Brincar com o Fogo, queima [HS]

Capítulo 12

Sento-me ao lado de um senhor de idade, no autocarro. Suspiro cansada, eu devia ter aceitado a proposta de Harry, mas não tinha noção que o campo de golfe ficava tão longe do bairro. Este já era o terceiro autocarro que apanhara, estava feliz por ser o último. A viajem não foi demorada, em cinco minutos já estava a sair do enorme veículo. 

A brisa fria faz-me estremecer levemente, visto o meu casaco fino para me amparar do frio que se fazia sentir. Ao longe avisto o carro de Harry e calculo estar perto do local de encontro. 

Harry e Nicole estão parados em frente ao enorme portão verde, eles falam descontraidamente sobre algo que faz a morena rir carinhosamente para o moreno. À medida que me aproximo ouço as suas vozes envolvidas, eles parecem não me notar até me aproximar totalmente. Um silêncio cai no espaço e eu sinto-me imediatamente a mais. Olho rapidamente entre ambos. Harry está numas calças justas cremes e uma camisa azul escura, os seus óculos de sol na face. Nicole está equipada a rigor, fazendo-me sentir estúpida pela escolha inconsciente do meu outfit. 

"Boa tarde." Finalmente digo. "Peço desculpa, atrasei-me um bocadinho." Forço um sorriso no final. 

Nicole abre um sorriso para mim e eu sinto uma aura negativa a invadir-me. Harry passa a língua pelos seus lábios e finalmente fala. 

"O melhor é irmos andando, eles estão à nossa espera." O seu tom é rígido.

Nicole apressa-se a acompanhar o moreno, pondo-se ao seu lado. Deixo-me ir ligeiramente a trás. Harry para repentinamente e eu asseguro-me de não bater contra as suas costas e caminho rapidamente para o seu lado. 

Dois homens na casa dos 50 bebem alegremente o seu espumante, caminham até nós vagarosamente. Harry cumprimenta cada um deles e, seguidamente, apresenta-me a mim e a Nicole. Cumprimento cada um com um aperto de mão forte, de forma a transparecer o que não estou: confiante. 

Olho pelo canto do olho para Harry que bebe descontraidamente a sua bebida e sinto uma espécie de aperto a formar-se no fundo do meu estômago. Acontecimentos de há um mês atrás, na entrevista de emprego, atingem-me. Liberto-me desses pensamentos e envolvo-me alegremente na conversa. 

*

Começa agora a ficar mais frio, o sol está prestes a pôr-se e eu, sinceramente, já não aguento mais este jogo. Depois de uma tarde inteira a tentar, eu continuava a ser uma nódoa no golfe, logo o alvo de chacota do grupo. Era a minha vez novamente e uma vontade de chorar invade o meu organismo. Posiciono-me no sitio correto e lanço firmemente o taco, acerto na bola mas ela faz um percurso completamente errado. 

"O buraco é para o outro lado, Collins!" Nicole troça e todos riem, mais uma vez, divertidos. 

Sinto os meus olhos a ficarem levemente molhados, tinha passado a tarde a ser humilhada. Parabéns, fui promovida a bobo da corte! Afasto-me ligeiramente do grupo. É a vez de Nicole que, ao contrário de mim, tem feito um brilharete e é alvo dos mais diversos elogios. A morena dá uma tacada perfeita e a bola entra no buraco à primeira, todos aplaudem o sucesso. 

"Tens de dar umas aulas à Miss Collins!" É a última coisa que ouço antes dos meus olhos começarem a transbordar um mar de lágrimas. 

Aperto o meu casaco e apresso-me a sair dali, não me preocupando com o facto de não me ter despedido educadamente dos nossos companheiros de negócios. Eu provavelmente não iria voltar a vê-los. As lágrimas caem desalmadamente pelas minhas bochechas quando finalmente alcanço a entrada. Os meus cabelos colados às bochechas encharcadas, eu devo parecer uma miséria. Um soluço escapa dos meus lábios quando saio do campo. Eu nunca me senti menos que nada antes, mas é uma sensação que é tudo menos boa. Sinto-me uma miserável. Uma falhada. Sinto-me nada. Um puxão no meu pulso direito faz-me estremecer. Puxam-me fortemente fazendo-me virar. Os seus olhos verdes nos meus, o seus cachos castanho chocolate balançam docemente com a brisa. Os seus lábios estão molhados e ligeiramente abertos e as suas bochechas levemente rosadas. Ele está adorável, mas faz-me sentir a pior pessoa no mundo.