) e montamos no quarto de minha irmã, que agora era de Patrick, uma sala de investigações. Passamos de jornalistas para detetives.
  -Por que precisamos montar isto tudo?O caso dele já está solucionado! Só precisamos de sua história.- falei ao me sentar em frente ao computador. Estava procurando Jack William na Internet. Por incrível que pareça, ele não era um cara muito conhecido.
  -Porque com tudo isto montado podemos entrar na história dele.- Patrick explicou, ao se sentar na cama com os jornais.- E está muito divertido trabalhar com esse novo "tema". Estou me sentindo em uma série de assassinato.
  -E quem você seria? O policial?
  -Não, o assassino.- ele disse quase em um tom irônico- Porque agora preciso pensar como um assassino!
  -Estamos mesmo em uma série!- balancei a cabeça, rindo.
 

  Duas horas se passaram e continuamos na pesquisa, em silêncio. Um jornalista não gosta de trabalhar ao meio o barulho. Bom, pelo menos eu e Patrick não. Trocávamos algumas palavras só quando era preciso. Existem pessoas mais focadas?
  -Precisamos de uma pausa.- Patrick deixou o jornal de lado e pegou o seu celular. Fiquei imaginando qual seria a sua próxima postagem dramática.
  -Como consegue ser tão social?- perguntei.
  -Talvez um dia eu te mostre, quando formos sair pra algum lugar.- ele sorriu- Fora do horário de trabalho. Não quero ser social em uma delegacia.
  -Nós vamos para a sorveteria!- exclamei animada.
  -O tempo nos diz que não é uma boa escolha.- ele olhou pra janela- Poderíamos ficar resfriados.
  -Jack William sempre ia a sorveteria toda sexta-feira à tarde!- apontei para a tela do computador. Patrick se levantou e ficou ao meu lado, vendo as imagens.
  -Por que um assassino iria a uma sorveteria toda sexta?- ele aproximou as imagens- E o pior: porque ele postaria na Internet?
  -É isso que vamos descobrir!-sorri.
  -Bom trabalho,Gabi! Já é um começo.- Patrick disse ao se virar e voltar a atenção para os jornais. Me senti orgulhosa, mesmo não tendo terminado esse trabalho.

  À noite Patrick resolveu sair; diz ele que queria conhecer a cidade. Eu fiquei na sala de pesquisa procurando mais informações.
  -Oi.- meu pai entrou na sala. Parecia calmo, como sempre.
  -Oi.- me virei para ele- Está tudo bem?
  -Eu que te pergunto. Está?
  -Sim.- me virei novamente para o computador. Finalmente havia encontrado uma rede social de Jack.
  -Quer conversar?- disse meu pai; deu para ver sua sombra se encostando na porta.
  -Qual é o novo número da minha irmã?- me virei para ele de novo- Eu sei que ela mudou. Se não me dão uma palavra sobre ela, eu mesma irei perguntar.
  -Ela não tem mais celular. Também decidiu isso assim que se mudou.
  Cada vez mais me escondiam coisas. Não era apenas o caso de Jack William parecer complicado, a minha família tambem era.
  Após alguns minutos de silêncio, ele saiu do quarto e me avisou sobre o jantar.
  Levantei para fechar a porta e me deparei com uma foto de Alice, em cima da cômoda. A foto estava cortada ao meio, e ela aparecia de corpo inteiro, sorrindo. Atrás havia "A & W" escritas em letra cursiva. Guardei em uma gaveta a foto e voltei para o computador. As lembranças que eu tinha com a minha irmã eram boas, mas não queria lembrá-las naquele momento.

  Por volta das 23h, Patrick voltou. Parecia feliz. Feliz até demais.
  -E AÍ, GABI?!- dei um pulo ouvindo o seu grito ao entrar na sala de pesquisas.
  -Shhhhh!- coloquei o dedo indicador na boca, indicando que fizesse silêncio- Fale mais baixo!
  -Mas eu não gritei.- ele se sentou na cama- E o que está fazendo acordada à está hora?
  -Ainda estou na pesquisa sobre ele e a sorveteria. Você deveria me ajudar!- rolei os dedos sobre as teclas do teclado e pesquisei seu nome de novo.
  -Sabe o que eu acho? Que isto já está ficando muito CHAAATO!!!- ele se deitou na cama.
  -Você pode pelo menos não reclamar?- me virei séria para ele, mas Patrick já estava dormindo. No dia seguinte me lembrarei de não perguntar sobre a sua noite.

