Um novo mundo
Era uma grande pedra ornamentada, com alguns atavios desenhados e esculpidos na própria rocha; havia um desenho de uma árvore, com uma grande copa e muitas faias. Ficaram analisando a rocha, vendo se seria parte de um enigma, ao qual deveriam desvendar.
– Seria um enigma? – disse o Menestrel batendo na rocha. O rei, que estava a baixo da carruagem, o puxou.
– Saia já daí! Não vê que nada aqui é normal? – disse ao Menestrel, mas não aos gritos.
– Nós temos que sair daqui! – disse o copeiro em temores. – A voz pode voltar, seja lá quem for! – disse ele.
– Não foi nada sábio entrar nessa floresta! – disse Agarius, duvidoso.
– Assim como não foi sábio gritá-lo! – disse o cocheiro em oposição.
– O que disse? – falou Agarius, o encarando.
– Não deveria tê-lo gritado! Não foi prudente do rei, enfrentá-lo! – disse o cocheiro sem demonstrar nenhuma reverencia ao rei. Os outros só observavam.
– Como ousa! Se estamos aqui, foi por sua culpa! Foi sua culpa sairmos da rota! Deveríamos estar no leste agora e por sua culpa estamos nesse lugar! – disse Agarius em raiva e indignação.
– Não culpabilizem uns aos outros! Houve um propósito para estarem aqui! – ecoou a voz, ao que os assustou novamente. Silenciaram a discussão e tentaram saber de onde ecoava aquela voz.
– Por que me procuram? Eu não estou onde seus olhos possam ver! – disse a voz misteriosa.
– Então a que propósito estamos nesse lugar? – perguntou o soldado, repentinamente.
– Ah! Gosto de você, meu amigo! Poucos têm o que você é! – disse a voz suavemente. – No tempo certo vocês saberão e esse tempo será em todos os “agora” em que vocês estarão! – disse a voz.
Então se fez um grande barulho no lugar e a rocha que estava a sua frente, começou a abrir-se como uma porta, para o lado de dentro. A medida que se abria, lentamente, uma luz irradiante e branca, ia saindo; em fim, abriu-se completamente, o alarido se findou, a luz que vinha da entrada da rocha os forçavam a pôr os braços em defesa dos olhos, de tão penetrante que era, como a luz do sol. Porém, logo suas pupilas foram diminuindo e começaram a se adaptar àquela luz; quando puderam tirar os braços da defesa dos olhos, deslumbraram um corredor de luz, um túnel incandescente, e bem no fundo, ainda pequeno e muito distante, o que parecia ser o fim. Ficaram todos atônitos e apenas olhando, sem movimento algum.
– O que estão esperando? Venham! Venham conhecer minha casa, meus amigos! Seus amigos, a quem procuram, são anfitriões nela e participantes da minha moradia. – disse a voz num tom muito suave e doce. – Não vos demorem, venham de pressa!
Titubearam, a princípio, em entrar no corredor luminoso, mas já não tinham opção; deveriam seguir e ver no que aquela estranha situação os levaria; e ao dizer a voz, que os amigos deles estavam lá dentro, tiveram que encarar, mesmo que fosse apenas como uma busca. Agarius retornou a carruagem e começaram a entrar; quando estavam todos já dentro, a rocha se fechou atrás deles e desapareceu numa outra luz incandescente.
Caminhavam, tentando apalpar as paredes brilhantes; um vento suave e aprazível, vinha do fundo do corredor, parecia estar muito distante; era como se estivessem andando no meio do nada.
– Não sei o que pensar! – disse o cocheiro, abismado.
– O que irá nos acontecer? – disse o copeiro, sem saber o que esperar.
– Ninguém acreditará no que esse Menestrel viu até agora e verá mais a frente! – falou o Menestrel a si mesmo.
– Acreditarão, se o que você ver for o que vermos também! – disse o soldado.
– Mas o que faremos, senhor Agarius, se encontrarmos o prisioneiro lá! – perguntou o Menestrel.
– O traremos de volta e continuaremos nossa jornada! – disse Agarius, ainda convicto.
– E se ele se opor a devolvê-lo? – perguntou o cocheiro ao lado. O rei pensou em responder, mas não sabia de fato, o que aconteceria nessa circunstancia.
– Não esqueçam que ele disse que não há prisioneiros lá dentro! – lembrou o copeiro, em temor.
– Só amigos! – acrescentou o Menestrel. – O que será que ele quis dizer com isso? – perguntou.
