— Ele está acordando. — Ouvi uma voz conhecida ao meu lado.
— Ah, já era hora!
Abri os olhos, e encontrei Lívia, minha mãe e Karen no quarto.
Pisquei para me acostumar à claridade.
— Bem vindo de volta, querido. — Karen apertou minha mão.
Pigarreei — Há quanto tempo estou morto?
Ela riu — Três dias, querido.
Olhei para Lívia. — O que ela ainda está fazendo aqui? — Não dava para acreditar na burrice dessa garota.
Ela bufou de raiva. — Você é um imbecil Edu! Por que me mandou ir embora? Achou mesmo que eu deixaria você sangrando na sarjeta? E que historia é essa de tentar desarmar bandido? Ficou maluco?...
— Ei, ei... Tá pensando que é quem para me dar sermão, garota?
— Não estou pensando! Eu sou a pessoa que te ajudou naquela merda de terminal!
— Onde eu só estava por sua causa! — rebati, ainda lutando com minha voz.
Ela bufou outra vez.
— Vamos parar com essa DR? Não é hora disso, gente. — Karen a afastou de mim.
— Você é inacreditável Eduardo! — Minha mãe retrucou.
Revirei os olhos. — Cadê a Vi?
— Está com o Bê lá embaixo. — Karen tentou me tranquilizar.
— Puta merda! Deixaram aquele idiota olhando ela?
— Fica calmo, para quem acabou de acordar, você está muito nervosinho.
— Karinha, por favor... — Quase implorei.
— Nós vamos descer, o médico disse que vai passar aqui daqui a pouco para conversar com você.
Assenti — Diz para ela que eu estou bem, tá?
— Ah, caso queira saber, seu carro foi recuperado. — Ela piscou para mim.
Respirei aliviado — Obrigado.
Ela me deu um beijo na testa, e saiu com a minha mãe do quarto.
Tentei me mexer, mas senti meu abdome repuxar.
— Você é um idiota, Edu. — Lívia resmungou.
— Vou ter que perguntar outra vez o que você está fazendo aqui ainda?
Ela me fuzilou — Já vi que sua gentileza se foi.
— Não era para você estar aqui. Era para você ter entrando em alguma porra de ônibus, e estar longe...
— Quer que eu vá? Eu vou, mas saiba que falei com a Karen, ela me contou tudo, e você é um imbecil desinformado. E está sendo um cretino, sem razão.
— Eu... — fiquei a encarando, pensando em um jeito de ela sumir, sem ter que magoá-la mais.
— Você o que? – ela me enfrentou.
— Eu quero que você vá. — Falei olhando para baixo.
— Idiota! Você não precisa ficar se vitimando por isso. Já pensou em falar com alguém que não tenha a cabeça fechada da sua mãe?...
— Não é da sua conta. — falei em voz baixa.
Ela bufou — Isso não seria problema para mim, se você quer saber. Ao contrário de você, eu luto pelo que eu quero, não fico esperando a morte chegar.
Ela se virou, pegou a bolsa e saiu batendo a porta, e pisando duro.
Respirei fundo. Eu sentia minha cabeça pesada de analgésicos, mas mesmo assim, as dores não davam trégua.
****
O médico passou para me informar que o tiro só havia atingido meu rim esquerdo. Ele foi removido, mas nada com que eu não pudesse viver. Perdi uma boa quantidade de sangue. E ficaria mais algum tempo no hospital, estava com uma infecção intestinal e uma leve pneumonia. E eu sabia que isso já era de antes...
Enquanto ele falava, eu só conseguia pensar no que a Lívia tinha falado. Mas de qualquer forma, eu desejava que ela não aparecesse mais. O que me ajudaria, só por não me trazer tantos problemas.
****
Fiquei mais três semanas internado. Uma infecção deu trabalho dobrado aos médicos, mas enfim, consegui voltar para casa, com a grata surpresa de ter meu amado Porsche de volta para mim. Se eu já estava desconfiado daquele "assalto" depois de ele ter sido encontrado intacto, não me restava dúvidas.
A banda entrou em recesso, e os shows foram adiados até eu estar inteiro. Tentei convencê-los de achar um substituto. Mas não quiseram nem ouvir a respeito. Quer dizer, o Bê ficou bem tentado, mas Maycon e Gui, nem me deixaram terminar a frase.
Karen me contou que contratou uma enfermeira para me ajudar, e minha mãe ficou com uma tromba gigantesca, odiava gente estranha em casa, na verdade ela odiava quase tudo na face da terra.
Cheguei em casa, com a escolta dos caras da banda, e eles me ajudaram a chegar até meu quarto.
Assim que me deitei, Vi correu para mim, se sentando ao meu lado na cama e segurando minha mão.
— Vou cuidar direitinho de você Edu.
Eu ri. — Viu Karen? Acho que nem preciso de enfermeira.
Karen riu, com um sorriso meio suspeito no rosto — Dessa, você vai precisar querido.
Olhei desconfiado para ela, mas achei melhor não retrucar.
— É isso cara, vê se melhora logo. E aproveita o tempo para escrever mais músicas fodas para a gente. — Maycon riu.
— Isso ia ser de grande aproveitamento. — Gui concordou.
— Mas nem todo estourado, vocês param de me explorar não é? — eu ri — Pode deixar, ficar parado não é mesmo comigo.
— Bom, não faz mais que sua obrigação, já que achou que tinha peito de aço para lutar com bandido armado. — Bê desdenhou.
— Nossa, você é muito otário cara... — Karen o repreendeu.
— De boa Karinha, já estou acostumado.
— Falou então cara. — ele se virou para Vi e bagunçou seu cabelo — Até mais gatinha, vê se da um jeito nesse babaca do teu pai. — ele riu.
— Pode deixar tio Bê. Mas você que é babaca.
Segurei o riso, enquanto os outros soltaram um "ooooloco".
Depois dessa, só restou para ele, ir embora. A Vi podia amá-lo, mas nem ele podia falar mal de mim para ela, por mais distante que eu a mantivesse deles, quando se encontravam, ela era o centro das atenções.
Karen se aproximou, me deu um beijo no rosto e me estudou por um momento.
— Você está bem mesmo?
Assenti. — Vou ficar Karinha, não se preocupe.
Ela sorriu — Sua enfermeira chega ás duas, tá bom? Combinem os horários, e depois eu cuido dos pagamentos. Não se preocupe com nada, vou tomar conta deles.
Baixei os olhos. — Valeu Karinha, sem você eu estaria perdido.
Ela sorriu — Não me agradeça ainda. Só... Volte logo.
Sorri assentindo, e ela saiu do meu quarto.
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Discordantes (Degustação)
Roman d'amourEdu é um músico rico, famoso, bem sucedido que já viajou o mundo com sua Banda. Fechado em sua vida, ele já desistiu de seus sonhos há muito tempo. Se tornou um homem solitário, que vive apenas por um propósito. A segurança e o amor da filha. Po...