Eu soube o quão perdido estava quando Catarina Kiev desceu do táxi no sábado à noite em frente ao meu prédio, minutos antes do jantar começar — antes que haja qualquer julgamento, ela não me deixou buscá-la em sua casa, inventando qualquer desculpa para que eu não soubesse seu endereço... Mas isso pouco importava naquele momento, porque, caramba, a mulher estava linda e meus pensamentos pareceram querer focar apenas nisso.
Catarina sorriu ao me ver e caminhou lentamente (ou foi o que pareceu) em minha direção, assim que saiu do táxi. Não deixei de acompanhar cada detalhe. Eu estava usando um dos meus ternos mais caros, mas nem isso podia ser comparado a ela. Nina usava um vestido vermelho até os pés, com mangas largas nos braços e justo na cintura. Uma parte de sua clavícula estava a mostra, exibindo um colar dourado fino e delicado, quase imperceptível. Quando ela andava, uma fenda lateral revelava sua perna, indo dos joelhos até o chão.
Cada detalhe parecia realçar ainda mais a beleza da ruiva. O cabelo estava preso em um coque desfiado e os lábios rosados brilhavam, chamando mais minha atenção do que deveriam. Ela transpirava segurança e poder a cada passo.
— Desculpe o atraso — foi a primeira coisa que ela disse assim que chegou em minha frente.
— Atraso justificável — respondi não me contendo, olhando-a de cima a baixo mais uma vez. — Você está...
— Vai ficar parado aí me encarando ou vamos logo para esse jantar?
— Linda — falei ao mesmo tempo que ela.
— Você também caprichou — ela ajeitou a lapela do meu smoking em um ato ousado. — Vamos?
Era isso. Talvez meu primo estivesse certo em relação aos meus sentimentos por ela. Catarina era confiante e colocava todos os "pingos nos 'is'", e eu gostava disso. Ela estar deslumbrante em minha frente, também não estava me ajudando. Tive forças só para acenar e concordar.
— É sempre cavalheiro? — perguntou, quando abri a porta do Sedan para ela entrar.
— Na maior parte do tempo — tentei um meio sorriso que ela acompanhou.
A viagem até o baile foi silenciosa, apenas com a música calma entre nós, bem diferente do batuque desenfreado que estava dentro de mim ao admitir que: sim, Catarina mexia de alguma forma comigo. Eu estava levando a mulher em um jantar importante, isso não estava, definitivamente, nos planos quando nos conhecemos.
Catarina voltou a falar quando estávamos próximos da entrada do salão, onde aconteceria o jantar, em um bairro nobre de Campinas. Preparei-me para estacionar o sedan.
— O que estamos fazendo? — Sua voz soou inquieta.
— Indo para o baile...
— Não... digo nós, o que nós estamos fazendo?
— Não entendo, Nina...
Ela respirou fundo e apontou para nós dois e para a entrada do evento.
— Sabe que isso não significa nada, não é? — Ela parecia ter lido meus pensamentos de minutos antes.
— Sei — suspirei apertando o volante com as mãos. Eu não entendia de onde vinha minha frustração. Eu não queria nada, não era? Então por que queria que ela gostasse de mim mais do que deveria? Eu estava quebrado, ela também parecia assim... Deveríamos ser apenas duas pessoas passando um tempo juntas, não? O problema talvez fosse: eu estava começando a querê-la.
— Ótimo — respondeu descendo do carro.
Desci em seguida, entreguei a chave do carro ao manobrista e estendi o braço para que Catarina enganchasse. O salão era enorme e estava decorado com os mais belos e caros itens. Janelas iam quase até o teto de ambos os lados enfeitadas com cortinas vermelhas. Mesas redondas com cadeiras brancas ocupavam as extremidades do salão, cada qual com pratos, taças, talheres e guardanapos de luxo. Música clássica tocava em som ambiente vindo de uma orquestra na frente do salão, do lado oposto da entrada.
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Idas e vindas de amor - O Encontro (Livro I) [Degustação]
RomansaHenrique é um neurocirurgião bem-sucedido na cidade de Campinas. Catarina, uma modelo e colunista de moda que chama a atenção por onde passa. Um não tem nada a ver com o outro... ao menos é o que pensam até saberem que ambos passaram pelo luto, reag...