O começo da tempestade

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Blaueskönigreich há 10 anos atrás

Eu estava correndo, correndo em desespero pelas escadas dos corredores do castelo, sem fazer a mínima ideia do que estava acontecendo para essa correria toda, Schmidt nosso mais leal protetor estava segurando a minha mão enquanto eu perguntava:
— Por que estamos correndo? Cadê a mamãe e o papai? Eles ainda não voltaram?
— É melhor deixar as perguntas para depois Anelise, agora tente ir o mais rápido que puder e... — Havíamos parado em uma janela, ele ficou paralisado ao ver a neve e eu não estava entendendo, neve era diversão para nosso povo, mas estava parecendo que naquela hora não.
— O que foi Schmidt? É só neve! — Eu dizia olhando para Schmidt confusa, ele só olhou de volta para mim com uma expressão de alguém que tinha algo a dizer.
— Olha Anelise agora eu não posso te dizer muita coisa, mas quando tudo isso passar eu prometo te explicar, então vamos correr e rápido, já perdemos muito tempo — Íamos começar a correr novamente até Mayla chegar.
— Temos que correr, vamos logo, vamos logo, vamos logo! — E começou a correria novamente.
— Papai ainda não voltou e mamãe havia mandado um sinal de socorro, o que vamos fazer? — Dizia Mayla ofegante enquanto corria segurando as pontas de seu vestido somente com a mão direita e com a esquerda ela descia correndo pelo corrimão.
— Agora nós só podemos nos proteger, precisamos ir logo para um lugar seguro antes que a neve chegue até nós.
— Ei, ei, ei! — Eu me solto da mão de Schmidt e os dois param na mesma hora — Vocês! Me digam o que aconteceu com a mamãe e com o papai? Mayla você prometeu que não ia mais esconder as coisas de mim! — Dizia eu emburrada.
— Isso só valia para coisas sentimentais Anelise, agora isso é sério e é pesado demais para uma criança de 8 anos. Agora para de graça e vem com a gente — ela agarrou minha mão, mas me debrucei e soltei, eu olhava para ela com um olhar de raiva e ao mesmo tempo birra, ela só me olhou com um olhar de repreensão e se colocou de joelhos para olhar nos meus olhos e dizer:
— Olha só Anelise, sei que é novo para você, mas mamãe e papai não estão mais aqui, então sou eu a responsável por você, queira você ou não, então você vai me obedecer, porque tudo o que está acontecendo é assunto do reino que agora é responsabilidade minha também, escutou?! — Ainda de joelhos após a bronca, Mayla começou a ficar pálida e olhou com os olhos fixos para Schmidt.
— O reino — Dizia ela paralisada
— Você não os avisou, não é? — Disse Schmidt fazendo uma expressão pior do que Mayla agora.
— Vou fazer isso agora — Ela se levantou começou a subir correndo para cima, enquanto Schmidt olhou para mim e depois gritou para ela:
— Komm Prinzessin zurück, du wirst sterben, wenn du kletterst! — Estava falando a língua real, era o que usavam quando não queriam que qualquer que não fizesse parte dos assuntos reais entendessem e eu estava na lista desses qualquer um.
— Mein Königreich, meine Verantwortung — Ela dizia quase chorando. Mayla desceu novamente os degraus correndo, veio até mim, me abraçou e beijou minha testa, após isso olhou para Schmidt, o abraçou e virou—se para subir.
— Beschütze Anelise, gehe an einen sicheren Ort — Ela dizia indo para cima e depois virou—se novamente, olhou para Schmidt e disse:
— Sag Jürgen, dass ich getan habe, was ich konnte, und sag ihm, dass ich ihn sehr liebe. — Ela começou a chorar e correu para cima, eu só havia entendido Jürgen nesta última frase, quer dizer que Jürgen estava envolvido nisso?
— Vamos Anelise — Eu e Schmidt voltamos aquela correria cansativa e eu comecei a me privar de novas perguntas.
Finalmente havíamos chegado à porta de saída , assim que saímos e demos alguns passos fora do castelo, avistamos Mayla que estava na torre, que era ponto mais alto do castelo, numa bancada que meus pais usavam para anunciar as coisas ao reino, o povo estava assustado e Mayla chorava de desespero, havia pessoas com trouxas nas costas indo embora e eu e Schmidt nos afastávamos cada vez mais, já estávamos bem longe num lugar onde só dava para ver Mayla de lá do alto da torre e algumas casinhas que pareciam bloquinhos de tijolos de tão longe que estavam, quando de repente uma tempestade invadiu o castelo, um vento que parecia simples e comum começou a congelar o castelo aos poucos, Schmidt e eu que estávamos andando paramos e olhamos para trás, eu não conseguia falar, só vi minha irmã que chorava ser congelada aos poucos junto do castelo, que foi congelado por inteiro até a última ponta, eu não tinha palavras, só senti as lágrimas saírem e quando sai do choque comecei a gritar:
— MAYLA, MAYLA, MAYLA! — Eu me ajoelhei na neve e Schmidt me pegou e me carregou dizendo:
