E aqui estava eu depois de mais um longo dia de vida. Fui ao colégio sozinha, passei o dia sozinha e agora, estou sentada na beira da ponte do lago mais famoso da minha cidade, sozinha. Esses anos têm sido assim: solitários e vazios. Como se não houvesse mais nenhum significado, simplesmente estão ali para tapar um buraco. Um enorme buraco, para falar a verdade.
E é sentada aqui que tenho meus mais profundos pensamentos. Sabe, nem sempre fui assim, vazia. Houve uma época em que eu era sorridente, corria para o lado e para o outro alimentando a vida dos outros com um positivismo imenso, mas eu me perdi. Eu não sei como, eu não sei quando, mas eu me perdi. Talvez tenha sido naquele dia em que eu perdi meu pai, ou foi quando o namorado de minha mãe apareceu pela primeira vez em minha casa. Ou talvez tenha sido naquele dia em que experimentei o bullying pela primeira vez, não tenho como saber.
Eu já não via mais vontade de planejar a minha vida. Afinal, eu não via sentido à ela. Eu acordava todos os dias sem vontade de estudar, sem vontade de comer, sem vontade de crescer. Ter que ir todos os dias na escola pra ouvir as mesmas piadas, sofrer as mesmas humilhações... Ter que voltar pra casa pra ouvir a mesma briga de todos os dias.
No momento, o que me salvava era o belo lago. Ele ouvia minhas histórias, minhas tristezas, minhas inseguranças. Era o meu cantinho especial, que hoje eu agradecia por ter sido abandonado pelos moradores e agora estar localizado quase no meio do nada. E o que tínhamos em comum era justamente isso: fomos abandonados pela nossa sociedade.
Enquanto eu pensava sobre mim e balançava levemente meus pés na água cristalina, o tempo passava lentamente. Vi o sol se por como todos os dias, até ver aquilo que sempre ansiava: a lua. Sempre senti que tinha uma conexão com ela, já que a calada da noite era o refúgio que minha alma procurava. A dor e a solidão não passava, mas era reconfortante saber que pelo menos na fria e escura noite, eu tinha um lar.
E agora, já eram dezenove horas. Nem mesmo assim, eu queria voltar para casa. Queria dormir à luz da lua e nunca mais me levantar. Uma vida simples, a qual eu buscava sempre que podia. De qualquer maneira, minha mãe e seu namorado me esperavam em casa, assim como a lua me espera todos os dias no céu. Sem pressa alguma, levanto do chão e pego minhas coisas, já finalmente decidida a voltar para casa. Em passos curtos e lentos, caminho para a rua principal da cidade, que nem era tão longe dali, parando em frente à porta de uma casa simples, comparada às casas que foram construídas em volta. A partir dali, já sabia que a minha paz havia acabado.
Como de costume, o namorado da minha mãe estava bêbado. Os dois, sem nenhum pudor, transando no sofá de casa, como já era de se esperar. Um suspiro longo ecoou pela sala junto com os gemidos dos dois, então subi ao meu quarto, onde permaneci estática e em pé em frente à cama, torcendo para que as horas passassem mais rápido daquela vez.
O suor frio descia pela minha testa toda vez que me lembrava das noites anteriores. Os meus braços cortados denunciavam minha dor e os gritos de raiva da minha mãe ainda eram ouvidos por mim toda vez que a casa ficava silenciosa. Por mais que eu goste ou queira esconder, a única coisa que eu precisava era da silenciosa morte.
E mais uma noite vazia. Mais uma noite sem significado, que servia apenas para tapar um buraco enorme na minha alma. Tirei o uniforme do colégio, tomei um belo banho e vesti um pijama qualquer, já assim pronta para dormir. Ao me largar na cama e finalmente dormir, apenas torci para não acordar na madrugada sentindo mãos em lugares onde não deveriam estar.
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ECLIPSE
General FictionEsta é uma história para aqueles que sofrem com a depressão e o suicídio. Eu estou com vocês. ༺═──────────────═༻ Dizem que a lua era o espelho da solidão, escuridão e do medo e o sol era o espelho da felicidade, claridade e do aconchego. Sincerament...