Fiquei extremamente feliz quando a campainha tocou. Combinado não corria tão bem. Harry suspirou arreliado, mas lá se levantou e encaminhou-se para a porta. Deixo-me encostar no sofá, estou realmente arrependida do tema que puxei, agora tenho de aguentar com uma potencial resposta.
Ouço a porta a fechar e sinto o coração a bater nas orelhas. Estou nervosa como o raio. Deixo um suspiro de alivio escapar quando vejo o moreno a dirigir-se à cozinha depois de pousar a caixa fumegante em cima da mesinha à minha frente; pelo menos consegui evitar a conversa por mais uns minutos. Passado pouco tempo ele volta com dois copos,uma jarra de sumo e guardanapos. Ele está, como sempre, calmo. A sua respiração leve e pacífica. Incomoda-me como somos tão opostos. Abre a caixa e tira uma fatia de pizza, dando-ma. O nosso olhar prende-se um no outro por breves segundos, uma intensidade que me arrepiou cada pelo do corpo. Ele tira uma fatia para si e trinca-a devagar.
Ninguém fala, está tudo extremamente silencioso. Se não fosse a televisão de fundo eu poderia ouvir a brisa que corre lá fora. Demoro a comer a minha pizza, parece que a fome se evaporou. Puxo os meus joelhos ao peito e deixo cair a minha cabeça nos joelhos aborrecida. Ele não parece estar com muita fome, tal como eu, pois não voltou a tocar na caixa.
Vejo-o tombar no sofá, ele está tão aquém, não consigo decifrar a sua expressão.
"Só tu para me fazer deixar de devorar uma pizza a um sábado à noite." Ele diz pouco entusiasmado enquanto faz zapping.
Não digo nada. Encho um copo com sumo e levo-o à boca, degustando assim o seu sabor adocicado. As suas esmeraldas verdes saem da televisão e fixam-se em mim, fazendo o meu peito arder levemente.
"Vamos esclarecer as coisas." Ele fala com um tom autoritário. "Uma das coisas que deves saber é que se eu te quisesse para satisfazeres os meus desejos, isso já tinha acontecido, estou errado?" Os seus olhos cada vez mais penetrantes, a sua respiração calma. "Estou errado, Emma?" ele volta a questionar.
Não respondo. Talvez ele tenha razão. Custa a admitir, mas a verdade é que neste momento eu estou demasiado derretida por ele e a sua beleza. Desvio o meu olhar para longe do dele e foco-me na TV.
"Outra coisa que deves saber é que sim, se eu quisesse eu podia ter aqui outra mulher qualquer. E sim, até podia ser a Nicole... Mas eu não tenho, certo? Isso se calhar, mas só se calhar, significa alguma coisa." Ele diz não tão calmo. "E, para que fiques mais descansada e menos paranóica, eu não tenho sexo com a Nicole há séculos."
"Eu não quero saber da tua vida sexual." murmuro.
Um aperto surge-me no peito ao pensar na possibilidade dele com a morena ou com qualquer outra mulher. Fecho os olhos e tento focar-me no essencial, não quero discutir mais. Estou cansada. Tão cansada desta confusão de sentimentos e emoções.
"Quem diria." Ironia presente na sua voz.
"Acho que o melhor é ir andando." Acabo por dizer.
Eu sei que por muito que tente encarar as coisas e fazê-lo de forma adulta, eu acabo sempre por fugir. Isso enerva-me como a porra, mas no fundo, é a única maneira que tenho de não me expor. Sinto-me demasiado vulnerável nestes últimos dias, eu sei que estou a entrar num caminho sem volta, sei que me vou perder e demorar imenso tempo para me encontrar. É um risco estar aqui, assim. Tenho um turbilhão de sentimentos dentro de mim. Não sei o que quero, mas sei que é bom vê-lo. No entanto, eu sou apenas mais uma no seu percurso.
