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Acordei no dia seguinte com meu celular tocando, o som estridente preenchendo todo o apartamento. Atendi ainda desnorteado pelo sono, sem ver o visor, me arrependendo no instante seguinte.

— Me diz que você não ficou com ela — Luís tagarelou do outro lado.

— Hm.

— Ah, você ficou — falou com pesar como se eu tivesse cometido o maior crime da face da terra.

— Qual o problema?

— Catarina Kiev é o problema.

— Me ligou para dar sermão ou tem algo a mais?

Ele bufou do outro lado. Parecia-me drama demais. O que poderia ter de errado com Catarina? Aparentemente ela gostava de apostas e não se envolvia com ninguém, e eu estava ciente disso. Como também estava ciente de seu sorriso encantador e de como era beijá-la: bom. Bom demais, a propósito.

— Churrasco hoje na casa da Carla, algumas pessoas da revista vão estar lá, algumas amigas dela...

— Você está parecendo um cupido bem chato e insistente. O que eu tenho que fazer para você entender que eu não quero ninguém?

— Sair de casa.

— Já saí ontem com você, obrigado.

— Mais vezes, vamos lá... Nada de se aprisionar aí dentro de novo.

É, com certeza meus pais tinham algo a ver com aquela insistência em me tirar de casa.

— Às vezes não acredito que somos da mesma família.

— Nossos pais são gêmeos, não teria como.

— Talvez você tenha sido adotado — ele forçou uma risada irônica do outro lado.

— Se arruma logo, passo em meia hora — disse Luís e desligou.

Esse amor fraterno que a gente não diz que se ama, mas daria um rim um pelo outro é bom demais. Sempre muito saudável. E trinta e cinco minutos depois ele estava buzinando na minha rua.

— Então estamos indo na casa da sua não-namorada? — Enfatizei a última parte para irritá-lo, assim que entrei no carro.

— É por isso que nunca conto sobre quem saio para você.

— É porque nunca dura mais que um mês. Mas agora eu tô sentindo que vai ser diferente, Lulu.

Ele revirou os olhos e limitou-me a contar que a ainda-não-namorada dele, Carla, era modelo e sempre posava para a revista LISA. Se ela era modelo, podia conhecer Catarina, que também era, e a ideia de vê-la novamente fez meu estômago se revirar. Eu poderia tentar repetir a dose de ontem (que curiosamente, essa opção rondava minha mente), conhecê-la melhor, pegar de vez seu número. Pensar nela fazia alguns dos meus outros problemas se aquietarem – eu sequer estava pensando que no dia seguinte iniciaria um plantão de doze horas seguidas que podia se estender até vinte e quatro.

Luís estacionou o carro sedan em frente a um condomínio de prédios, ele saiu do automóvel e eu o segui.

— Meus pais falaram com você para ficar tão em cima de mim nesta semana, não foi? — Perguntei antes de entrarmos na portaria. Meses atrás eu não colocava o pé para fora de casa a não ser para o trabalho. Não via ninguém também... era eu e a boa e velha solidão.

— Talvez, mas eu gosto de te ver andando por aí.

Passamos pela portaria após informar nossos nomes e nos dirigimos para a área gourmet do condomínio, onde ficava a área de churrasqueira e piscina. Uma música ambiente tocava e algumas pessoas já conversavam animadamente. Um dos amigos de Luís estava cuidando das carnes na grelha e fomos até lá primeiro. De onde eu estava podia ver algumas outras pessoas conversando ao redor da piscina. Uma delas em especial me chamou a atenção: cabelos ruivos e tempestuosos, rindo de algo com sua amiga loira, a mesma do jantar de ontem.

Idas e vindas de amor - O Encontro (Livro I) [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora