Capítulo 2

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Harry entrou na cozinha coçando o olhinho com as costas da mão, com aquela bunda enorme de fralda e os cabelos negros espetando para todos os lados.

Fora a primeira noite desde o halloween que Harry dormira sem um dos tios no quarto, não por ele, veja bem, mas pelos tios que, invés de acordar no meio da noite em um outro quarto para ir acalmar Harry de seus pesadelos, se acomodaram em revesar as noites passadas já no quarto do menino. Eles descobriram depois que fazer a criança dormir no colo e depois o colocar na cama ajudava a diminuir os pesadelos, então o colchão ao lado do berço de Harry já era algo permanente.

Harry ainda achava estranho não ter mais uma escada em casa - logo agora que ele estava aprendendo a subi-la! - e não ter mais os longos cabelos ruivos da mamãe pra enrolar nos dedos gordinhos dele enquanto ela o ninava pra soneca da tarde e nem ter mais os óculos do papai pra arrancar do rosto dele e o fazer rir, mas depois de 6 meses ele já não chorava aleatoriamente por pura saudade.

Moony que acabara de levantar da mesa da cozinha pra pagar a coruja que trouxera o Profeta Diário avistou o menino primeiro.

"Bom dia, meu amor" Ele disse num tom alegre pegando o menino no colo. Sirius levantou um sobrancelha ao ouvir "meu amor", como se só ele respondesse por tal apelido mas avistou Harry logo em seguida e lhe abriu um sorriso. Os únicos sorrisos que os homens davam esses dias eram pro menino.

Remus o colocou na cadeirinha e Sirius levantou pra pegar a mamadeira do bebê pré-pronta. Remus retornou ao seu lugar pra ler o profeta e terminar sua xícara de café, mas logo no final da primeira página ele engasgou.

"Remus, o que houve?"

"Prenderam o Peter!"

"O que?!"

Moony levantou o jornal pro amigo ler também. Logo na primeira página havia uma foto do homem segurando uma placa com um número, que Sirius identificou como sendo a foto que Azkaban tira dos prisioneiros na chegada ao local. A reportagem dizia que os aurores o capturaram num esconderijo achado com uma pista dada por outro comensal da morte em seu julgamento. Pettigrew tinha a marca negra e, no seu julgamento sob o efeito de veritaserum, dissera que entregou os Potters porque era fiel à seu mestre, que trocara de lado logo no início da guerra quando percebera quem realmente o poderia proteger. Ele fora condenado a prisão perpétua.

Sirius já sabia. Ele e Remus tinham deduzido tudo isso meses atrás, quando tempo demais passou e ele não voltara para procurá-los e nem aparecera morto. Os Marotos restantes já o tinham considerado um irmão perdido e a dor da traição dele nunca poderia ser perdoada.

"Mamaera!" Disse Harry batendo as mãozinhas na mesa, trazendo a atenção dos homens de volta a realidade. Eles se olharam por um instante para ter certeza de que ambos estavam bem e não mais afetados pela notícia do que já era esperado, e com um rápido aceno de cabeça voltaram às suas atividades. Remus e Sirius sempre foram íntimos, melhores amigos afinal, mas agora eles conversavam por olhares. A recém estabelecida convivência diária os lembrava dos dias em Hogwarts, quando Remus tinha que sacudir Sirius toda manhã para que ele não perdesse a hora, quando eles tomavam café da manhã juntos, estudavam embaixo das árvores perto do lago e passavam as noites de inverno aconchegados um no outro na frente da lareira do salão comunal de Gryffindor. E isso, apesar da parte de James que faltava, os deixava um pouco mais felizes.

Após o café da manhã, Sirius foi aprontar Harry porque eles precisavam ir ao mercado. Ele trocou a fralda do pequeno e o vestiu bem agasalhado enquanto fazia caretas, arrancando gargalhadas do menino. Quando ele retornou a sala, vestindo sua tradicional jaqueta de couro preta e carregando Harry no colo, Remus estava esperando impaciente na frente da porta, girando as chaves no indicador.

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