Destino

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Como eu já fui encaminhada para a sala de aula, pedi para ir ao banheiro antes. Ela, a secretária, provavelmente pensou que era alguma necessidade, mas não. Era pela minha quase crise de pânico. Estou com um pressentimento horrível. Daqueles que nós pensamos duas vezes antes de qualquer ação.

Assim que abri a porta para sair, a mulher abriu o sorriso mais falso que eu já vira. Ela virou-se em direção ao único e comprido corredor de salas e seguiu, presumindo que eu a estivesse seguindo. O pé-direito desse lugar é muito alto. Talvez seja tradição, ou da onde eu venho, é normal ser pequeno, vai saber.

Chegando ao fim do corredor, onde ficam as duas salas do primeiro colegial, o projeto de secretária bateu na porta e acenou para que a professora viesse recebe-la.

Ela era uma mulher simples. Sem características marcantes. Não aparentava ser inteligente, ou severa; era simplesmente, simples. Acenou-me com a cabeça e virou seu corpo para que eu pudesse passar, mesmo com toda a preparação no banheiro, meu corpo travou. Minhas pernas não se mexiam como meu cérebro ordenava, e quando mais comandos ele mandava, mais suada minha nuca ficava. "Isso não é bom..." Pensamentos positivos, Evelyn!

Parece ironia do destino, mas por incrível que seja, meu rosto encontrou o chão antes mesmo dos meus pés. Graças a anta bípede atras de mim, seu leve 'empurrãozinho de coragem' levou minha dignidade á falência. Depois eu resolveria as contas com ela. Por enquanto tenho que me preocupar em levantar sem ser motivo de risos, mas acho que não deu certo, afinal devo ter ficado tanto tempo deitada, que a professora me ofereceu a mão. Como se eu não fosse capaz de levantar sozinha, o que até pode ser verdade, avaliando bem a situação.

Em pé e pronta para ser ríspida com quer ousar tirar sarro, eu ouço um 'Me desculpe' do ser que me devia minha honra.

Virei-me para a mestra da classe, me apresentei e sua responda foi gentil como coice de mula "Sente-se e não atrapalhe a atenção dos outros com bobagens em seu primeiro dia."

Depois dessa, não tem como meu dia melhorar, mas pelo jeito, meu sexto sentido de mulher não está regulado. Vi aqueles olhos castanhos. O dono dos olhos tinha um cabelo encaracolado preto como o céu da meia-noite, lábios carnudos de uma maneira equilibrada, seu maxilar era bem marcado e forte, tudo em seu rosto de corpo parecia feito sob medida. Sua postura não era relaxada, sentava-se de maneira confortável, mas formal.

Nossos olhares se cruzaram e os músculos de seu pescoço saltaram, seu corpo enrijeceu. Senti um fogo absurdo tomando conta das minhas bochechas e nariz. Desviei de sua encarada olhando para o chão e caminhando para o fundo da sala, para a única cadeira que há. Duas carteiras atrás dele.

As crônicas de EvelynOnde histórias criam vida. Descubra agora