LUA P.O.V
ㅡ Lua, está acordada? - ouvi a voz de minha mãe ecoar pela casa.
Por incrível que pareça, eu não sinto nojo da sua voz. Apesar de ser minha mãe, ela também me fez muito mal, mas eu não sinto nojo de sua voz. Ela ainda era especial pra mim, apesar de eu não ser mais especial pra ela. Sinto saudades de quando eu era pequena, de quando "Lua" era o único apelido que ecoava pelo meu quarto.
Me lembro muito bem do porquê receber o apelido "Lua". Meu pai dizia que eu era uma garota de lua, que constantemente mudava meu humor sem motivo e que eu costumava ficar mais produtiva durante a noite, por isso, ele gostava de me chamar de Lua. Uma pena que ele me deixou cedo, em um acidente de carro quando eu tinha apenas 10 anos.
ㅡ Mãe, estou acordada. - gritei do meu quarto.
ㅡ Desça logo, sua comida está pronta. Viajarei com Arthur, voltaremos só próxima semana. - ela me devolveu o grito.
Uma semana sem minha mãe e seu namorado me parecia uma boa. Existe algo que preciso fazer, e esta vai ser a melhor época. Tomei um banho, vesti minha farda e desci à cozinha, onde eu os encontrei sentados à mesa.
ㅡ Pra onde vão? - perguntei, enquanto apanhava duas torradas e passava-lhes a manteiga.
ㅡ Não é algo que lhe interesse. Coma e vá à escola, não estou pagando pra vagabunda estudar. - minha mãe respondeu, já levantando junto ao Arthur.
Me calei diante deles. Os dois caminharam com as bagagens nas mãos e foram até o carro. Eu os observei, não demorou muito para que saíssem em disparada. Um suspiro meu saiu e foi aí que eu finalmente me cansei. Todo aquele desprezo, aquela raiva, se eu não estivesse aqui, ela também não estaria. Talvez seria melhor pra todos se seu fosse embora, estou certa?
Não terminei meu café. Juntei tudo e limpei a mesa, depois não me dei o trabalho nem de pegar minhas coisas, afinal não pretendia ir ao colégio mesmo. Olho no meu relógio: oito horas da manhã. Naquele momento, todos já estavam em seu trabalho ou em sua escola, era a hora certa. Ajeito meu uniforme, pego minhas chaves e caminho devagar até o lago, o único que me ouviu durante todos esses anos.
Por sorte, ou talvez apenas um modo de falar, eu cheguei mais rápido do que imaginava. Eu não corria ou até andava com mais rapidez, já que eu não ansiava por isso, era apenas um fato que eu precisava. Assim que cheguei, me sentei na beira da ponte novamente, onde pretendia ficar até a semana se passar. Meu coração estava inquieto, eu precisava por um fim em tudo aquilo o mais rápido que fosse possível, talvez tenha chegado a minha hora.
Suspiro. Provavelmente passei trinta minutos pensando no que eu deveria fazer e nada me fazia mudar de ideia. Enfim me convenci de que suicídio era a minha melhor opção, agora já estava na hora. Eu nunca havia aprendido a nadar de qualquer maneira, então apenas me joguei na água e me permiti afundar, até que eu pudesse perder a consciência. Agora, finalmente, eu teria paz.
SOL P.O.V
Por algum motivo, hoje eu havia acordado mais disposto. Acordei mais cedo que o esperado, mas ainda assim, não estava muito afim de assistir a primeira aula de hoje. Não parava de pensar naquele lago cristalino, como seria nadar naquelas águas.
Bem, era exatamente isso que eu ia fazer. Nadar era uma boa ideia.
Jogo algumas roupas extras dentro de uma mochila de costas e vesti uma roupa de banho qualquer. Aproveitei que estava com a minha bicicleta e então não demorou tanto a chegar quanto eu esperava. A minha sorte era que eu decorava facilmente os caminhos daquela cidade, principalmente porque era pequena. Não era nada semelhante à um interior, mas era relativamente pequena.
Logo que cheguei na ponte para o lago, vi a garota de ontem novamente. Abri um pequeno sorriso, aparentemente além de nadar, ganharia uma nova amiga. Enquanto ajeitava minha bicicleta e minhas coisas para que nada ficasse no caminho dos carros, pensava um pouco nas possibilidades que levavam aquela estudante a faltar aula. Talvez desinteresse? Ou a pressão. Simplesmente cansaço? Era difícil adivinhar.
Ao ajeitar minhas coisas, me virei para o lago. Eu a observei por um tempo, seu cabelo platinado era realmente fascinante. Quando me dei conta, ela pulou no lago. Por vontade própria, em um momento aleatório. Então, eu imaginei que ela havia tido a mesma ideia que eu, eu estava certo? Percebi que não assim que vi seu corpo buscando uma forma de sair da água.
Pela minha experiência, eu percebi logo de cara que ela estava se afogando. Não foi difícil ligar os fatos, ela pulou na água sabendo que não sabia nadar, agora seu corpo buscava oxigênio e ela lutava contra isso. Chamamos de tentativa de suicídio.
Não tive tempo de ter uma segunda opinião. Na minha cabeça, o suicídio fazia mais sentido do que ela ter simplesmente escorregado e caído no lago. Corri como nunca havia corrido na vida, gritei por ajuda como nunca havia gritado antes, mas pela primeira vez na vida, estava sozinho. Conseguia sentir nos meus ombros o peso que era ter uma vida dependendo de mim.
Eu pulei naquele lago e nadei atrás dela. A garota afundava aos poucos e me parecia inconsciente, por isso procurava me apressar cada vez mais. Ao alcançá-la, a levei de volta a superfície, deixando-a deitada sobre a madeira da ponte antiga. A sorte era que durante todo aquele tempo, eu havia aprendido um pouco sobre medicina para casos específicos como este.
Depois de realizar todos os procedimentos necessários, eu a vi acordar. Seus olhos eram cinza, assim como a cor dos seus cabelos, ela era linda. A vi tossir, sua expressão não me era muito boa, mas ainda assim, eu estava feliz. Vê-la viva, essa era minha vontade naquele momento.
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ECLIPSE
General FictionEsta é uma história para aqueles que sofrem com a depressão e o suicídio. Eu estou com vocês. ༺═──────────────═༻ Dizem que a lua era o espelho da solidão, escuridão e do medo e o sol era o espelho da felicidade, claridade e do aconchego. Sincerament...