Muita coisa já aconteceu desde aquela entrevista. O estágio parecia uma grande ideia, uma forma de fazer a minha vida mudar. E fez. Não da forma que eu sempre quis. Não posso negar que tenho vindo a aprender muito e que isso é, de facto, importantíssimo para o meu futuro. Mas a minha vida está virada do avesso e eu já não sou mais eu. Estou vulnerável, quer dizer, sempre fui, mas não assim. Eu nunca estive tão vulnerável por alguém como estou agora. A sua presença é constante e não há forma de eu me afastar dele. Eu preciso de encontrar o meu rumo o mais rápido possível, preciso de abrir os olhos. Ele faz-me sempre perdoá-lo, faz-me sempre voltar para ele como um íman. Eu sei que passamos metade do tempo a discutir, mas eu garanto que ele tem bom fundo. Ele é o ser mais adorável de sempre quando sorri e quando se preocupa comigo. Se ele não me tivesse levado o jantar ao escritório naquele dia, eu não estaria assim porque claramente não saberia o saber dos seus lábios.
"Excelente." Ele diz surpreendendo-me. Verifica as horas no seu relógio de pulso e volta-se para mim. "Ainda é cedo, talvez eu possa chamar a Nicole quando saíres." Ele pisca-me o olho.
Uma ironia extrema está presente e eu sei exatamente o que ele quer. Uma fúria invade-me e eu já não sei mais se é por ele usar o assunto em sua vantagem se é com a possibilidade de isso acontecer mesmo. Eu não o posso proibir, não é?
Cruzo os braços e tento acalmar a minha respiração. Espero uns segundos na esperança que ele diga alguma coisa que me faça ficar - sim, porque eu sou idiota o suficiente para querer ficar. Mas nada sai da sua linda boca que agora só me apetece esmurrar. Avanço em direção à porta sem proferir qualquer palavra.
Ele ri calmamente, uma gargalhada carinhosa. Se eu não estive tão chateada com ele eu tinha-me derretido completamente. Ele levanta-se e aproxima-se um pouco de mim. Longe o suficiente, mas perto demais para o meu organismo.
"Eu estava a só a brincar." ele ri levemente, mas pára-se. "Podes ficar..." aponta para o seu sofá.
Não respondo e ele aproxima-se cada vez mais de mim. A sua respiração está perigosamente perto da minha e eu fecho os olhos e respiro fundo, tentando concentrar-me.
"Tenho saudades de estar contigo sem estarmos a discutir..." O seu tom é rouco e arrastado fazendo cerca de um milhão de borboletas voarem pelo meu estômago.
"Isso não acontece muitas vezes." Eu brinco. "Nós passamos a maior parte do tempo a discutir." Quase rio.
Quando dou por mim estou a ser levada para o sofá novamente. Ele deixa-me em cima do mesmo cuidadosamente e senta-se colado a mim, tapando-nos depois com a manta. Ergue-se para alcançar a caixa da pizza e colocá-la nos nossos colos.
"Agora já podes comer a tua pizza." gozo.
"Sim, finalmente, deixaste de ser chata."
Mando-lhe um murro no braço e rio. Apresso-me a tirar uma fatia e devorá-la enquanto Harry procura um filme para vermos.
-
O som da campainha ecoa por toda a casa. Sinto o seu braço a fazer pressão na minha barriga enquanto se espreguiça. Boa, adormecemos no sofá. Sinto-me gelatina quando vejo o rapaz ao meu lado a esfregar levemente os seus olhos e a sorrir feito anjo, porra é mesmo lindo. A campainha volta a tocar quebrando o momento. Ele apressa-se a levantar-se e a caminhar preguiçosamente até à porta.
Assim que a porta se abre ouço um "precisamos de falar" que me deixa inquieta. O meu coração acelera o ritmo e eu sinto-me a desfalecer.
Ui quem será? Palpites!!!
Obrigada a quem comenta <3 vamos lá, 5 votos e novo capítulo!
até ao próximo,
happy catraia
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Brincar com o Fogo, queima [HS]
Fanfiction"FOGO - substantivo masculino; Significado: Ardor, veemência, paixão, entusiasmo."