Palavras e Pincéis

Madeira e almíscar

Aquela não era a primeira vez que eles dividiam uma cama, e, portanto toda a neura de Itachi sobre ficarem juntos desapareceu quando eles foram dormir já no começo da madrugada e depois de passarem algumas horas vendo o céu e conversando sobre qualquer coisa que não incluísse o incidente do jantar. Na verdade toda aquela situação nova fazia com que esquecessem problemas, o céu sobre suas cabeças e mesmo o movimento e o barulho do mar eram inspiradores para suas mentes criativas.

O vento frio da madrugada refrescava as cabines e eles optaram por deixar o ar-condicionado desligado e um tanto da porta da sacada do quarto aberta, a brisa era suficiente para que não passassem calor, e a cama espaçosa demais para que se tocassem, a menos que quisessem isso. Quando foram dormir efetivamente já passava da uma hora da madrugada.

A cortina que cobria as portas das sacadas era de um material pesado e marrom que ajudava a escurecer o quarto e apenas uma fresta acabou ficando descoberta, a mesma por onde o vento adentrava. E apesar de os irmãos não brigarem por espaço naquela cama, certamente seus cheiros o faziam. Sasuke tinha um cheiro almiscarado proveniente dos perfumes que usava, e em contrapartida Itachi gostava das fragrâncias mais amadeiradas, tão intensas quanto o almíscar e ambas marcavam presença no cômodo como se estivessem sendo borrifadas de hora em hora.

Todavia, em determinado momento da noite os eflúvios acabaram se juntando, quase se tornando um só, no exato segundo em que os irmãos acabaram se mexendo e se unindo em um abraço. O sono forte os incapacitou de acordar, mas os braços de Itachi envolveram Sasuke num abraço e suas pernas acabaram se juntando no processo, o calor de suas peles descobertas se chocando e seus odores marcantes se fundindo.

Eles passaram toda a noite daquele jeito e acordaram um pouco depois do nascer do sol, o relógio digital que havia em cima de uma das cômodas ao lado da cama mostrava que pouco passara das sete horas e mesmo assim o clima já estava quente, e no momento aquilo não referia somente as temperaturas do lado fora, mesmo porque dentro daquele quarto tudo parecia mais quente.

Itachi foi o primeiro a acordar, e com o susto repentino que o tomou acabou fazendo com que Sasuke também despertasse, ainda sendo capaz de perceber que tinham se abraçado mesmo que o mais velho já tivesse afrouxado o contato. Suas pernas ainda estavam juntas e Sasuke se separou sem muita pressa, ajeitando melhor o corpo e bocejando ao verificar a hora.

- Ainda é cedo demais. – Ele esfregou os olhos e se virou para o irmão. – Bom dia.

Itachi lhe dispensou um sorriso miúdo. – Bom dia. Ainda tá cedo, mas você não tá pensando em dormir até o meio-dia, né?

- Não. – Sasuke enfiou o rosto no travesseiro e jogou o braço pra cima do tórax do irmão. – Mas eu quero dormir mais.

O final da frase acabou saindo um tanto abafado, o que fez Itachi rir. Ele ainda estava tentando entender o toque repentino no mais novo, mas depois da conversa do dia anterior já tinha entendido o quanto Sasuke parecia protetor... Era essa a palavra, certo?

- Eu não entendi o que você falou, mas eu também acho que ainda é cedo demais. Só não durma muito.

Sasuke resmungou alguma coisa quando sentiu seu braço ser afastado e o peso da cama diminuir. Itachi tinha se levantado e seguiu para o banheiro até o box que separava o chuveiro da banheira. O espaço quadricular era grande e o vidro era decorado com figuras em jato de areia que remetiam ao mar como alguns animais e o próprio movimento das ondas.

O escritor aproveitou para lavar os longos cabelos e diminuir a quentura de seu próprio corpo, certamente originada pelo tempo abafado... Certo? Bem, ele tentou não demorar muito e por um momento muito breve achou ruim o fato de ter o cabelo comprido, mas a sensação passou tão rápido logo que ele o envolveu com uma toalha e pode terminar de se arrumar.