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Taehyung

O ensino médio trouxe mudanças. Se bem que a maior delas não aconteceu no colégio, foi lá em casa.

Minha avó Yui veio morar com a gente, ela passava o dia todo sentada em sua cadeira de balanço olhando para a janela. Mamãe disse que ela ficava assim pois tinha saudades do vovô, isso não era uma coisa que ela fosse falar comigo, na verdade ela nunca falava sobre nada comigo, quer dizer, até Jimin aparecer no jornal da cidade.

- Tae, posso falar com você? - Minha avó me chamou na sala.

- O que foi? - Perguntei estranhando o fato dela dirigir a palavra a mim.

- Sente-se filho - Deu pequenos tapinhas no sofá indicando onde eu deveria me sentar - Fale sobre seu amigo Park Jimin.

- É-er, ele não é bem meu amigo - Acabei por rir.

- E porque não? - Indagou parecendo confusa e curiosa.

- Porque quer saber? - Ela riu me entregando o jornal.

Park Jimin não apareceu no jornal por descobrir a cura da Aids, e sim por ter se recusado a descer de uma cerejeira.

Garoto de 15 anos protesta contra derrubada de árvore.

Era a manchete da primeira página.

[ ... ]

Park Jimin e a bendita cerejeira. Ele se achava o príncipe da Ásia subindo naquele troço. E como se já não bastasse, me chamava pra subir com ele, tinha que me desdobrar para inventar uma desculpa toda vez.

- Tae, sobe aqui - Falava do alto da árvore - É divertido, da pra ver o pôr do sol.

- Não posso, meu pai precisa de ajuda com.. com uma coisa.

Era tudo que eu precisava, subir na árvore com Park Jimin. Eu seria arrastado de volta para a quarta série: " TaeMin sentados na árvore "

Eu preferia comer fígado pelo resto da minha vida.

- Três quarteirões! - Gritava de cima da árvore, como sempre dando a localização exata do ônibus - Dois quarteirões.. Um quarteirão.

- Essa é uma informação valiosa - Comentei com Yoongi aguardando o ônibus escolar no ponto em frente a árvore.

- Eu odeio quando ele faz isso, gosto de achar que tem chance do ônibus não aparecer - Falou subindo no transporte que havia acabado de chegar.

Enquanto Jimin descia do seu "pedestal" não deixei de reparar em seu extravagante converse amarelo.

- Que chamativo - Acabei por pensar alto demais.

- Você acha? Eu acho tão simples - Ele acabou me ouvindo e respondeu.

- Pra quem fazia cosplay de dinossauro realmente isso não é nada - Acho que soei um pouco ofensivo mas ele riu.

- Sempre tive um bom senso estético - Disse me dando uma piscadinha antes de subir no ônibus.

Sim. Ele havia acabado de flertar comigo.

Agora falando sério, bom senso estético? Desde quando? Isso vindo do garoto cuja a casa era piada do bairro? Eles tinham mato crescendo por toda a parte e a pintura estava toda acabada e descascando. Isso deixava o meu pai furioso, pois achava que a casa dos Park enfeiava a rua.

Por mais que o quintal deles irritasse meu pai, nada se comparava a minha irritação de ver Park Jimin na árvore.

Toda manhã tínhamos que aturar o relatório detalhado do tráfego.

Um dia eu e Yoongi caminhávamos para o ponto de ônibus, ele falava algo sobre kpop, quando ouvimos o que parecia ser uma discussão, e como o curioso que é, foi lá de butuca ver o que era.

A cerejeira estava cercada de bombeiros e Jimin estava agarrado na parte de cima nos galhos e tronco.

- Taehyung! - Chamou desesperado - Sobe aqui, todos vocês, eles não vão derrubar com a gente aqui.

- O ônibus chegou - Yoongi me alertou.

Jimin estava apavorado, eles queriam derrubar a árvore dele, eu não conseguia entender porque aquele monte de galhos retorcidos eram tão importantes para ele.

- TaeTae por favor - Pediu com os olhinhos cheios de lágrimas.

Eu senti pena dele, mas não ia perder aula por conta disso.

[ ... ]

- Por que ele não é seu amigo? - Vovó retomou sua pergunta.

- A senhora não conhece Jimin.

- Mas gostaria - Abriu um sorriso terno.

- Por que? - Perguntei tentando encontra um motivo para isso.

- O garoto tem muita coragem, porque não o convida para vir aqui?

- Tem coragem? Eu diria: irreverente, chamativo e completamente teimoso - Citei, dava até para enumerar os defeitos dele.

- É mesmo? - Riu parecendo se divertir com aquilo.

- E ele me persegue desde a quarta série - Complementei.

- Um garoto assim não é vizinho de qualquer um.

- Sorte desse qualquer um.

- Leia isso - Me entregou o jornal - Sem preconceito.

"Garoto local toma posição"

Como se eu precisasse saber alguma coisa a mais sobre Park Jimin.

Não pensei duas vezes antes de jogar o jornal de qualquer maneira na gaveta do meu armário.

Ele não apareceu no ponto de ônibus na manhã seguinte após a árvore ter sido cortada, e nem nos dias que se seguiram. Continuou indo pro colégio mas ficava na dele pensando na morte da bezerra, não dava nem pra perceber que ele estava lá.

Eu disse pra mim mesmo que deveria me alegrar, não era isso que eu queria? Mesmo assim, eu tive pena dele. Pensei em dizer a ele que lamentava, mas depois pensei: Não.

A última coisa que eu precisava era que Park Jimin pensasse que eu sentia falta dele.

Flipped | vminOnde histórias criam vida. Descubra agora