Sexto

4 1 0
                                    

Estar na pele de um morto sem estar morto é desconfortável. Como ainda corre sangue pelas minha veias sinto perfeitamente a dor quando meu corpo se choca contra o chão. Seguro um grito.

Por um segundo me imaginei debaixo de um cobertor, com minha mãe na cama finalmente dormindo sem seus ataques. Com o meu estômago cheio, ou pelo menos cheio o suficiente para eu dormir sem ouvi-lo roncar.

Estamos no subsolo mas mesmo aqui consigo ouvir o som da batalha nos andares acima. Temos que ser rápidos, mais rápidos do que é possível.

Repito novamente o plano em voz baixa. Repasso em minha mente todos os horários. Relembro das etapas para acionar as bombas. Como um mantra a ser repetido Por dias fiz isso. Ouço tiros nos andares de cima. Certamente todos foram enviados para lá.

Finalmente parecemos chegar no destino. A luz invade meu rosto. Quando o homem abre o zíper do saco me sinto exposta novamente.

- Não sei porque escolheram alguém tão pequeno

Não respondi porque estava olhando para a sala. Era muito ampla e haviam muitas colunas grossas. As paredes pareciam revestidas de metal, mas apenas em algumas parte. Havia também partes de vidro, mas logo notei que era um vidro blindado.

- Que lugar é esse?

- É o alicerce do prédio principal- enquanto falava mexia na bolsa e tirava os explosivos

- Não

- O que disse?

- Eu disse que não. Porque isso aqui é com certeza mais do que o alicerce. Estavam construindo algo aqui

- É claro . E você com certeza é formada em engenharia- disse colocando um dos explosivos em minhas mãos

- Não precisa ser formado em engenharia para notar isso

- Gosto de vocês, novatos. Vocês tem uma mente brilhante.

Cada etapa de preparação dos explosivos foi fácil. Era como montar um quebra cabeça, daqueles que já montamos várias e várias vezes. Já estava decorado. Era quase prazeroso para mim.

- Aca...bei

Vi a porta se fechar, mas foi rápido.
Corri e coloquei a mão na maçaneta tentando pateticamente abri- lá novamente. Ele estava calmo do lado de fora, mexendo na bolsa tirou uma arma, depois olhou para mim através da porta de vidro e fez um gesto de negativo com o dedo. Pude ouvir sua voz abafada.

- Fique e garanta que todos os explosivos irão detonar. Seu sacrifício será lembrado. Todos saberão de sua bravura. A única salvação é a revolução. - e deu dois socos bem fortes no peito

Não repeti o sinal. Uma coisa é saber que há uma grande chance de você morrer. Outra bem diferente é isso já ter sido decidido sem seu consentimento.

- Abre essa merda - mas ele só virou as costas para mim subiu as escadas e foi embora desaparecendo com a única chance de eu rever qualquer ser humano novamente.

Por um momento fiquei simplesmente perplexa. Depois um terror me invadiu. Sempre soube que sair dali viva seria privilégio. Mas morrer daquele jeito?Esperando? Existe algo pior do que esperar pela sua morte? Mil coisas passaram pela minha cabeça. Primeiro xinguei aquele homem o máximo que o tempo me permitia . Depois olhei o relógio. 23:15. Quinze minutos para minha morte.

Primeiro olhei para aquela porta. Tinha um teclado digital. Sensores reconheciam a aproximação da minha mão que acendiam um teclado com um espaço para 4 dígitos. Muitas combinações para tentar.

Comecei a pensar na possibilidade de haver alguma saída alternativa. Andei analisando cada detalhe daquela sala. O vidro, as paredes de metal, um metal muito denso. Passei as mãos pela estrutura. Eram lisas dava até gosto passar a mão naquela parede. Foi quando senti o que parecia ser um risco naquela lisura perfeita.

- Um defeito- olhei bem para aquele risco sutil, quase imperceptível, formava uma forma quadrada- Não. Isso parece... Um botão

Pressionei rapidamente e logo virei empolgada. Nada. Um botão que não faz nada? Não pode ser. Corri minhas mãos pela parede numa busca desesperada por qualquer outro botão. Haviam mais um nas outras três parede da sala. Quando cliquei o que parecia ser o último senti toda a esperança se esvair de mim. Encostei na parede e me deixei cair. Foi quando notei o quanto estava frio ali.

Talvez fosse melhor morrer. Não havia mesmo perspectivas melhores para mim. A pílula. Peguei o pequeno comprimido na mão. Era vermelho e pequeno.

- Parece tentador tomar você agora

Foi quando um barulho estranho chamou minha atenção. O chão na minha frente parecia se abrir. De imediato não assimilei aquilo. Levanto rápido espantada com o que acontece. Do chão também de metal sobe o que parece uma grade mesa também metálica com uma grande estrutura. As paredes também mudam revelando painéis iluminados. Toda sala parece se transformar num grande cetro de pesquisa diante dos meus olhos.

Haviam muitas máquinas que nuca vi. Algumas câmaras de isolamento, instrumentos científicos, materiais metálicos entre outras coisas impossíveis de descrever para mim. Mas nada me chamou mais a atenção do que aquilo.

- Oh meu Deus. Que loucura- dentro de uma grande caixa de estrutura transparente havia algo tão luminoso que ofuscava qualquer coisas ao redor. Aproximei o meu rosto muito perto fascinada pelo brilho.- Ele me segue- para qualquer lado que eu fosse aquele pequeno objeto brilhante me seguia

Volto a realidade com um barulho no outro extremo da sala. Dois homens da guarda tentam abrir a porta. Estão olhando para mim e eu olho para eles meu rosto iluminado pela luz incrivelmente vermelha que irradia daquela caixa. A partir daí foi tudo muito rápido. Não sei porque, mas parecia fazer muito sentido para mim no momento , bater com toda força o extintor contra o vidro daquela caixa.

- Hei garota! Está louca isso vai nos matar.- ouvi mas já era tarde. Assim que o vidro se quebrou aquele objeto avançou em minha direção. Senti como se um inseto parasita estivesse cravando suas patas bem no meu pescoço.

Eu não sei, mas acho que se aqueles caras eram espertos foram logo embora, porque o que aconteceu depois não deve ter sido muito legal de se assistir.


















Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 04, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Revolução ArdenteOnde histórias criam vida. Descubra agora