Sem ressentir

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- Como assim nossos pais estão vivos? - Digo em desespero me levantando.
- Lembra quando eu estava congelada - Disse Mayla se levantando e olhando nos meus olhos. - Na verdade eu podia ver tudo, era horrível, via os dias passarem ali mas meu corpo inteiro paralisado, eu não sentia dor, não sentia fome, não sentia nada só estava acordada envelhecendo, eu achava que ia acabar morrendo ali com o tempo, mas um dia eu vi duas pessoas chegarem, eram mamãe e papai, não deu pra ver tão nítido mas eu sabia que eram eles, dava pra escutar a voz deles e eles disseram: filha nós vamos te tirar daí e mamãe chorava, nessa hora eu comecei a chorar também e eles ficaram parados ali me olhando por um longo tempo, mas aí veio um barulho de alguma coisa, talvez um exército, eu não sei e papai disse: temos que ir Magda eles estão vindo atrás de nós e aí eles se foram e eu nunca mais vi eles, mas tenho certeza de que estão escondidos, talvez em apuros ainda, mas vivos, eu sinto isso. - Terminou ela olhando para o nada e eu faço o mesmo, não sei o que pensar, nem o que sentir, meus sentimentos agora estão misturados, feliz por meus pais estarem vivos, desesperadamente curiosa para saber onde eles estão e com uma pontada enorme de dor no coração por saber que eles estão em apuros, eu não sei de mais nada agora.
- A quanto tempo foi isso? - Pergunto baixinho, recuperando-me do transe, mas agora eu só consigo olhar para baixo.
- Eu acho que uns cinco anos antes de você me encontrar. - Respondeu ela olhando para mim e acho que ela percebeu que eu estou meio cabisbaixa. - Olha eu só não te contei porque eu vi o momento que você tava passando com o reino e com tudo, eu queria dar um tempo pra você esfriar a cabeça, mas aí quando eu ia contar foi quando você teve aquela briga com o Klaus, aí eu achei que era melhor você amadurecer um pouco porque se não iria sair procurando eles e também fiquei com medo de você acabar ficando brava comigo por não ter te contado logo quando vocês me trouxeram para cá. - Disse ela com palavras rápidas como se quisesse dar uma satisfação, mas não é culpa dela, eu sou cabeça quente e eu estava em um momento de teimosia muito grande, se ela tivesse me contado, pensando bem agora, eu teria sim ido atrás deles, assim como fui atrás de Nevaska e olha só o que aconteceu.
- Tudo bem - Digo conseguindo levantar a cabeça para olhar ela nos olhos. - Você fez o certo, eu não tava bem pra saber. - Sorrio e vejo ela me olhar preocupada.
- Você não está brava comigo? - Ela pergunta sem graça.
- Não, eu nunca ficaria brava com você por uma coisa dessas. - De repente eu desabo em soluço, quase tirei toda água do meu corpo chorando por Klaus, agora pelos meus pais, pela minha família. Ela me abraça e eu descanso meu rosto em seu ombro, então eu consigo encontrar meus sentimentos agora, eu estou feliz, é eu estou feliz, Deus está cuidando da minha família e de repente isso vira uma confirmação que aquece o meu coração, eu paro de chorar, mas eu não quero soltar Mayla, eu quero ficar no ombro da minha irmã e agora eu só desejo isso para sempre, mas eu sei que uma hora ou outra eu vou ter que sair daqui...
- Princesas. - Diz Jürgen saindo pela porta, os médicos também. - Espero não estar atrapalhando. - Diz ele nos olhando.
- Não, não está. - Diz Mayla enxugando os olhos e eu também faço que não com a cabeça e com um meio sorriso.
- Klaus está melhorando, ele quer te ver Anelise. - Diz ele me olhando, eu assento com a cabeça e ele abraça Mayla enquanto eu entro na sala.
Eu entro e fecho a porta e Klaus está deitado na cama hospitalar, eu vou em direção a ele e ele me olha. Será que ele tem força pra falar? Será que ele está com raiva de mim? Tudo isso está acabando comigo de novo e as lágrimas voltam a cair. Eu paro em frente a cama e viro meu rosto para o lado.
- Me desculpa, eu já chorei muito hoje.  - Eu olho para ele novamente e seguro com as duas mãos em seu rosto, vejo ele sorrir e isso me alivia um pouco. - Klaus como eu fiquei preocupada com você, você nem imagina. - Minhas lágrimas não vão se conter agora, é a única coisa que sei agora.
- Lise - Diz ele com a voz fraca, ainda com um sorriso no rosto. Quando éramos crianças o Klaus às vezes me chamava de Lise, quando eu estava triste e precisava ouvir alguma coisa ou quando eu fazia alguma coisa boa que ele aprovava ou algo que podia se considerar carinhoso, mas fazia tanto tempo que eu não ouvia isso, com tudo o que aconteceu nesses últimos tempo, Nevaska, nossa briga, a situação estava tão tensa que acho que ele não teria nem tempo para pensar em citar esse nome.
- Me desculpa por tudo, se eu não tivesse ido você não estaria aqui e também ninguém teria se machucado, eu fui uma idiota. - Digo com as lágrimas secando e para minha surpresa ele coloca as mãos por cima das minhas em seu rosto e as segura.
- Tudo bem. - Disse ele meio fraco.
- Não, não está tudo bem, olha como você tá Klaus e é tudo por causa de mim...
- Anelise - Diz ele me interrompendo mas eu nem ouço.
- Se eu tivesse ficado aqui quieta no meu lugar e obedecido Mayla ninguém estaria do jeito que está...
- Anelise - Diz ele um pouco mais alto.
- Não Klaus e Albert também se machucou e...
- Eu faria tudo outra vez se precisasse Anelise. - Diz ele em um tom bem alto e vejo que com isso ele gasta muita força. Klaus é meu melhor amigo, ele sempre se arriscou por mim e me tirou das consequências das minhas loucuras, essa foi mais uma. Eu sorrio e tiro minhas mãos do seu rosto. - Eu te amo Anelise, eu te amo muito.
- Eu também te amo Klaus, você é o meu melhor amigo. - Digo sorrindo e olhando em seus olhos e vejo que ele sorri e fica meio incomodado com alguma coisa. - O que foi precisa de alguma coisa? - Pergunto.
- Não é que... Nada vai, deixa. - Diz ele voltando ao normal.
- Você devia ter deixado eu estar aí, você deveria ter me deixado sofrer com as consequências. - Digo arrependida.
- Eu não poderia nem pensar nisso, quando eu vi que Nevaska estava indo para te matar... ah... Anelise você não faz nem idéia do como eu não poderia suportar isso, então não pensei nem uma nem duas vezes me joguei logo na sua frente, acho que seria melhor eu do que você. - Diz fazendo uma expressão de desespero.
- Você me protege desde pequena, junto de Schmidt, isso é um fato Klaus, mas agora eu não posso pensar em perder você. - Digo preocupada mas ainda sorrindo.
- Anelise. - Diz ele meio sério.
- O que foi? - Pergunto.
- Quando digo que te amo é que eu... - Enquanto ele fala a porta se abre e é Albert.
- Com Licença. - Diz ele fechando a porta. - Soube que Klaus tinha acordado então vim ver como está. - Diz ele chegando perto de nós
- Estou melhor, obrigada por se preocupar. - Diz ele perdendo a animação.
- Olha cara de verdade o que você fez foi um ato heróico. - Diz ele o parabenizando.
- Eu só fiz meu trabalho como guarda, meu dever era proteger. - Diz Klaus meio frio.
- Acho que foi mais que isso... Você salvou nossa princesa Klaus. - Diz ele me olhando, sinto meu rosto corar e Klaus volta com a expressão de desconforto.
- Não me chama de princesa Albert e eu nem sou tanto valor assim, Mayla tem muito mais...
- Mas pra mim tem, tanto que você nem consegue imaginar, eu tenho muito a agradecer ao Klaus. - Diz ele voltando a olhar para Klaus e eu começo a sentir meu rosto ficar cada vez mais quente, devo estar parecendo um pimentão agora.
De repente um dos médicos abre a porta.
- Com licença, desculpe atrapalhar, mas Klaus vai precisar de descanso.
- Está bem. - Eu dou um beijo na testa de Klaus e ele me segura pelas mãos.
- Não fique com o pensamento de que tudo foi culpa sua, você fez o que achava que ia ser melhor Anelise, então não se culpe, só faça diferente da próxima vez. - Ele fala e me solta e eu o olho e antes de sair digo:
- Sem ressentimento?
- Isso, sem ressentimento. - Responde ele com um sorriso e eu e Albert saímos da sala.
- E aí foi tudo bem? - Pergunta Mayla.
- Acho que sim. - Respondo sorrindo.
- Eu vou conversar com o doutor. - Diz Jürgen passando por mim sorrindo.
- Ele não está com raiva de mim? - Pergunto baixinho a Mayla.
- Não, ele disse que pode ficar com tudo menos raiva ou rancor, ele sabe que você não fez de propósito e ele me disse que acha a amizade de vocês dois linda. - Diz ela sorrindo.
- Isso eu tenho que concordar - Diz Albert e eu sorrio.
Para tudo há suas consequências, eu fui teimosa e vi o resultado delas, mas não vaia adiantar me culpar pra sempre, eu me arrependi e confesso que errei e creio que Deus me perdoou, Klaus, Mayla, Jürgen e acho que até Albert e eu sei que da próxima vez eu posso fazer diferente, quebrar meu eu e fazer o que é certo, é exatamente isso que eu sei que preciso fazer.

Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade.
1João 1:9

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