Dias longos

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Bunker 3 meses depois

Ele vem com a espada afiada tentando acertar minha garganta e eu desvio me curvando para trás, olho para os lados tentando achar minha espada antes que ele venha para cima de mim de novo e eu acho ela alguns passos a minha esquerda, ouço passos atrás, ele está atrás de mim, eu giro meu pé a 180° graus e ouço ele cair, eu corro para pegar minha espada mas ele segura minha perna e eu caio de barriga no chão, mas por sorte meus braços bem esticados conseguem pegar minha espada, ele me puxa pelos pés e eu me viro com toda força que tenho, ele levanta a espada para minha barriga e eu chuto seu abdômen e ele cai para trás mas logo se levanta, nossas espadas batem uma na outra e nós fazemos um jogo de força empurrando uma a uma, infelizmente ele tem mais força do que eu e a espada dele está fazendo eu ir para trás, eu coloco minha espada um pouquinho para o lado e consigo fazer com que a espada dele vá para perto do rosto dele e que ele recue para trás, eu vou correndo em direção a ele e ele faz o mesmo e eu coloco a espada sobre seu pescoço e para minha surpresa ele faz o mesmo.
- Acho que já está bom por hoje - Diz Schmidt chegando perto.
- Você foi sua alteza, tão bem quanto uma abelhinha. - Diz Albert pegando a garrafa d'água. Ele agora ficou com a mania de me chamar de vossa alteza depois que falei para ele me chamar de princesa de uma vez por todas, por isso ele piorou o apelido.
- Lembre-se que as abelhas ferroam e ferroam doido - Digo abrindo a garrafa e tomando um golão de água, eu esfrego a testa com o braço, estou toda suada, muito suada.
- Vou me trocar, depois vou comer vou a cozinha, nos encontramos lá? - Pergunta Albert.
- Certo - Digo acenando com a cabeça, ele chega mais perto e diz:
- Soube que a aracma deu bastante cacau essa semana, se chegarmos primeiro talvez consigamos pegar mais chocolate.
- Não se preocupe, não vou demorar a chegar, agora vai e qualquer coisa pegue mais alguns para mim. - Digo em sussurro. Ele sai e eu o olho sair.
Percebo que o calor está muito grande naquela sala, então prendo meu cabelo num coque, tomo mais um gole de água fazendo com que a garrafa fique vazia e saio do porão andando em direção ao meu quarto. Enquanto estou andando ofegante vejo Klaus de longe, está vindo em minha direção, mas sei que ele vai passar sem falar nada ou se desviar e ir para outro caminho, é o que ele tem feito durante três meses, não trocou nenhuma palavra comigo, só gestos e quando peço uma coisa ele me dá e sai como se eu fosse uma total desconhecida, está se tornando pertubador, mas eu sei que mereço isso, o que eu falei pra ele foi duro demais, eu até tentei pedir desculpas mas ele se afasta toda vez que tento fazer isso, Jürgen disse para mim dar tempo a ele e aí está, três meses fresquinhos.
Dessa vez Klaus não precisa se desviar, eu faço isso por ele, paro um pouco e quando vejo que ele está perto vou para esquerda, não tem problema dar a volta se for para ajudar ele com o que ele está determinado a fazer por não sei quanto tempo, eu e Klaus sempre fomos grudados e eu tive de me acostumar com isso, mas por todo esse tempo tive Albert aqui me irritando e me fazendo rir ao mesmo tempo, tem horas que ele realmente me dá nos nervos e tem horas que ele acaba sendo fofo até, do jeito dele, mas não deixa de ser fofinho, acho que já me acostumei com ele e eu tenho passado bastante tempo com ele, Sofie adora zoar nós dois, mas depois de tanto tempo eu aprendi a nem ligar.