— Precisamos ir logo Anelise, se não chegarmos acho que em 30 minutos a nevasca pode nos pegar também, ou pior a própria Nevaska.
Eu só chorava sem saber aonde íamos e que rumo teríamos, quando abri o olho para olhar, o reino inteiro estava congelado, os bloquinhos de tijolos agora eram bloquinhos de gelo, não só as casas, quando ergui minha cabeça vi pontos de gelo que pareciam ser pessoas, e infelizmente eu não estava errada, eram pessoas com trouxas nas costas congeladas, tudo havia sido congelado, as pessoas, as suas casas e a minha casa.
Depois de um tempo acabei caindo no sono de tanto chorar e quando acordei estava no colo de Schmidt e ele batendo no chão de um lugar onde tinha uma bandeira vermelha. De repente uma porta do chão se abriu e Schmidt me passou para o braço de alguém, eu esfreguei os olhos e quando tirei a mão deles estava nos braços de Jürgen, num lugar que parecia ser uma cabana debaixo do chão, o lugar era bem iluminado e espaçoso, tinha várias pessoas do nosso povo lá dentro, idosos, adultos, jovens e crianças, entre eles o irmão mais novo de Jürgen, Klaus, que quando me viu veio correndo até mim e me abraçou.
— Como estou feliz de te ver Anelise — Ele dizia em um tom realmente feliz
— Klaus o que está acontecendo? — Eu perguntei, ele só me soltou e olhou para mim.
— Parece que foi...
— E Mayla — Dizia uma voz alta e desesperada que havia interrompido Klaus, era Jürgen falando com Schmidt. Nessa hora todo povo olhou para Schmidt como se quisessem alguma resposta.
— Foi pega pela nevasca — Disse Schmidt e os olhos de Jürgen se encheram de lágrimas.
— Sinto muito — Schmidt disse segurando—o pelo ombro. Jürgen só assentiu com a cabeça e foi para o meio da cabana e disse:
— POVO DE BLAUESKÖNIGREICH, SUA PRINCESA, A ÚNICA HERDEIRA DE MAIOR QUE SERIA CAPAZ DE GOVERNAR VOCÊS, AGORA FOI PEGA PELA NEVASCA — Assim que ele disse isso as pessoas começaram a olhar uma para as outras com um olhar de desespero. — MAS TEMOS A ÚLTIMA HERDEIRA, ENQUANTO NÃO SABEMOS QUAL É O PARADEIRO DO REI E DA RAINHA A PRINCESA ANELISE COMEÇARÁ A SER TREINADA DESDE JÁ! NÃO PARA SER UMA PRINCESA, MAS PARA SER UMA RAINHA! QUANDO A PRINCESA COMPLETAR 18 ANOS SUAS ESCOLHAS SERÃO DEFINITIVAS PARA O REINO, ENQUANTO ISSO NÃO ACONTECE, DECIDIREMOS TUDO JUNTOS E ELA TERÁ A OPINIÃO DISCUTIDA JUNTO DA NOSSA! E SERÁ ASSIM ATÉ ALGO MELHOR ACONTECER. — Jürgen terminou o discurso e eu não sabia o que falar, afinal não tinha o que falar, eu mal sabia o que tinha acontecido com meus pais, não sabia nem se a tal da nevasca havia me tirado minha irmã e agora eu teria que ser treinada para ser rainha?
Jürgen saiu em passos longos e rápidos e Schmidt foi atrás dele e eu fui logo atrás:
— Jürgen por que fez isso? Você poderia nos governar, você estava prestes a ser o próximo da fila do trono. — Disse Schmidt fazendo Jürgen parar de quase correr.
— Não era eu o próximo na fila do trono, era Mayla — Ele dizia com uma voz falhada, mas continuava num tom firme, ele mal conseguia olhar para nós.
— Sim, mas vocês estavam...
— Estávamos noivos! — Jürgen gritou olhando para Schmidt, mas depois voltou a olhar para o nada — Ia falar certo Schmidt, nós estávamos noivos e programados para governar muito tempo depois, quando tivéssemos uns 30, 40 ou 50 anos por aí, o rei e a rainha eram jovens, não esperávamos que desaparecessem assim. — Finalmente ele levantou a cabeça com um olhar aflito para Schmidt, que retribuía com um olhar de pena para Jürgen.
— Mas do mesmo jeito, você pode...
— Não eu não posso nada! — Dizia Jürgen agora olhando fixamente para Schmidt — Eu não posso governar porque... Porque eu não tenho Mayla aqui, se ela estivesse aqui eu teria toda a certeza do mundo que estaríamos segurando um a mão do outro e tirando a tensão dos nossos ombros juntos, mas agora eu não sou sensato para nada Schmidt, se eu pegar o reino agora eu não sei nem o que vou fazer com ele, não me leve a mal Schmidt mas eu não vou pegar esse reino, não sem a verdadeira herdeira dele, não sem Mayla! Agora por favor, me deixem ficar de luto pela minha noiva nem que seja por 10 minutos, mas me deixem recordar da minha Mayla que agora virou gelo. — Jürgen saiu de cabeça baixa quase chorando dali, pelo que eu conhecia Jürgen ele não chorava na frente de ninguém, de Mayla eu sei que já, mas as lágrimas dele só foram para ela.
Um senhor de cabelos brancos e grisalhos chegou a Schmidt e perguntou:
— Nós devemos ter alguma esperança?
— Eu não sei — Disse Schmidt com uma expressão duvidosa.
Foi ali que ouvimos uma voz alta, clara e firme dizer:
— Por que vocês estão com medo e desesperados? 

De repente, uma grande tempestade agitou o lago, de tal maneira que as ondas começaram a cobrir o barco. E Jesus estava dormindo. 

Mateus 8:24 

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