Eram quase seis e meia quando cheguei ao aeroporto, deixei meu carro no estacionamento e fui direto para o hangar encontrar o piloto que me levaria para o meu show. Olhei no relógio, eu daria mais dez minutos, se ela não aparecesse, eu iria embora, e já era.
Esperei mais alguns minutos, e quando já me virava para subir no avião, ela gritou atrás de mim, vindo correndo na minha direção. Toda descabelada, de calça jeans rasgada e camiseta preta.
— Edu! – ela falou ofegante. — Ainda bem que consegui chegar. Vamos conversar em outro lugar...
— Entra no avião! – falei irritado, a interrompendo.
— M-Mas... Edu eu não...
— Anda logo, não tenho tempo para ficar aqui te ouvindo, sobe logo, e a gente conversa na viagem.
Ela arregalou os olhos para mim.
Me virei, e comecei a subir, eu sabia que ela viria atrás, então nem me preocupei.
Tomei meu lugar, apertei os cintos e pouco depois ela entrou com cara de desconfiada e se sentou na minha frente.
— Coloque os cintos. – mandei.
Ela olhou para baixo, não parecia em nada com a garota que se jogou sobre a van, e que, cheia de confiança achou que poderia ter algo comigo. Essa na minha frente parecia mais um cãozinho assustado.
Ela colocou os cintos e olhou para mim já com cara de choro.
— Para onde estamos indo? – ela choramingou.
— Rio. – respondi.
— Onde estão os outros? – ela se encolheu na poltrona.
— Já estão lá. Mas você queria me contar uma coisa, não é isso?
Ela assentiu, e o avião começou a taxiar na pista. Fiquei olhando, ela tremia de medo. Quase ri, mas achei melhor ficar na minha.
Assim que o avião decolou ela ficou mais pálida do que já estava. Uma série de brincadeiras indecentes com aves me passou pela cabeça, mas desisti de todas quando percebi que o medo era real.
Me levantei, e peguei uma garrafinha de água para ela.
— Não se preocupe. – eu ri — É sua primeira vez?
Ela assentiu, e pegou a garrafinha tomando um grande gole de água.
Ela assentiu, e voltei para a minha poltrona de frente para ela, me sentei na ponta para ficar mais perto dela. Além de suja, ela estava fedendo. O cabelo castanho estava tão embaraçado que nem parecia mais ser liso.
— O que foi que aconteceu com você? – cerrei os olhos para ela.
Ela tomou mais um gole de água. — Estou fugindo. Edu... Eu não fazia ideia...
— Fugindo de quem?
— Dos caras que me pagaram para ferrar você. Eles não ficaram satisfeitos. Queriam que você fosse preso...
Me recostei na minha poltrona. — Ok, me conta tudo, desde o começo, temos quase uma hora até Rio.
Ela respirou fundo, me olhando tristemente.
— Eles me acharam depois do show em Campinas, me fizeram um monte de perguntas, e me ofereceram dez mil dólares para eu passar uma noite com você. – ela me olhou envergonhada — Me levaram para São Paulo, me colocaram no seu show e armaram o lance da van depois que eu contei que você nunca levava garotas para o hotel. Eu não me joguei, eles me jogaram, eu podia ter morrido.
Fiquei ouvindo atentamente. Não fazia muito sentido, mas também não era tão absurdo assim.
— Esperei você dormir, deixei o cara que me esperava no corredor entrar, te dopamos, ele me ajudou a te colocar na cama. Tirei sua camisa, ele me deixou sozinha, era para eu ter terminado o "trabalho", mas, não consegui. Edu, eu sonho com você há tanto tempo... E não era daquele jeito que eu queria aquilo. E te prejudicar não era o que eu queria... O cara disse que ia fazer umas fotos minhas com você, e até aí eu concordei, mas aí ele voltou para o quarto, me bateu, rasgou minhas roupas e me mandou esperar amanhecer. Passei a noite te olhando, sem tocar em você...
— Eu não entendi, qual era o plano afinal?
— Te ferrar de qualquer maneira. Eles queriam que fosse preso por estupro, e quando descobriram sobre o bilhete que te deixei, eles... – ela suspirou — Agora estão atrás de mim.
— Querem o dinheiro de volta?
Ela baixou a cabeça. — Se fosse só isso, já seria um problema...
— Você não tem mais o dinheiro? — zombei. É claro que não tinha.
— Boa parte dele sim, mas usei uma parte para o tratamento da minha mãe.
— Tratamento? – fiquei chocado.
— Sim, ela está fazendo tratamento contra um câncer de mama metastático. Só queria pagar um bom hospital...
Que droga. Ela não era assim tão ruim como eu imaginava.
— Eles disseram o motivo para todo esse plano?
— Meu inglês não é muito bom, mas...
— Espera. – falei atônito — Eles falavam em inglês? – senti meu corpo estremecer.
Ela assentiu — Sim, por isso iam pagar em dólar...
— Eles viram você entrar no aeroporto? – falei quase sem respirar.
— A-Acho que não... Edu, você...
— Me desculpa garota, mas eu não posso ajudar você. Eu não posso! — Me levantei e fui até a cabine falar com o piloto, tínhamos que mudar o aeroporto de pouso, eles podiam estar esperando lá.
Com a mudança, teríamos mais quinze minutos de voo e eu sabia que um trânsito infernal até o local do show, mas eu não podia arriscar.
— Você sabe quem eles são, não é? – ela me enfrentou.
— Sei. – dei de ombros.
— Então me fala, eles querem o que? Matar você? – ela falou assustada.
Suspirei — Antes fosse isso. – voltei para a poltrona e a encarei — Escuta garota, o melhor que você pode fazer é pegar o que restou do seu dinheiro e fugir, para o mais longe que puder de mim.
— Mas por quê?
— Acredite, você já sabe mais do que deve sobre isso.
Ela se calou, e resolvi fazer o mesmo. O avião pousou no Rio próximo ás oito horas, e entrei no carro que me esperava para levar até o local do show com ela. Outra vez, eu ia ter que carregá-la comigo, pelo menos até voltar para São Paulo.
O carro parou nos fundos da casa noturna, já eram quase dez horas, eu não estava conseguindo raciocinar direito com toda essa revelação, significava que eles estavam tentando do jeito mais difícil primeiro. Mas não demorariam a tentar do fácil, e isso acabaria com alguém morto, como antes.
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Discordantes (Degustação)
RomansaEdu é um músico rico, famoso, bem sucedido que já viajou o mundo com sua Banda. Fechado em sua vida, ele já desistiu de seus sonhos há muito tempo. Se tornou um homem solitário, que vive apenas por um propósito. A segurança e o amor da filha. Po...