Capítulo 2 - Como não am...odia-lo?

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Tentando pensar que tinha sido apenas uma primeira impressão ruim, Luccino voltou para a parte externa do quartel, agora de camisa regata branca e short preto. Era um short muito colado, que mostrava mais do que ele gostaria, e seus amigos gostavam de rir dele, falando que ele faria "uma mulher muito feliz" se fosse levar em conta o tamanho de suas partes íntimas, e isso o envergonhava.

Luccino nunca tivera uma namorada. Já tinha trocado beijos com a atual noiva de seu amigo Randolfo, Lídia, mas apenas isso. Lídia ria disso sempre que eles se encontravam, e gostava de falar na maciez dos lábios de Luccino, e como o soldado faria qualquer dama ver estrelinhas após um beijo. Mas a verdade era que...Luccino não via vantagem em sair com ninguém. Ele ainda não tinha achado alguém que lhe dava vontade o suficiente para gastar suas horas de sono a pensar nela, ou seu pobre salário em um jantar romântico, ou roubar flores para dar para essa pessoa. Ainda não tinha chegado essa pessoa em sua vida, então ele não se preocupava de verdade com o deboche de seus companheiros de batalhão, ao dizer que muitas damas lhe olhavam várias vezes e ele nunca as cortejava.

Ele foi um dos últimos a chegar ao grupo de treinamento. O major já estava em seus devidos trajes de treinamento, e a gola da sua regata evidenciava a existência de grossos pelos em seu peitoral. Suas pernas pareciam bem torneadas, e Luccino finalmente notara as botinas do seu superior. Eram grandes.

-Você sabe o que dizem de grandes sapatos, não sabe? – riu um soldado mais atrás dele.

Algumas moças conversavam entre si perto do portão de entrada do quartel. Cochichavam umas com as outras, atrás de seus leques, pareciam rir de algo, e davam olhares fugazes para os soldados que se aqueciam ali perto. Alguns deles se sentiam lisonjeados com a atenção, e Luccino ria de Ernesto, que acenava para elas.

-Pensei que gostasse de Ema, Ernesto. – comentou Luccino.

-Pensei que cuidasse da sua própria vida, Luccino. – rebateu Ernesto.

Otávio percebeu alguns olhares mais ousados para ele, e não devolveu com entusiasmo nenhum deles. Não precisava desse tipo de distração. E logo viu as risadas de Luccino sobre algo.

-Pelo visto gosta de ser apreciado, soldado. – o comentário do major fez com que todo o batalhão ficasse mais sério. Luccino inclusive se assustou ao notar que o comentário era para ele. O que diabos tinha feito para ser chamado atenção? – Vamos ver se essas doces damas continuarão com gulosos olhos após vocês darem 5 voltas no quartel.

Foi audível o sobressalto dos soldados. Eles nunca tinham dado 5 voltas ao redor do quartel! Eles iriam ficar exauridos com metade disso. Mas o major não se importou com os protestos.

O apito foi assoprado e todos começaram a correr. No começo não era difícil, pois alguns deles davam duas voltas no começo do dia, uma maneira de ativar o corpo. Na terceira volta foi percebido a diferença na velocidade de alguns deles, e respirações ofegantes já eram ouvidas. Randolfo, que adorava fazer longas caminhadas no fim do dia, estava tentando manter o ritmo, mas não conseguia. Quando passaram perto do portão pela quarta vez, eles perceberam que algumas garotas reclamavam do odor de suor que sentiam e as persistentes ainda davam sorrisos amarelos.

Na quinta volta quase ninguém mais corria, era apenas uma marcha mais rápida, e Luccino não podia se dar por vencido. Ele não deixaria que seu superior visse cansaço em sua face, porque ele sabia que era exatamente o que ele queria.

Quando Otávio apitou novamente, alguns soldados não resistiram e curvaram o corpo, segurando no joelhos e respirando fundo, alguns com a mão no peito ou limpando o suor da testa com a mão. O major tinha um sorriso no rosto e caminhou até os rapazes.

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