+++

Finalmente eu saio do quarto limpa e livre de todo aquele suor, estou andando meio quase que correndo em direção a cozinha, quero logo comer aqueles chocolates, até que sinto uma mão me parar.
- Ei ei, onde vai com tanta pressa? Você e Albert acabaram de se estrambelhar lutando. - Diz Sofie com um sanduíche na mão e se eu disser para ela já sei o que vem, mas então vou falar logo para ouvir toda ducha.
- Eu tinha combinado de ir na cozinha de Albert, tem chocolate. - Digo apontando para a direção da cozinha e eu vejo Sofie franzir a sobrancelha, não está com cara de alguém que vai me zoar horrores.
- Vem cá, senta aqui, eu acho que eu estou zoando demais e perguntando menos. - Ela abre um espaço no banquinho e eu me sento ao seu lado. - Tá me fala o que tá rolando entre você e o Albert? Vocês estão tendo encontros demais. - Ela come um pedaço do sanduíche e eu a olho indignada.
- Não são encontros - Assim que falo ela me olha com uma cara de deboche - Tá, tudo bem, são quase encontros, mas agora não são nada demais ainda.
- O que você sente por ele? - Pergunta ela direta.
- Olha, eu ainda estou conhecendo ele não dá pra falar muito. - Digo tentando fugir do assunto.
- Três meses e não conhece ele, fala logo Anelise, não tenta fugir. - Diz ela séria olhando para mim.
- Tá talvez eu sinta algo, mas não é grande coisa. - Digo olhando para cima.
- Era isso o que eu queria ouvir - Vejo um sorriso sair de sua boca - Tá Albert é uma boa pessoa, mas se ele fizer algo pra você... - Diz Sofie com uma cara feia.
- Ele não vai fazer nada Sofie, até porque agora é hora de treinamento, outras coisas depois de cuidarmos de Nevaska. - Digo me levantando.
- De verdade é muito engraçado ver você e Albert - Ela diz ainda sorrindo, mas com uma expressão preocupada.
- Por quê? - Pergunto estranhando.
- Porque na verdade eu sempre pensei que fosse outra pessoa. - Diz ela olhando para os lados e depois novamente fixa os olhos em mim.
- Quem? - Pergunto curiosa.
- Ninguém, ninguém, vai lá vai, divirta-se - Diz ela se levantando e me empurrando e eu saio correndo, Albert já deve estar plantado lá há muito tempo.
Finalmente chego a cozinha, como esperado Albert está me esperando, encostado na parede com um cesto na mão cheio de comidas gostosas.
- Oi - Digo ofegante de tanto correr.
- Até que em fim alteza real - Ele diz se descolando da parede e eu me recomponho.
- Achei que íamos comer só chocolates - Digo apontando para o cesto.
- Eu acho que tem muito mais do que chocolates aqui Anelise, devia estar feliz, vamos - Diz ele em saída da cozinha e eu o sigo.
- Onde vamos sentar? - Pergunto curiosa.
- Vai tentando adivinhar - Do nada ele pega na minha mão e começa a me levar para o final do bunker que é o canto mais quieto e menos cheio de gente, quando chegamos ele forrando uma toalha no chão e coloca a cesta no meio, com as poucas pessoas que estão ali nos olhando.
- Então, acho que já podemos comer - Diz ele tirando chocolates de dentro do cesto.
- Por que aqui? - Digo olhando em volta com um sorriso.
- Pra gente comer em paz - Diz ele com um sorriso suspeito.
- Vou fingir que acredito. - Digo pegando um chocolate.
- Mas é verdade, não iríamos conseguir por nada comer com Jürgen, Mayla, Sofie, Manfred, Leona e até Klaus e Schmidt em cima. - Diz ele revirando o olho.
- Todos os que você falou pode ser verdade, menos Klaus. - Digo despedaçando um pedaço de chocolate.
- Ah é, foi mal, esqueci - Diz ele abrindo uma garrafa de suco uva.
- Sabia, tinha que ser uva - Digo rindo.
- De preferência - Ele me devolve o sorriso e ficamos em silêncio por um minuto. - Mas sobre o Klaus ele não disse mais nada?
- Não - Digo num tom baixo
- Quer desabafar? - Ele pergunta tirando um sanduíche.