– Receio que estivesse certo! Nenhum de vocês me parece muito amigáveis! – disse o rei em um tom de desprezo.
– Idem! – falou o cocheiro ao lado de Agarius e antes que pudessem se opôr numa outra discussão, o vento se intensificou e pararam de falar, outra vez com medo de algo terrível lhes acontecer.
Depois de cerca de meia hora de caminhada pelo corredor, a saída ao fim não parecia nem mais perto, nem mais longe, parecia estático. Eles não entendiam, mas ainda continuavam caminhando.
– Já faz tempo que andamos! Por que não chegamos mais perto da saída? – perguntou o cocheiro, confuso.
– Talvez se você conduzisse mais rápido, já teríamos chegado! – disse o rei carrasco. Mas antes que o cocheiro pudesse responder, outra vez um forte vento os agrediu e pararam.
– Ora! – ouviram a voz misteriosa retornar. – Se não deixarem de serem rudes uns com os outros, nunca sairão daí! – disse a voz.
– O que quer dizer? Tire-nos daqui, estou ficando maluco! – disse Agarius em tom de estresse.
– Quando um de vós agride o outro em palavras, o caminho se alonga mais! – disse a voz suave. – Se quiserem sair de pressa daí, devem falar palavras de bom grado uns para com os outros! Vamos, podemos começar com agradecimentos! – disse.
– Um rei não agradece aos seus servos! – cruzou os braços, emburrado.
– Então passarão a eternidade nesse lugar! Até lá! – a voz falou e silenciou.
Então os outros gritaram. “Não! Não! Volte! Por favor, não queremos passar a eternidade aqui!”, “senhor Agarius, por favor...”, imploravam-no.
– Está certo! Eu posso começar! – disse o Menestrel. – Fill, gostei da sua amizade, muito obrigado por ela! – falou ele e esperavam alguma coisa acontecer; todos ficaram quietos, atônitos.
– Muito bem! – a voz misteriosa falou em saudação. – Começamos bem! – disse ele e o fim do caminho se aproximou um pouco mais; e eles ficaram maravilhados.
– Está bem! É a minha vez! – disse o copeiro. – Eu... Gostei muito da sua voz quando canta; Menestrel, obrigado por ter vindo conosco! – disse Fill.
– Excelente! – disse a voz suavemente. – Agora estamos chegando a algum lugar! – falou e o caminho se encurtou mais até a saída. – Quem será o próximo? – perguntou.
– Serei eu! – disse o soldado. – Bem... a que posso agradecer? Sim! Senhor cocheiro, muito obrigado por ter conduzido o rei com tamanha responsabilidade! – falou ele e o caminho se aproximou ainda mais do fim, e já podiam ver um lugar bonito, com cores brilhantes, como prismas sobre sois.
– Acho que é a minha vez... – disse o cocheiro. – Certo! Senhor cavaleiro, eu te agradeço pela sua proteção, com você nos acompanhando, eu me sinto mais seguro, obrigado! – falou ele e o caminho chegou ao fim, a frente de todos.
– Acho que falta um... – falou a voz. – É a sua vez Agarius! – disse ele. Mas o rei tinha o coração duro e de braços cruzados, se negava.
– Eis o fim do caminho, basta atravessá-lo! – falou ele. Mas quando começaram a andar, não conseguiam alcançar a saída, embora estivesse a sua frente.
– Vamos, você consegue! – disse a voz. Então relutante o rei, tentou emergir a saída, até desistir de tentar, pela exaustão. Com a cabeça baixa e com o orgulho às alturas, tentou agradecer.
– O... Bri... – engasgou. – O... Bri... Ga... Do... – disse com visível dificuldade, como se estivessem com a garganta presa.
– O que disse? Não ouvi muito bem! – falou a voz.
– Obrigado!!! – gritou Agarius.
– Pelo quê? – perguntou a voz novamente. – Vamos lá, por alguma coisa você é grato! – disse a voz. “Vamos, senhor Agarius”, torciam os outros.
– Obrigado! Obrigado soldado, pela... sua lealdade... – disse ele quase agonizante. Então todos aplaudiram e atravessaram a saída, e um novo mundo se abriu para todos.
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Entremundos - O rei e o Prisioneiro
PertualanganUm rei odioso e totalmente intransigente tem que viajar com uma comitiva de plebeus e conduzir um prisioneiro até outra cidade, mas no meio do caminho uma coisa atípica acontece e a partir daí muitos aprendizados começam a acontecer.