Evidência

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"Não feche os seus olhos."

A sua frase martelou durante dias em minha cabeça. Eu poderia fazer isso, fingir que nunca o vi e seguir com a minha vida monótona, sem imprevisto e agitação. Ou, eu poderia prestar atenção no mundo ao meu redor e encontrar uma solução para os problemas que nos rondam.

O estopim para a minha decisão foi o Sr. Listrado. No caminho de volta para casa, após a bebedeira, o segui novamente porque gostava da brisa gélida em minha tez enquanto corria e por não estar com sono, estava agindo de forma imprudente. No entanto, ele já tinha me levado duas vezes ao mesmo lugar. E mesmo estando ébria, me perguntei naquele momento o porquê de eu não ter suspeitado ou ter feito algo naquele tempo.

A verdade é que eu nunca movi as pálpebras, os meus cílios sempre estiveram juntos. Pela primeira vez, não estou apenas seguindo o fluxo até porque é mais fácil fazer o que todos fazem e não correr o risco de ganhar um transtorno. Desta vez, eu deixei que a multidão prosseguisse, estou parada analisando todos os porquês. Hoje, irei dar alguns passos para trás e desvendarei uma parte do passado.

Encontrei o Jeon - no mesmo lugar - e pedi para ele me aguardar durante a madrugada. Não tenho coragem para fazer o que preciso sozinha, mesmo que ele fique apenas me observando, ficarei menos apavorada. Além disso, dependendo do que eu encontrar, lhe entregarei a minha confiança.

O céu possui a coloração laranja, o sol está se pondo. Por ser domingo, todos estão se preparando para irem à missa. A minha consciência está pesada e me sinto indigna de pisar em um lugar sagrado, tenho quebrado tantas regras e pecado tanto que torna-se difícil não me martirizar; porém, preciso ir até o fim agora.

- Está linda, o Hankyul ficará feliz ao vê-la com o vestido. - Minha mãe amarra o laço de trás.

Ganhei vestidos, flores e cestas com frutas dele. Por ser noiva do Jin, preciso me portar como uma futura líder. Todos já estão sabendo sobre o casamento e, agora mesmo, pessoas cochicham e me encaram enquanto caminhamos. Indivíduos que sempre me ignoraram ou eram menos receptivos, me recebem com sorrisos e me tratam como um ente querido. É como se o ar estivesse escasso, sinto-me sufocada com essa situação.

Avisto a instituição religiosa, uma cruz está fixada na parede exterior. Esperamos as poucas pessoas entrarem primeiro para fazermos o mesmo, as velas iluminam o ambiente, espalhando a sua coloração amarelada e o cheiro de cera queimada. A mácula me consome, não mereço estar aqui; a minha presença é uma blasfêmia.

A minha mãe caminha reto, sigo-a relutantemente já que a minha vontade é de correr e me esconder. A parte mais difícil é ter que manter a máscara da boa moça, todos os dias eu tenho que polir ela para que as rachaduras não a sucumba. No altar está ele, o padre Jimin. A sua feição é serena e a sua presença emana pureza.

Faço uma mesura e beijo o dorso da sua mão como uma forma de respeito. A minha genitora conversa com ele enquanto eu continuo perdida em meus pensamentos, a diferença entre ir à igreja com a consciência leve e pesada é gritante.

- A cerimônia de casamento vai ser linda, deve estar animada Minah.

Desvencilho-me do devaneio ao notar que o Sr. Jimin está falando comigo.

- Sim, claro - falo dispersa.

Os murmúrios alheios estão em um tom - um pouco - acima da média, a igreja está cheia. E mesmo que poucos indivíduos estejam olhando em minha direção, sinto que todos podem enxergar minha heresia.

- Irei começar a missa. - Ele se retira, observo a sua batina mover-se suavemente.

Sentamos na primeira fileira. Mantive o olhar fincando no chão ou em algum ponto aleatório, não conseguia mais encarar rosto angelical; entretanto, a sua voz atingia o meu âmago. Ponderei várias vezes se tomei a atitude certa, mas não posso mais voltar atrás. Irei até o fim mesmo que isso custe a minha salvação.

O Vale das MaçãsOnde histórias criam vida. Descubra agora