Capítulo 11

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O dia foi péssimo. O meu estômago dói e a única coisa que consegui comer até agora foram duas bolachas e chá.

Já farta de pesquisar casas a preços estupidamente absurdos algures em Oxford, fecho a tampa do computador e deixo a cabeça repousar na cabeceira da cama.

Está muita coisa a acontecer ao mesmo tempo e, infelizmente, a minha mente não sossega. De um lado tenho Mattew e o seu desaparecimento súbito; algo nesta história está mal contado, ele não responde às minhas mensagens nem aos meus telefonemas. Já me ocorreu múltiplas vezes a possibilidade de algo mau lhe ter acontecido. Mas, provavelmente, a única coisa má que aconteceu nesta história foi o facto de me ter entregado e deixar iludir por um rapaz que mal conheço. Opções precipitadas têm as suas consequências.

Do outro lado tenho o meu emprego. Que, aparentemente, está a salvo. Suspiro de alívio e quase me rio com a situação. Embora não tenha piada nenhuma.

Harry também é um dos principais pontos para a minha cabeça andar a mil. Ele é confuso e deixa-me também a mim numa confusão. O seu ato aterrorizante ainda permanece na minha mente, no entanto, levemente camuflado. Eu sei que ele estava a ser sincero quando me disse que não aconteceu nada entre nós, que jamais se aproveitaria de mim e também quando disse que não me queria magoar. Ok, tudo bem. Eu posso aceitar que não era a sua intenção, mas aconteceu e Harry tem de aprender a lidar com as verdades e o seu péssimo temperamento.

Encaminho-me até à casa de banho onde tomo um duche demorado. Visto umas calças de fato treino e uma sweater uns quantos números acima do meu. Seco o cabelo e apanho-o num coque desleixado. Por algum motivo, sinto-me demasiado deprimida para fazer seja o que for sem ser comer e ver séries. Descongelo uma pizza e encho um copo com coca-cola, pego no meu jantar e transporto-o até à sala onde irei passar as próximas horas. É verão em Londres, mas o frio ainda está presente e eu sinto-me num dia de inverno onde a chuva cai torrencialmente. Acendo a televisão e deixo-me ficar ali horas enquanto como a minha pizza e vejo Netflix. Sinto que não fazia isto há séculos e, talvez, seja verdade.

Desde que comecei a trabalhar, nunca mais tirei tempo para não fazer nada.

**

Uma brisa quente corre em Londres. O sol a brilhar e o calor em demasia vieram para ficar. Infelizmente, a minha alma está cinzenta e chuvosa.

Dou um gole no café demasiado amargo na esperança de me fazer acordar para a vida. Mas isso não acontece. O vestido floral demasiado alegre estava a incomodar-me com os seus tons vivos e até o barulho dos saltos a bater no pavimento começa a irritar-me.

Ao fundo vejo o grande prédio envidraçado, ainda faltam uns 20 minutos para a hora de entrar, no entanto opto por entrar e ir preparando as coisas para o que considero um dia miserável.

Na portaria sorrio a Jouse que me recebe com um grande sorriso. Coloco o copo de café no lixo e chamo o elevador.

As portas abrem-se para revelar Harry num fato preto. Respiro fundo e entro a medo. E assim começa um mau dia, definitivamente. Tudo o que eu queria era evitar o meu patrão, mas logo hoje ele decidiu chegar cedo, coisa que é raro acontecer. Os seus olhos saem do seu iPhone assim que as portas do elevador se fecham, verifico se o andar para o qual quero ir está selecionado, mas obviamente Harry ia para o mesmo sitio que eu.

"Bom dia para ti também." Diz enquanto se encosta ao canto direito do elevador e sorri convencidamente.

Reviro os olhos e limito-me a dizer um simples bom dia sem emoção. Consigo sentir os seus olhos a pairarem-me e, nestes momentos, eu só queria trabalhar no segundo andar. O seu olhar convencido enoja-me. Ele é muito atraente sim, mas as suas atitudes arruínam-no.

Brincar com o Fogo, queima [HS]Onde histórias criam vida. Descubra agora