LUA P.O.V
Poucos dias se passaram desde então. Nem sempre podemos narrar tudo o que acontece, certas coisas precisam ser omitidas para causar suspense ou até mesmo curiosidade nos outros. Algumas coisas não devem ser ditas, ouvidas ou comentadas, talvez pelo simples fato de não terem nenhum tipo de significado.
Foram 2 ou 3 dias desde o momento que tivemos a conversa reflexiva na ponte do lago. Durante eles, permanecemos trocando mensagens ou saindo pra algum lugar legal.
Eu achei que tudo estava ficando bem. Ou pelo menos, começando a melhorar.
Só que foi aí que percebi: nem sempre temos controle do que acontece em nossas vidas. Nós não podemos adivinhar aquilo que ainda vai acontecer, certo?
Foi exatamente por isso que achei que tudo fosse desabar naquele momento.
Havia acabado de voltar de um passeio com Sol, estava em casa aproveitando um pouco da paz que ainda me restara. Isso até olhar o celular.
Aparentemente, precisavam apenas de um número desconhecido pra me amendontrar. Foram em torno de 50 mensagens, todas me ameaçando ou me diminuindo de um modo diferente. Ameaças de estupro. Ameaças de morte. Ameaças de tortura.
Ameaças...
Por um momento, pensei que fosse apenas um pequeno pesadelo, mas não era. Eu sabia que não era.
Foi aí que uma crise intensa de ansiedade e pânico começaram a se desenvolver. Eu só tive tempo de pedir ajuda à Sol, apesar de não querer incomodá-lo naquela hora da madrugada, eu precisava de ajuda.
"Por favor, venha até a minha casa o mais rápido possível, é urgente. Rua Eragon Vans, 1245."
Para enviar aquela mensagem, foi o pior aperto do mundo. Não conseguia digitar direito, não conseguia pensar direito nas palavras, eu apenas segui o fluxo. Literalmente.
Quando me dei conta, estava encolhida no canto da parede da sala, encarando a porta. Ouvia as gotas de água caindo na torneira, o vento batendo nas árvores e balançando as folhas, as sombras na janela da sala. Eu estava em alerta e surtando.
O medo de reviver um estupro era real. O medo de alguém entrar em casa era real.
Irracionalmente, entreguei meu endereço nas mãos de Sol. E se ele não fosse confiável de verdade? Eu não poderia ter feito isso.
Pouco tempo depois da mensagem enviada ao garoto, ele apareceu. Eu o vi entrando em casa desesperado e me encontrando encolhida no canto da sala, tremendo e chorando.
O que eu podia fazer? Eu era fraca. Sempre fui.
Ele, sem mesmo saber o que estava acontecendo, deu seu jeito de trancar a porta da minha casa que até aquele momento, estava destrancada.
Agora o porquê de eu não ter trancado antes era simples: apesar do medo e do susto, eu sabia da minha miséria. Eu merecia o que tivesse que vir pra mim porque eu acreditava que merecia um destino ruim.
Afinal, eu não era boa o suficiente pro mundo.
Após trancar a porta, fechar as janelas e desligar a TV que chiava em um canal qualquer sem sinal, o garoto correu na minha direção e se ajoelhou na minha frente:
ㅡ Lua?! Lua?! O que aconteceu? O que está fazendo aí no chão? - ele perguntava, sua voz trêmula me mostrava que o seu desespero era visível.
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ECLIPSE
Fiction généraleEsta é uma história para aqueles que sofrem com a depressão e o suicídio. Eu estou com vocês. ༺═──────────────═༻ Dizem que a lua era o espelho da solidão, escuridão e do medo e o sol era o espelho da felicidade, claridade e do aconchego. Sincerament...