  Às oito horas estávamos na delegacia, esperando a agente Lopes. Não havia muito movimento, então Patrick observava de perto cada detalhe.
  -Você sabe aonde guardam o molho de chaves?- ele disse baixo, ao ficar do meu lado.
  -Deveria saber?- eu disse, rindo.
  -Na gaveta que fica embaixo do balcão.- havia orgulho em sua voz, como se tivesse acabado de descobrir uma nova pegada de dinossauro.
  -Uau!- falei, sorrindo.
  -E para abrir você deve ter uma chave. Agora te pergunto, minha cara amiga Gabriela, aonde estão as chaves?
  -Dentro dessa mesma gaveta embaixo do balcão?
  -Exatamente! Não é irônico?- ele disse com o seu maior sorriso, e rimos da sua incrível descoberta.
  Passou-se dez minutos (Patrick olhava a todo momento para o celular), e agente Lopes ainda não tinha dado as caras.
  -Senhor!- Patrick chamou um policial que passava por nós- Sabe nos informar quando a agente L.L irá chegar?- abreviou o nome só porque achava legal o som. Ele me contou após dizer que o meu não combina abreviado.
  -Às nove horas.- respondeu o policial e seguiu o seu caminho. Eu e Patrick nos olhamos.
  -Mas por que ela nos disse para chegar às oito?- eu disse.
  -Nós vamos entrar naquela sala!- Patrick exclamou, olhando para o corredor onde havia todas as salas.
  -Não podemos. Só com um agente.
  -Com licença,- ele foi até o balcão e chamou o rapaz, nem me dando atenção- a agente Lopes disse para esperarmos na última sala. Pode nos dar a chave?
  O rapaz nos olhou e encenei um sorriso. Estava totalmente contra o plano de Patrick, mas era preciso.
  -Sim.- ele entregou a chave para Patrick- Mas só desta vez!
  Concordamos com a cabeça e seguimos calmamente até a última sala. Passou um policial, então falamos para ele trazer Jack William até lá, enquanto esperávamos a agente Luísa.
  O plano de Patrick tinha corrido perfeitamente bem. Estávamos os três na sala.
  -Nos desculpe pelo mau jeito da entrevista anterior.- eu disse, arrumando meu caderno na mesa.
  -Podemos começar de novo?- Patrick olhou para ele, que concordou com a cabeça.
  Respirei fundo e comecei:
  -Queremos saber o motivo de você ter feito aquilo.- escrevi as minhas palavras no caderno.
  -Amor.- ele disse, olhando para suas próprias mãos.
  -Amor?- eu e Patrick dissemos.
  -É. Eu fiz tudo por amor.
  Sua justificativa me parecia meio clichê, mas mesmo assim anotei.
  -E não se sente culpado por ter matado a pessoa que ama?- foi a vez de Patrick perguntar.
  -Não, não matei a pessoa que amo.- ele nos olhou- Ela ainda está viva.
  -E então por que matou se a que ama, está vida?- Patrick perguntou novamente.
  -Porque estava nos atrapalhando.- ele falou cabisbaixo- Mas não foi minha culpa!
  -Ok, próxima pergunta.- falei, tentando deixar nosso entrevistado mais confortável. Se é que era possível na situação que estamos.
 

  Preenchi duas folhas com a história de sua família e de como foi criado. Estava com medo de voltar ao assunto principal (o assassinato), e acho que Patrick também.
  Descobrimos que ele é um bom cidadão, e isso só piora a questão de tentar defender ou não a posição que ele se encontra. Não dá para opinar sobre alguém que está preso, só se tivermos muitas informações, e isso é em um estalar de dedos que iremos conseguir!

 

Repórter de um crimeOnde histórias criam vida. Descubra agora