- Talvez - Eu coloco o chocolate em cima da toalha - Eu às vezes queria ele aqui, mas eu realmente acho que fui má com ele, não o culpo se ele não quiser falar comigo, mas às vezes dói sabe? Eu só não quero intrometer as coisas do meu sentimento com as coisas do reino, só quero ser uma boa princesa mesmo não estando mais no comando, mas isso tá parecendo cada vez mais difícil. - Digo de cabeça baixo e quando a levanto vejo que sua boca está toda suja de sanduíche.
- Anelise, você é a melhor alteza real que já conheci, antes de te conhecer bem eu achava que você estava meio obcecada pelo reino, até sentia pena de você, pergunta pra Manfred eu falava que você devia ser uma princesinha esnobe que só olhava para o trabalho e hoje eu vejo você totalmente diferente, absolutamente diferente. - Essa é a parte fofa de Albert, ele pode não se expressar muito mas quando se expressa ele consegue mostrar quem ele realmente é e mesmo muitas vezes sendo irritante ele te cativa de uma forma que só ele consegue fazer. Mas de qualquer forma agora não dá pra ficar tão séria, a cena dele com a boca suja acaba sendo hilária e eu caio na gargalhada depois de alguns segundos e ele me olha com deboche. - Ah fala sério Anelise, tô aqui te elogiando e você rindo da minha cara, nunca mais faço isso.
- Não, não é por isso é que sua cara tá toda suja de sanduíche, pera vem cá - Com o dedo eu limpo seu queixo e sorrio, quando deslizo minha mão para tirá-la ele a segura deixando ela em seu queixo e me olha, meu coração está totalmente disparado agora, ele vem chegando perto de mim e sem eu perceber automáticamente eu acabo indo para perto dele também, nossos lábios estão para se encontrar...
- Até que em fim - Diz uma voz parecida com a de Sofie, nós nos viramos para ela e acho que ela percebe que interrompeu algo porque ficou sem graça e com um sorriso ao mesmo tempo. - É... Foi mal gente, mas a Mayla mandou chamar, reunião na base. - Nós dois nos levantamos e Albert vai a nossa frente, quando ele vai um pouco mais adiante Sofie tapa a boca caindo na gargalhada.
- Fica quieta - Digo para ela nervosa e nós vamos em direção ao porão em silêncio.
Entramos no porão e já estão todos lá a maioria com uma expressão séria, eu, Sofie e Albert nos sentamos nas únicas cadeiras que sobraram.
- Manfred queria pedir que você explicasse primeiramente. - Diz Mayla olhando para Manfred.
- Então gente, eu descobri que o frasco que descongelou a Mayla tem elementos muito raros nada fáceis de achar, vamos levar anos e anos para descongelar parte da metade do reino com isso, a única que pode descongelar todo mundo seria a Nevaska em um instante só. - Diz ele com o livro nas mãos.
- Gente, olhem eu vi o trabalho de cada um de vocês se preparando para uma batalha com a Nevaska, mas agora que sabemos disso a circunstância de perder vocês se torna ainda maior, por isso não vamos mais poder ir atrás dela. - Diz Mayla com uma expressão séria.
- Como assim Mayla? Nós nos preparamos que nem loucos para isso, não podemos deixar o resto do povo sem suas famílias e...
- Não podemos deixar que o povo perca mais de suas famílias Anelise, estou pedindo desculpas de todo meu coração porque vi o desempenho de vocês, mas eu não posso arriscar perder mais do reino, eu sinto muito, mas Klaus tinha razão. - Diz ela com cara de pena para mim.
- Mas...
- Essa é a decisão final Anelise, a não ser que achemos outra solução o que é improvável, mas enquanto isso não acontece vamos permanecer no bunker sem incomodar Nevaska. - Diz Mayla com um tom severo e eu me levanto e saio do porão já com um pensamento formado, eu não vou deixar Nevaska ficar tomando conta do meu reino, eu corro para o meu quarto pego um papel e escrevo:

