Palavras e Pincéis

Ciúmes

Era começo da tarde quando resolveram fazer alguma coisa pela cabine. Sasuke ligou a banheira de hidromassagem e sentiu-se relaxar completamente a se ver envolto pela água que não estava completamente gelada, na verdade estava bastante confortável em uma temperatura mais morna, apesar do calor. Ele deixou o corpo afundar até ficar bem acomodado, com o pescoço apoiado numa das junções almofadadas da banheira.

Ele fechou os olhos por um momento e se manteve apenas aproveitando da sensação que o jato de água incidia sobre seu corpo e só não sobressaltou de susto quando Itachi adentrou a banheira, pois tinha ouvido seus passos um tanto antes. A hidromassagem era grande e comportava perfeitamente os dois, apesar de suas pernas se tocarem um pouco.

- Eu não consigo parar de pensar na minha história. – Disse Itachi, de repente. – Mas eu consigo ver formas diferentes de lidar com ela agora.

- Isso é bom. – Sasuke abriu os olhos e fitou o irmão. – Eu também não consigo esquecer o meu desenho e acho que não vou esquecer tão cedo, mas aqui fica um pouco mais fácil pensar sobre isso.

- Você pode me contar sobre o seu desenho se quiser. Não pode mesmo ser uma cópia de alguém? Nem mesmo uma base?

Sasuke dispensou um sorriso miúdo ao irmão. – Você pode me falar sobre a sua história também, vou gostar de dar umas opiniões. Eu até posso desenhar outras pessoas, mas o que me irritou de verdade foi saber que não consigo colocar a visualização da pessoa que eu tive numa tela. É mais fácil copiar alguém do que criar e eu me sinto um inútil por isso.

- Se menosprezar desse jeito não vai ajudar e você sabe que isso que disse não é verdade. O que você acha que ficou ruim?

- Tudo. Os traços estão fortes demais e tortos, ela parece não ter um equilíbrio mesmo parecendo perfeita na minha cabeça.

- E você não pode simplesmente fazer as partes separadas? Tentar um esboço do cabelo, em outra parte o rosto, numa terceira outros detalhes importantes. Precisa começar e terminar numa folha só com tudo perfeito?

Sasuke franziu o cenho. – Essa era a ideia, mas ouvindo você falar parece que não vai dar muito certo.

- Não foi isso que eu quis dizer.

Sasuke ficou em silêncio por um minuto, seu olhar se perdendo no rosto do irmão iluminado pelo sol, os longos cabelos presos em um coque, mas a franja teimosa insistindo em definir os traços do Uchiha mais velho, quase como um complemento de cada detalhe que compunha a face bonita de Itachi. Sasuke sentiu as laterais de suas pernas se tocando dentro da água e pode identificar que era dali que vinha o calor mais forte que emanava da banheira.

Aquilo o fez corar, mas o próprio desenhista não soube explicar o motivo da quentura que lhe tomou a face.

- Você está bem? – Itachi se aproximou, tocando a testa do mais novo.

- Estou. E não entendi errado o que você disse; a sua ideia é muito boa na verdade, mas tudo que mexe com orgulho é uma merda.

- Nem me fale porque toda vez que penso sobre a história e sobre o quanto não consigo terminar me sinto inútil também. Não sei o que fazer.

- Não pode mesmo fazer de outro jeito? Se eu posso desenhar a mulher da minha mente por partes separadas você também pode escrever suas cenas de outros jeitos. Não precisa seguir uma regra tão firme, precisa?

- Não, mas... Eu nunca fiz isso, entende? Já passei por situações em que travei em algumas cenas, mas nunca foi um completo absurdo para eu ter que começar de outro jeito, então não sei se dessa vez isso é o certo.