1 Atropelamento "acidental"

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— Foi ótimo estar com vocês esta noite São Paulo! — Bê anunciava assim, a última música antes de encerrarmos mais um show. O que era ótimo, meus braços sentiam o peso do cansaço de três shows seguidos. — Vamos dar um salve para nosso guitarrista monstruoso Gui!!! — O público foi à loucura. — Nosso mutante da batera Edu!!!! — Me levantei fazendo reverência para as mais de quinze mil pessoas ali. — Nosso baixista das cavernas Maycon! — ele se aproximou da beirada do palco — E esse Bê que vos canta, está cheio de amor pra dar essa noite! A Bezdomnyy ama vocês! — ele gritou fazendo o publico responder com o mesmo entusiasmo.

Gui iniciou os acordes da nossa musica de maior sucesso. Maycon o seguiu, e assim que entrei, o publico explodiu cantando com Bê.

Como todo fim de show, joguei minhas baquetas destruídas para o publico e me retirei do palco.

Senti minha cabeça pesar, e enquanto os outros escolhiam as garotas da vez, para levarem para o hotel, fui tirar minha roupa ensopada de suor. Me troquei e foi o tempo de Karen, nossa produtora passar para nos levar em direção á van.

Um corredor de fãs estava entre nós e nossa saída, os outros passaram com seus sorrisinhos e caminharam direto. Mas não eu. Sempre que eu ainda saia de pé do show, gostava de dar atenção aos fãs.

— Bora Edu! Se você é trouxa de não querer ninguém, não atrapalha a diversão dos parças aqui. – Maycon gritava de dentro da van.

Funguei irritado, entreguei o celular da última garota que me pediu uma selfie, e corri para a van.

Fechei a porta da frente, e nem olhei para trás, só se viam pernas para cima e um som geral de gemidos e garrafas de vidro batendo.

Estava distraído olhando a tela do celular quando quase voei no para-brisa da van.

Ergui a cabeça assustado olhando para o nosso motorista. — Porra Guto! O que foi isso?

Ele gesticulava freneticamente — Aquela maluca se jogou na frente da Van!

Olhei assustado pelo vidro — O que?

Arregalei os olhos vendo a garota agachada na frente da van, abri a porta e corri para ela. — Ei, você está bem? — falei desesperado.

Ela ergueu a cabeça para me encarar e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu já tinha visto muita gente doida nesses anos de estrada, mas se jogando sobre carros em movimento era raridade.

— Acho que torci meu pé. — Ela choramingou esfregando o tornozelo. — Estava distraída com o celular, me desculpe.

Cocei a cabeça. Que droga, não podia deixar ela ali.

— Quer que eu chame um taxi para você ir para casa?

Maycon colocou a cara para fora na janela da Van. — Edu! Caralho quero chegar no hotel logo, a... — ele colocou a cabeça para dentro — Como se chama mesmo? — Ele colocou a cara para fora novamente e riu — A Patty tá impossível, se não voltar logo, vou ter que dar um jeito aqui mesmo.

Revirei os olhos e esperei a resposta dela.

— E-Eu não sou daqui, só vim para o show.

Os outros colocaram suas cabeças para fora e começaram a bater na lateral da Van.

— Tá, vamos, você fica no hotel hoje, e amanhã a gente te leva embora.

Ela sorriu, e me abaixei para pegá-la no colo.

Caminhei com ela até a van.

— EEEEE, olha só quem pegou uma gata! — Maycon gritou me zoando.

Discordantes (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora