Paz efêmera

88 11 0
                                    

A verdade sempre esteve na minha frente, todos os dias eu a observava; contudo, os meus princípios eram mais fortes e, consequentemente, me faziam acreditar fielmente no que era dito. A fruta venenosa, na verdade, é a salvação dos humanos.

A qualquer momento pode chegar a notícia de que mais uma pessoa fugiu, uma mentira que eu teria acreditado. Segundo Jeon, há um reino que é protegido por caçadores. O vilarejo está localizado no meio de montanhas, o acesso é difícil. Preciso me certificar de que esse lugar seguro existe, demorou quase duas décadas para uma pessoa nos encontrar. Se continuarmos morando aqui, estaremos fadados à morte.

Aproveitei o último dia em que fomos concebidos pelos raios solares para visitar os cidadãos e fazer uma consulta de rotina. No entanto, fiz isso como desculpa para adquirir informações e, assim, encontrar o algoz. Fiz perguntas simples para não levantar suspeita e reparei atentamente nas reações alheias: o olhar, a postura e a voz.

É difícil acreditar que um indivíduo que eu conheço durante toda a minha vida seja capaz de tamanha crueldade. Eu suspeito de alguns sujeitos, mas e se eu estiver errada? O peso dessa responsabilidade, o fato de eu estar julgando pessoas que potencialmente são inocentes e o medo de errar são desesperadores.

Conforme eu me aproximo do centro, onde a celebração está acontecendo, o som das risadas, da cantoria e dos pés que flutuam rapidamente e se encontram com o solo ficam mais estridentes. Escoro-me na parede de uma casa qualquer, cruzo os braços e sou contagiada pela diversão. Vestidos de várias cores rodopiam no ar, criando círculos hipnotizante, os pares dançam em sincronia.

Durante as três noites de lua cheia, a algazarra é dominante. Cumprimento alguns conhecidos com um sorriso singelo, memorizo cada detalhe para me dar força na minha jornada. Em cima da mesa, há um enorme banquete. É mais do que sensato eu comer antes de partir. Levo a destra até um grande e suculento pedaço de torta, porém sou interrompida:

- Daria-me a honra da dança? - Seokjin estende a mão, com a palma para cima.

O seu traje é sofisticado, é notório que ele foi feito pelo melhor alfaiate. O seu sorriso é convidativo, e a sua pele está avermelhada - provavelmente - por causa do álcool. Concedo o seu pedido, coloco a minha mão sobre a sua. Olho para trás dele e vejo que, não muito distante, os nossos pais estão assistindo a interação.

A dança de casais acabou e outra será iniciada. Nos posicionamos: eu na fileira das mulheres, ele nas dos homens que fica no lado direito. Na minha frente está a Hana que tem o Namjoon como parceiro. Assim que a música ressoa, viro-me e - novamente - as nossas mão se entrelaçam. Repito a coreografia com destreza, sentindo a melodia em cada parte do meu ser.

E tudo fica lento quando estudo a feição do Jin. Eu não fico nervosa ao vê-lo, não anseio pela sua presença e não há uma tensão romântica entre nós; consigo perceber com clareza isso pelo motivo de que já vivenciei essas sensações com outro alguém. Posso presumir que ele também se sente da mesma forma já que irá se casar porque foi uma ordem do seu pai.

Mas o casamento ainda será preciso depois que tudo for revelado?

A movimentação decorrente da troca de pares me desperta. Desta vez, estou sendo conduzida pelo meu melhor amigo. As covinhas no rosto do Namjoon ficam evidentes quando ele erra um passo, rimos juntos como se isso fosse uma piada interna, sem escárnio. A sua presença me deixa tranquila e repleta de alegria.

O ritmo da música muda, ficando mais lento. Todos voltam para os seus parceiros iniciais, coloco as minhas mãos sobre os ombros do Jin. Ao mesmo tempo em que faço os passos de dança, avisto o Taehyung que está dançando com uma moça; todavia, o seu olhar está cravado em Hana que o encara ocasionalmente.

O Vale das MaçãsOnde histórias criam vida. Descubra agora