Albert, antes de ir dormir me encontre no fim do bunker aonde fomos hoje, preciso lhe dizer algo urgente, não comente com ninguém que você está indo me ver, estarei te esperando.

+++

Depois de uns quinze minutos Albert chega ao fim do bunker, quase todos já foram dormir e sei que aqui nenhum dos que andam com a gente vão estar, acho que nenhum dos guardas também.
- O que era tão urgente - Diz ele meio assustado, eu olho para os lados e digo:
- Ich werde nach Nevaska gehen
( Eu vou ir atrás de Nevaska) - Pode ser de noite e não ter quase ninguém, mas ainda tem gente então essa língua vai ser necessária.
- Ah cara a língua real, quase nem sei falar isso direito mas... Bist du verrückt? Mayla hat es verboten
( Você ficou louca? Mayla proibiu) - Diz ele ainda mais assustado.
- Deshalb möchte ich, dass du die Kostüme und die Überlebensuhr bekommst
(É por isso que quero que você pegue os trajes e o relógio de sobrevivência) - Digo susurrando.
- Und wer programmiert die Uhren?
(E quem vai programar os relógios?) - Ele pergunta preocupado.
- Du und ich wissen, dass du ein bisschen darüber weißt.
(Você e eu sabemos que você sabe um pouco disso).
- Ah Anelise - Diz ele virando a cara pensativo e depois se fixa de novo em mim. - Und wann willst du gehen?
(E quando você quer ir?)
- Morgen
(Amanhã) - Digo e ele arregala os olhos - Por favor só faça esse favorzinho para mim. - Eu peço e ele fica pensativo.
- Okay, ich werde mir morgen zwei Klamotten anziehen und ich werde mein Bestes geben mit den Uhren.
(Está bem, amanhã vou pegar duas roupas e farei meu melhor com os relógios). - Diz ele já andando para ir embora e eu seguro seu braço e o olho estranho.
- Zwei?
(Duas)? - Pergunto.
- Ja, zwei, denkst du, ich lasse dich alleine gehen? Anelise ge träumst.
(Sim, dois, você acha que vou deixar você ir sozinha? Vai sonhando Anelise. - Ele me diz com um olhar severo e eu solto seu braço e o deixo ir, eu não quero que ele vá, não quero que ele se machuque, mas eu sei que tenho que confiar em alguém que não vá falar nada pra Mayla nem pra ninguém e eu confio completamente em Albert.
Do o fim do bunker até o meu quarto se dá uma boa volta, então vou andando vendo o bunker deserto, já apagaram as luzes, estão todos em seus quartos, vou andando em passos rápidos para chegar logo ao meu quarto e por qualquer razão ninguém saber que eu estou aqui essa hora, mas sinto algo segurar meu braço e eu solto um soluço de susto e olho para trás, tento forçar a vista para ver quem é e já sei quem é: Klaus.
- Anelise o que você tá pensando em fazer é uma tremenda idiotice. - Diz ele num tom severo.
- O que? - Digo tentando parecer calma.
- Não se faça de idiota Anelise, eu ouvi tudo. - Diz ele balançando a cabeça.
- Quer dizer que agora anda me seguindo? - Pergunto a ele num sussurro raivoso.
- Sim Anelise, eu vi você andando a noite e sabia que você tava aprontando. - Diz ele sussurrado com raiva também.
- Bom de qualquer forma você não está falando comigo, então com licença, pode continuar a vontade. - Digo voltando a andar.
- ANELISE - Ele diz num tom quase gritando e eu faço sinal de silêncio pra ele. - Se Mayla proibiu é porque tem um bom motivo, posso não estar mais nos assuntos do rei...
- É isso mesmo - Digo interrompendo ele - você não está mais nos assuntos do reino e nem fala mais comigo a três meses, por isso você poderia cuidar da sua vida ou da vida de seus amigos, porque eu vou fazer o que tiver que fazer pra tentar salvar o reino e você não pode fazer nada sobre isso porque nem ao menos falando comigo você está, então boa noite Klaus. - Termino e saio andando com um peso muito grande no meu coração porque ele não disse nada, acho que se tivesse gritado ou retrucado doeria menos, mas de qualquer forma agora já foi e eu estou cada vez rasgando minha amizade com o Klaus. E agora ainda sobre o que vou fazer amanhã algo no meu coração queima dizendo para mim não ir e não o fazer, algo está doendo parece que tentando me avisar de algo, mas eu não posso eu tenho que ir, eu preciso, mas por que será que algo diz que eu não preciso mesmo?

Pois, se o nosso coração nos condena, sabemos que Deus é maior do que o nosso coração e conhece tudo.
1João 3:20

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