one

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Anne

Depois de ter chegado em casa fui até o celeiro dar aula a Jerry, o garoto não sabia nem ler nem escrever antes dos meus "cursos" começarem. Ele dizia que tinha aprendido o inglês apenas para trabalhar, mas tinha o sonho de aprender a ler e escrever no idioma.

Comecei a ensiná-lo quando percebi que o garoto ficava curioso demais quando ia estudar perto dele, e sempre me perguntava oque estava aprendendo. Então conversei com Matthew e ele concordou que podeira dar aulas pra Jerry depois que ele tivesse terminado seu trabalho.

- Bonjuor Jerry! - cumprimentei o garoto que ainda estava terminando de escovar os pelos de um cavalo.

- Bonjour Anne. Comment était la classe? Diana était-elle aussi magnifique que jamais? - ele respondeu algo que demoraria uma vida inteira para eu conseguir traduzir, claramente debochando de mim.

- Bonjuor Jerry! - respondi com a única coisa que sabia falar em francês.

- Sabe que não tem que tentar falar em outra língua comigo né? - tinha um sorriso brincalhão no rosto.

- Sei, mas você não sente falta de falar a língua que aprendeu primeiro? - ele fez uma cara confusa e pensou por alguns minutos.

- Eu acho que uso o francês mais com minha família, então ele nem me faz falta no dia-dia...

- Você fala muito da sua família, eu imagino como ela deve ser...

- Somos muito unidos, cantamos antes de todas as refeições... Meu pai até toca violão.

- Isso parece ser encantador, você tem sorte de ter tido sempre uma família, Jerry. Eu demorei para encontrar a minha, queria ter feito isso antes.

- Eu também. Eu queria ter te encontrado antes, Anne.

Revirei meus olhos.

Jerry podia ser o garoto mais idiota que já conheci, mas ele era muito sensível quando falava da família, e quando lidava com sentimentos em geral se transformava em um verdadeiro gênio em assuntos do coração.

- Jerry, posso te pedir um conselho? por favor não ria de mim... - ele concordou- o que faria se estivesse se apaixonando por alguém que não pode?

Ele não riu ou fez graça, apenas sorriu de uma forma compreensiva.

- Não sei, ninguém nunca gostou de mim desse jeito- o garoto disse um pouco envergonhado- acho que tentaria saber se essa pessoa realmente é mais importante do que aquilo que nos separa antes de tomar uma decisão.

- Como assim? - perguntei- como vou saber oque é mais importante?

- Acho que isso só você pode responder, por que está pensando nisso, está apaixonada Anne?

- Por nada. Eu só gosto de pensar.

Ele riu.

- Okay, chega de papo furado temos muito o que estudar, seu tonto.

{...}

Escrevia minha história para ler depois da aula no clube. Quando senti alguém me cutucar as costas e me virei pra ver quem era.

- É pra você, o Gilbert Blythe quem mandou...

Cole, que estava sentado atrás de mim, deu um sorriso malicioso e me entregou um pedaço de papel dobrado.

Revirei os olhos antes de ler o recado e guardei o papel dentro de um livro qualquer.

- Você vai ir?- Cole me perguntou susurrando.

- Sabe que ler a correspondência dos outros é invasão de privacidade, né?

Ele riu sem mostrar os dentes

- Você deveria ir, quem sabe assim não tem a chance de contar pra ele oque sente... -cantarolou baixinho para que Ruby, que estava do lado dele, não ouvisse.

Senti minhas bochechas queimarem e me culpei profundamente por ter confiado esse segredo a ele.

Letters for YouOnde histórias criam vida. Descubra agora