O crepúsculo acomete o plácido vilarejo. O branco das nuvens transformou-se em um borrão entre o amarelo e laranja, a intensidade das cores é decrescente; cada vez mais opacas. Era para um típico entardecer, o incomum é que não há qualquer forma de vida vagando pelas ruas. O silêncio é tão profundo que chega a ser desagradável, os meus tímpanos doem pela falta de som.
A hipótese de todos estarem dentro das suas respectivas casas foi logo descartada. Eu poderia gritar até as cordas vocais se romperem, mas nenhuma pessoa viria ao meu chamado porque a sensação que percorre em mim é inconfundível: a solidão. Não é aquela que sentimos quando estamos rodeadas de pessoas, em que a presença alheia é irrelevante já que nada pode te tirar da bolha invisível. É aquela que todos temem, de estar verdadeiramente só. É uma espécie de punição: apenas um indivíduo foi escolhido para perambular eternamente, refletindo sobre os seus erros.
De repente, a calmaria foi invadida por uma estrondosa ventania. Precisei colocar as mãos em frente ao rosto e intensificar o aperto dos pés no o chão para não ser levada. Enquanto tentava lutar contra a fúria da natureza, olhei para o céu, arrependo-me imediatamente. Ele é um quadro, o vermelho vivido parece que acabou de ser pincelado, a tinta fresca escorre pela tela igual sangue.
Desconhecidos passam por mim, há borrões em seus rosto que impossibilita o reconhecimento. Tento acompanhar os seus movimentos, todavia, são rápidos demais para que os meus olhos consigam captar. Tudo o que eu consigo ouvir são os seus murmúrios carregados de ironia: "O tempo está acabando."
E no meio do pandemônio, um rosto está nítido. É o algoz que eu tentei esquecer e que me faz ficar sem reação. Ele está me encarando, igual uma assombração que persegue um sujeito até a sua sanidade mental acabar, deixando-o transtornado - sem saber o que é real - e carregando os traumas como fardo.
O tempo acabou.
- Minah? - Acordo com as mãos do Jeon me sacudindo.
Foi um pesadelo, porém mesmo após despertar eu sinto que ainda não acabou - e não estou errada.
- Você estava se debatendo, tentei te acordar - continua.
- Chegou o dia - balbucio. - Temos que voltar hoje - falo sôfrega.
Jeon me abraça fortemente.
- Não precisa temer, vamos conseguir sair dessa juntos.
- Eu espero...
- Tente se acalmar, vou pegar um copo d'água. - Ele acaricia a minha bochecha antes de partir.
Observo o local, acabamos dormindo na sala. O lençol está sobre a minha canela, provavelmente eu mesma o retirei enquanto me remexia por causa do sonho. A brasa da lareira está quase se apagando, ela se esforça para se manter mas não tem força suficiente.
Seguro a ponta da blusa branca que estou vestindo e sorrio fraco. O meu conto de fadas durou pouco, porém foi vigoroso. Se me dessem a opção de escolher entre ter uma vida tediosa e uma com um curto momento de felicidade genuína: eu teria feito a mesma escolha. Seria mais fácil viver sem saber porque quando você experimenta a euforia, a tendência é querer permanecer nela. E voltar para a estaca inicial fica mais doloroso. Contudo, o lado positivo é poder ter essas lembranças, ter sentido algo diferente e saber que valeu a pena.
- Daqui a pouco iremos voltar, me diga o que é a última coisa. - A minha voz saiu monótona ao mesmo tempo em que eu pego o copo.
Bebo um gole, em questão de minutos também beberei a sua última informação.
- É sobre você. No começo, eu achei que era coincidência. Não te contei porque a chance de eu estar errado era alta, mas depois de tudo que aconteceu...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Vale das Maçãs
FanfictionExistem duas regras em um pacato vilarejo: 1) Não coma maçã. 2) Não saia da cerca. Minah sempre seguiu o que lhe era imposto, mas dúvidas surgiram após a chegada de um forasteiro. A forma como ela vê o mundo a sua volta muda e decidir em que...