Vale do Café, 8 de março de 1910.
Luccino sabia que em algum momento, as coisas iriam desandar. O frio na barriga constante devido à felicidade que estava começando a se acostumar diariamente depois dele e Otávio finalmente se entenderem e darem passos à frente em seu relacionamento foram o suficiente para que o italiano se sentisse nas nuvens. Ainda que no Vale do Café houvesse uma constante tensão sobre a recente prisão de Xavier, e a situação mediada após Brandão ter sido considerado inocente e voltado ao quartel, Luccino, como o bom otimista que era, queria acreditar que o incomodo em seu coração era apenas um sentimento de precaução.
Mas o pior estava acontecendo, e hoje, no dia em que Luccino prometeu a si mesmo ser um dia que proporcionaria um sorriso largo no rosto da pessoa que era responsável pelos seus sorrisos mais bobos e apaixonados...
Só que agora, o terror que sentia ao ver a arma apontada para ele e Otávio nos fundos da oficina, era o infeliz contraste de que a felicidade deles acabou por ser passageira e dolorosa.
- Virgílio, deixe disso! Seja o que for que você tenha escutado, não vale a pena fazer o que você pensa em fazer. – Luccino tentava se manter calmo, mas seus olhos estavam fixos no movimento da mão do primogênito da família Pricelli em direção à ele, segurando uma arma. Não conseguia olhar para Otávio ao seu lado, pois sabia que poderia encontrar o mesmo pânico refletido nos olhos que aprendera a amar tão facilmente e tão intensamente.
-Quem você pensa que é pra dizer o que eu penso em fazer, Luccino? Acha que com essa conversa, tentando ser o miglior fratello, vai mudar alguma coisa? Depois de tudo? Sempre sendo o filho querido, o mais cuidado, o mais amado não é? – Virgílio despejava o seu sarcasmo, sem tirar os olhos dos rapazes à sua frente, o seu rosto transformando-se em uma expressão enojada. – Mas é claro que tinha que haver algo pra destruir essa ideia infeliz dos nossos pais de que você é um bom moço! Será que o seu Gaetano sabe que o seu filho mais novo anda se esfregando com outro homem, que para todo o Vale, deveria ser um exemplo de homem? Quando na verdade não passa de um...
Otávio deu um passo à frente, mas Luccino o segurou pelo pulso antes que o Major desse o primeiro passo.
-Meça as suas palavras, Virgílio. O que eu faço ou não na minha vida não desrespeita à você ou à ninguém! – O mais novo dos Pricelli sentia as batidas do seu coração se descompassarem, mas não iria temer agora, não quando ele e Otávio passaram por tantas inseguranças, medos e obstáculos perante aos outros para viverem o amor deles, ainda que as escondidas. Porque as pessoas não poderiam compreender? O que há de tão errado que os incomodavam? Os flashs da noite anterior ainda o assombravam, mas não tanto quanto a arma apontada à eles.
-Virgílio, se você tem algum respeito ou amor ao seu irmão, ou à sua própria família, abaixe essa arma e considere fugir o mais rápido o que puder, para que não descubram o que você está pensando em fazer. Poupe a vida do seu irmão, você não está pensando no que está fazendo. – Otávio o mirava com seriedade, sentindo o calor de Luccino ao seu lado, mas o major sentia suas mãos frias, e sabia que não estava preparado para ver o pior acontecer, não estava preparado em perder mais alguém que amava, sua família.
A família que escolhera para amar, pra toda a vida.
Otávio sentiu as lagrimas subirem aos olhos, engolindo em seco quando sentiu os dedos de Luccino enroscarem aos seus, apertando-os, transmitindo tanto, com aquele um pequeno toque, mas que significava tanto para ambos. De uma forma que o Major não sabia, aquilo o acalmou brevemente, queria ser corajoso, queria lutar, lutar por ele mesmo, e por Luccino. Por eles.
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Por toda vida
FanfictionInfelizes despedidas, Inesperados reencontros. Avisos: Cena implícita ao suicídio, portanto se isto o mobiliza, não leia!