Capítulo 14 - Indestrutível

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Luccino já estava arrumado e esperava seus companheiros para ir para a festa. Ernesto falava somente disso nos últimos dias, e Randolfo ria do nervosismo do amigo, mas Luccino o compreendia. Estar perto da pessoa de quem gosta e saber que ela tinha um sentimento recíproco faz com que a gente não consiga pensar em outra coisa. E Luccino estava assim agora, pois só conseguia pensar em como reagiria ao ver Otávio de paletó e gravata.

O italiano andava de um lado para o outro, com pressa dos segundos passarem. Era como viver uma tortura, onde a punição seria passar horas sem poder tocar no seu major, ou não vislumbrar aqueles olhos tão...

-Anda nas nuvens, como sempre.

O soldado recobrou a consciência e viu Otávio com um paletó cinza, com uma calça da mesma cor, e uma gravata vermelha com dourada. Era possível ele estar tão simples e mesmo assim tão elegante? Luccino não conseguiu refrear o sorriso ao vê-lo sem a sua farda.

-Você tem que ser mais discreto, sabia? – comentou Otávio, ao chegar mais perto dele. – Assim as pessoas perceberão que você é apaix...

-Boa noite, cavalheiros! – cumprimentou Ernesto, que estava mais alegre que todos os outros três juntos. Randolfo estava com ele, e ambos usavam um paletó creme com uma calça da mesma cor. – Está uma noite linda, não está?

-Nada irá abalar a felicidade desse rapaz. – riu Randolfo, abraçando Ernesto pelo pescoço. – O amor...Deixa o mais bruto dos homens um sentimental.

Luccino lançou um olhar para Otávio, que deu um sorriso contido.

-Vamos, rapazes? – chamou o major.

Ele deixou Ernesto, Randolfo e Luccino passarem por ele, e ao último passar por ele, Otávio afagou suas costas rapidamente. Luccino lhe olhou, como se ele tivesse imaginado aquele toque, mas o major apontou a charrete com o queixo, mandando mudamente o rapaz continuar andando.

Os quatro começaram sua viagem e Otávio pediu para seus soldados lhe falarem sobre a festa e as pessoas que estariam ali, para não se sentir um completo penetra. Pelo que o major compreendera, os Cavalcante era uma das famílias mais ricas do vale, e após a união de Aurélio Cavalcante com Julieta Bittencourt, uma das mulheres mais ricas da capital, o império da família aumentou, e eles dominavam o comércio do café no Vale e arredores. Ema Cavalcante era uma garota muito carismática e meiga, apesar de ser indelicada quando queria ("E eu sei como!", disse Ernesto).

Como Luccino já tinha lhe explicado antes, Ema gostava de juntar damas e cavalheiros solteiros que ela via que tinha potencial para dar um bom par, e até o momento não tinha errado o alvo; todos os casais estavam casados e felizes.

-Isso me parece uma bela maneira de evitar pensar nos próprios sentimentos, pois é mais fácil manipular o que é externo do que o que é interno. – comentou Otávio, de maneira bem casual, mas ao perceber que ninguém rira, ele disse: - Desculpem-me. Acho que não foi um comentário feliz.

-Digamos que sim e não. – disse Luccino. – Eu penso o mesmo, mas por ela ser minha amiga não acho que devia falar isso para ela.

-Exatamente o contrário, Pricelli. Por você ser próximo a ela, isso lhe dá mais segurança de falar o que a pessoa precisa ouvir.

-Então devo ferir os sentimentos dela com uma opinião tão ácida?

-Estamos mesmo fofocando sobre Ema minutos antes de chegarmos à casa dela? – perguntou Randolfo, tentando acalmar os ânimos.

-Tente ficar longe do major durante a festa, Luccino. – sussurrou Ernesto. – Acho que é mais seguro para que vocês não se estapeiem.

-Talvez seja. – Luccino respondeu, olhando para Otávio, que fingia observar a paisagem que estava fora da charrete.

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