Já era noite, as estrelas quase não brilhavam por conta da grande iluminação da cidade, eu queria conhecê-la, mas a senhorita Lopez disse que não teríamos tempo, eu fiquei meio desanimado, mas, meu novo amigo, Pidge, me assegurou de que a Garrison era muito melhor do que "essa cidade velha". Palavras dele, não minhas.
Eu não duvidava dele, claro que a Garrison seria incrível, tantos pilotos e engenheiros, informações desconhecidas sobre o vasto universo, como poderia ser ruim?Não poderia, acho que nem Keith Kogane e seu mullet conseguiriam estragar essa experiência.
E eu estava certo, pela primeira vez, assim que pisamos na Garrison, eu não vi o Kogane em lugar nenhum, o que significa que eu vou poder curtir em paz.
Acho que dessa vez, o universo resolveu conspirar a meu favor.
Tínhamos que achar nossos quartos, e eu nem sabia onde ficava a entrada daquele lugar gigante, Pidge foi meu salvador, me levando para o meu quarto, eu dividiria com um estudante da Garrison, o nome dele era Hunk, Pidge dizia que ele era okay... Espero que ele goste de mim.Entrei no quarto, haviam alguns pacotes de lanches diversos espalhados, parecia que meu colega temporário gostava de comer, vi também uma foto no criado mudo, mas decidi não mexer, ele não iria gostar.
Me sentei na segunda cama que tinha ali, pegando a mochila que estava comigo, procurando meu celular, eu precisava falar com mi mamá, certificar que tudo estava bem.
Assim que o encontrei, a primeira coisa que fiz foi mandar uma mensagem para ela, a resposta foi quase imediata, o que me fez rir um pouco, ela se importa tanto, agradeço por isso.
Fiquei conversando com ela por um tempo, até que meu colega de quarto chega, ele era um pouco mais baixo que eu, parecia forte, era gordo e bonito com certeza, não parecia americano.- "Oi, eu sou Hunk, e você deve ser o Lance"
- "Eu mesmo, prazer em conhecê-lo Hunk"
- "Então você veio de Cuba? Como é lá?"Pronto, bastou essa pergunta e eu e ele passamos horas conversando, eu falava de Cuba e ele falava da sua terra natal, Hunk era samoano, e eu achei isso incrível.
Em dado momento da conversa, Hunk disse que estávamos atrasados para as boas vindas que nós, que viemos de Cuba, receberiamos, não sabia que eles eram tão receptivos.Hunk foi na frente, parece que ele ainda tinha que arrumar algumas coisas, enquanto isso eu fiquei perambulando pelos corredores, nem sabia mais onde eu estava.
Bate em alguém, a vida poderia ter sido muito clichê agora e ter feito eu me esbarrar com o Kogane, mas não, ela tinha que ser filha da puta e me fazer bater de frente com Takashi Shirogane.- "Hey garoto, o que está fazendo aqui?"
Ele falou, parecia irritado, claro, eu não devia estar aqui, eu devia estar deitado na cama, ou indo para a cerimônia, ou fazendo qualquer outra coisa, não me batendo com ele pelos corredores.
- "Essa área é restrita, volte agora e eu não terei que mandá-lo de volta"
Assinto freneticamente com a cabeça, saindo dali o mais rápido possível e procurando o auditório.
Não sabia em que porta era a tal cerimônia de boas vindas e, aparentemente, o universo me escolheu dentre 7 fodendos bilhões de pessoas para simplesmente ferrar com minha vida. Assim que encontrei o bendito lugar, abri a porta com muita força e ela bateu, fazendo um barulho alto e chamando a atenção de todos no lugar. Todos direcionaram seus olhos para mim, inclusive os pilotos e alunos da Garrison, fazendo eu me encolher. Veja bem, eu não era baixo, estava longe disso com 1,89 de altura, mas naquela hora eu me senti tão pequeno, tão diminuído, queria apenas sumir, mas isso não funciona fora das animações coloridas da Rose. Respirei fundo e dei alguns passos, me sentando em uma das cadeiras ali, ninguém estava na mesma mesa que eu, puxei meu capuz e abaixei a cabeça. As pessoas que estavan nas mesas vizinhas começaram a rir e a cochichar, poderia até não ser sobre mim, mas eu não conseguia pensar nisso, só me senti mais humilhado.Tentei prestar atenção na apresentação da professora Lopez e do senhor Shirogane, tentei com todas as minhas forças ignorar as as vozes na minha cabeça. Eu sei que sou estúpido e um imbecil, não precisa esfregar na minha cara subconsciente. Queria poder estar na praia agora, um dos únicos lugares que consigo relaxar devidamente. Me sinto tão cansado, mas não consigo relaxar, ouço as vozes dos instrutores da Garrison mas não faço a mínima ideia sobre o que eles estão falando. Eu só queria estar em casa, vir para cá foi um erro, deixar Cuba foi um erro, eu não quero estar aqui, me tirem daqui, por favor, por favor me tirem daqui.
Assim que a apresentação acabou os alunos começaram a se dispersar, alguns conversando com alunos da Garrison, outros, mais corajosos, falando com os instrutores, e nisso eu vi uma brecha, saí do auditório o mais silenciosamente possível e corri, procurando pelo meu quarto.
Novamente, acabei me perdendo, estava no corredor dos quartos, mas não fazia ideia de qual era o meu, tirei a sorte e tentei abrir uma das portas, ela abriu, então assumi que tinha acertado.
Quando entrei, percebi que havia cometido um erro, dentro do quarto estava a pessoa quem eu menos queria ver, Keith Kogane, ainda assim ele parecia... fofo? Segurava um pequeno hipopótamo roxo de pelúcia, e estava somente com uma regata e uma bermuda larga, parecia que nem tinha ido a cerimônia.- "K-Kogane... eu... eu pensei que, me desculpe.. eu"
Vi o espanto em seus olhos se tornar pura raiva, ele logo me empurra para fora de seu quarto.
- "SAIA DAQUI, SEU IDIOTA INÚTIL"
- "F-foi um erro"
- "SUA EXISTÊNCIA É UM ERRO MCCLAIN"Ele fecha a porta, e dessa vez, ela parecia trancada, me afasto tremendo e volto a procurar meu quarto, errando muitas vezes e a porta até finalmente encontrar a certa.
- "Puta merda, puta merda, PUTA MERDA"
Grito, não me importava que ouvissem, eu estava tremendo, as lágrimas começavam a rolar, quentes e grossas, pelo meu rosto, eu era um erro, minha inteira existência era um erro, eu jásabia disso e a agora o universo resolveu confirmar isso para mim.
Me encolhi ainda mais, olhando para uma das paredes do quarto, mas não a enxergava, tudo era um borrão, que aos poucos ia ficando mais escuro, meu peito doía, eu estava hiperventilando, suava tanto que comecei a sentir as roupas colarem ao meu corpo, eu sentia que iria desmaiar, mas eu não ligava, pelo menos eu me afastaria daquele tormento.
Me tirem daqui.
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Blue Boy
FanfictionO garoto azul. O garoto azul cheirava a lágrimas. O garoto azul fracassava. O garoto azul poderia tentar mais. O garoto azul deveria ser como o garoto vermelho. Pois o garoto vermelho, O garoto vermelho cheirava a rosas vermelhas. O garoto vermelho...