REBIRTH

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LUA P.O.V

   E eu achando que finalmente teria descanso. Aparentemente, havia falhado inclusive naquilo.

   Ao despertar, a única coisa que eu conseguia fazer era tossir toda a água que engoli. Assim que feito, me sentei na madeira antiga e encarei os olhos do garoto que me salvara.

   ㅡ Por que fez isso? - perguntei, levemente enfurecida

   ㅡ Você estava se afogando. Era o meu dever te ajudar. - ele me respondeu, se aproximando mais de mim ㅡ Pode me dizer o que aconteceu? Tenho certeza que não escorregou da ponte, eu te vi pulando por livre e espontanea vontade.

   ㅡ Tenho certeza que isso não é da sua conta. - respondi, tentando me levantar. Aparentemente, a experiência de quase morte te deixa fraca, daquela maneira a única coisa que consegui fazer foi cair sentada no chão na primeira tentativa.

   ㅡ Mas é da minha conta. Eu quero ajudar.

   ㅡ Não minta, não estou afim da sua ajuda falsa e nem dos seus conselhos baseados no "vai ficar tudo bem".

   Eu esperava não estar sendo muito grossa, mas não havia como evitar. Eu estava cansada de palavras vazias, das mesmas frases sempre, de tudo, inclusive destes mentirosos com quem convivo.

   ㅡ Eu sei que deve estar brava, mas você precisa de ajuda. Não negue algo que quer por orgulho.

   Suspirei. Ele estava certo, afinal.

   ㅡ Bom, como pretende me ajudar?

   ㅡ Primeiro, me diga o que aconteceu.

   Ele se sentou na beirada na ponte, de frente ao belo lago. Resolvi me aproximar e dar um voto de confiança, mas não era nada fácil. Aquilo só estava acontecendo porque a minha vontade de melhorar era maior do que minha vontade de desistir, minha esperança ainda estava acesa.

   ㅡ O que acha que acabou de acontecer aqui? - dei de ombros

   ㅡ Suicídio. Quero saber o porquê, mais especificamente.

   ㅡ Isso vai ajudar?

   ㅡ Vai. O que te levou a esta decisão?

   Ele realmente não tem ideia do que é viver todos os dias sem uma só vontade de sorrir. Muitos acham que depressão se trata do sentimento de estar triste o tempo todo, mas não. Depressão passa um pouco longe disso.

   Depressão é você estar acordado em todos os momentos dos seus dias, mas estar morto por dentro. Você não sente, você não curte, você simplesmente está consciente sem sentir nada.

   Por isso, procuramos várias formas de melhorar. Entre elas, os cortes. Precisamos sentir algo, pra nos mostrar que estamos vivos, pra aliviar o peso das costas e finalmente nos fazer ver o que realmente importa. Infelizmente, a dor é uma das melhores formas de nos mostrar que ainda não morremos.

   ㅡ Eu simplesmente queria sentir algo. Algo que fosse diferente de angústia e raiva. - olhei para ele e forcei um sorriso ㅡ Você pode pensar que o fim da minha vida seria dado como o agora, mas eu te garanto. Eu estou morta há muito tempo, cara, isso o que você vê ao seu lado é só um corpo morto que vaga por aí sem nenhum tipo de emoção ou sentimento.

   Quando eu pretendia me levantar, ele segurou levemente meu pulso, o que me fez permanecer sentada. Era mesmo necessário todo aquele teatro só para que eu ouvisse palavras vazias dele? De um homem que não conheço.

   ㅡ Você me disse que já estava morta há muito tempo. Eu não preciso saber de mais detalhes agora, principalmente porque você não deve me contar aquilo que não se sente confortável. - ele comentou e virou-se para mim ㅡ Eu tenho uma proposta.

   E aquilo estava começando a virar uma piada. Perfeito.

   ㅡ E qual é a sua proposta? - perguntei em um tom debochado

   ㅡ Me dê uma chance de te mostrar a vida. Uma única chance para te tirar da depressão, eu prometo que não se arrependerá. - ele falou com um belo sorriso no rosto. A proposta parecia tentadora, mas como que alguém poderia me ajudar aquela maneira? Na minha cabeça, era impossível.

   ㅡ Como pretende fazer isso? - suspirei ㅡ Eu vou aceitar porque é a minha última esperança, só que não sei como você pretende me ajudar.

   ㅡ Eu vou te ensinar a viver.

   Me ensinar... a viver?

   ㅡ Você recomeçará sua vida a partir daqui. Todos os dias, conversaremos e eu te darei lições diárias para que você alcance sua felicidade. O que acha? - e esse era o plano dele, afinal. Não botava muita fé, mas era a minha última esperança.

   ㅡ Então... Este será o meu renascimento. - comentei, abrindo um pequeno sorriso no rosto.

SOL P.O.V

   E agora, estava tudo em minhas mãos. Me sentia tenso, talvez assustado, mas ela precisava disso. O que era meu medo perante à uma vida que por muito pouco, quase perdemos?

   ㅡ Digamos que nesta operação, eu serei seu anjo da guarda. Vamos criar novos nomes, afinal um novo renascimento, uma nova face, um novo pensamento e um novo homem, certo? - sorrio ㅡ Me chame de Sol, por favor.

   Dizem que os olhos eram a janela da alma, certo? Os olhos dela brilhavam, apesar dela me dizer que não via futuro naquele plano. Eu podia vê-la esperançosa, assim como eu estava.

   ㅡ Me chame de Lua. Muito prazer.

   A conversa permaneceu rolando durante toda a tarde. Apenas papo jogado fora, uma simples conversa pra começar uma simples amizade. Nossos assuntos variavam entre "Por que você nasceu com o cabelo cinza?" até "O que você gosta de comer quando está sozinho?", apenas bobeiras que podem ser jogadas fora a qualquer momento.

   E sim, depois de presenciar um possível suicídio, eu não via vontade de de voltar a faculdade naquele dia. Por isso, pela primeira vez, eu faltei à aula.

   ㅡ Já são dezessete horas. A tarde passou rápido, não acha? - ela comentou e sorriu em seguida.

   ㅡ Concordo contigo. Mas há algo que ainda não entendi, sabe... O que está fazendo longe do colégio?

   ㅡ Na verdade... Eu estou fugindo um pouco dele. Tenho permissão pra faltar mais vinte dias para passar de ano no limite, então pretendo faltar pelo menos mais uma semana. - ela deu de ombros

   ㅡ Bom, se você diz... Amanhã nos encontraremos novamente para começar as lições, assim que eu sair da faculdade, procurarei te encontrar. Onde você prefere?

   ㅡ Nos encontraremos aqui, tudo bem? Minha casa não é um bom ambiente. - ela forçou um sorriso

   ㅡ Tudo bem, não tem problema. Você tem celular? Posso te passar meu número?

   Ela me entregou um aparelho cor de rosa e nele, eu digitei meu número. Salvei como um simples emoji, eu acreditava que quanto mais simples as coisas fossem, menos complexo isso seria na cabeça dela, então acabou sendo assim que me tornei o 🌞.

   Quando anoiteceu, eu a levei até um quarteirão antes de sua casa e ela me fez prometer que nunca na minha vida eu tentaria procurá-la naquela casa. De qualquer maneira, precisava respeitá-la, então aceitei aquilo e voltei pra minha casa, onde tomei um belo banho e depois, de cansaço, acabei desmaiando na cama.

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