Segundo

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Era o meu fim. Como eu fui tão descuidada. Não fazia ideia de como escapar dessa. Mas não iria morrer sem lutar. Estava com a adrenalina a flor da pele, até que eu percebo quem são os "oficiais".

- Senhora o que está acontecendo aqui?- diz Carlos apertando com as mãos um cassetete que tenho certeza que foi roubado.

- Ah finalmente vocês chegaram. Essa rebelde entrou na minha casa- diz a senhora

- Sim entendo...Mas a senhora o que faz com essa rebelde aqui- diz Rodrigo num tom de descrença

- Eu?! Não! Eu não fiz nada. Veja, eu estava batendo nela - gritou a senhora quase desesperada

-  Uma atitude muito típica dos terroristas, apenas nós batemos nos rebeldes

- Sim senhor é claro

- Só nós dizemos o que é claro. E sabe o que está claro aqui? Que haverá um fuzilamento!

Isso bastou para a mulher cair em prantos implorando para não morrer. Disparo um olhar desaprovador para Rodrigo que percebe que está passando dos limites.

- Sim, mas pode ficar tranquila que não será hoje... nem com a senhora...- diz Carlos já me arrastando em direção a porta

Estavamos saindo da casa quando os dois se viram para a senhora que agora tinha um olhar desconfiado.

- Muito obrigada pela cooperação da senhora em delatar esta insurgente, a guarda imperial agradece.

Finalmente de volta na rua, caminhamos rapidamente para as partes mais pobres e marginalizadas da cidade, onde a guarda não tem mais acesso. Não falamos nada. Mas a minha vontade é de dar uma bronca no Rodrigo.

As ruas estão vazias pois todos esperam um confronto essa noite. Ninguém sabe quando, mas o povo sabe que haverá. Só nós, alguns sem teto e viciados estão nas ruas.

Finalmente, estamos em frente a um sobrado que me parece abandonado, a pintura estava desbotada e as janelas interditadas com tábuas de madeira pregadas. Detesto casas abandonadas.

O Carlos bate na porta executando um código que consiste em bater três vezes, com intervalos de tempo diferentes de uma batida para a outra. Por fim a porta abre, tudo está escuro. A casa está vazia.

- Tcharam!

-Cadê todo mundo- digo bem devagar cada palavra, controlando bem a minha raiva.

Nenhum deles parece se importar com isso. 

- Então... eles não virão- diz Rodrigo, se espreguiçando e caindo em um sofá velho e empoeirado.

Assim que ele cai a poeira sobe, mas ele não parece se importar.
Eu conheço Rodrigo desde sempre e desde sempre sua aparente indiferença ao que acontece me irrita bastante.

Nós crescemos e até hoje vivemos na ladeira do Consolo e desde sempre fomos muito pobres. Nossas mães eram muito amigas e quando faltava comida na casa de uma iam para a casa da outra.

- Como assim "eles não virão"? Por que então você fez aquele código ridículo!?- digo, me virando para Carlos

- Era pra você já ir aprendendo-debocha Rodrigo

- Não é nada disso. A porta tem um sensor de toque. As batidas precisam ser feitas com espaços de tempo específicos para serem aceitas pelo dispositivo interno...

- Blá blá blá vamos ao que interessa Carlos. Temos um trabalho á fazer não é?

- Sim é verdade. Como Aspirantes temos um trabalho de suma importância para que os planos dos Revolucionários tenha êxito hoje. Nós precisaremos atordoar as bases da Guarda e dos Militares que ficam em volta da capital.

Por um segundo pude notar uma expressão de medo no rosto de Rodrigo, que ele escondeu com uma suposta empolgação.

- Agora sim! Finalmente teremos um trabalho grande em campo.

Por um momento hesitei. Aquilo não me empolgava. Atordoar? O que isso significava? Alguém ia se machucar?

Mas a minha hesitação passou com a lembrança das crianças feridas, correndo do bombardeio na ladeira da Súplica.

Eles mataram uma parte de nós, e nós iriamos vingar o nosso sangue.

 

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