Vere Amicizie

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Randolfo tirou os olhos compenetrados no notebook que estava em cima do balcão de mármore da ilha da cozinha ao ouvir o ruído da chave girar a fechadura da porta do pequeno apartamento.

-Eu realmente comecei a ficar preocupado com essa demora pra ir buscar comida no... – Ele parou de falar ao reparar de fato no melhor amigo que passara pela cozinha e fora direto para a sala, jogando-se no sofá, fechando os olhos e suspirando, parecendo esgotado. Imediatamente fechou o arquivo que analisava e andou até o outro homem e sentou-se ao seu lado.

-Otávio... Aconteceu alguma coisa? – Randolfo podia contar nos dedos das mãos em quantas vezes ele viu o amigo daquele jeito, tão desnorteado com a expressão perdida olhando para o teto.

-Aconteceu. Na verdade, eu quase bati o seu carro. – Otávio sussurrou, parecendo lembrar do motivo que o levara a esbarrar no estranho em que não conseguia parar de pensar sobre desde quando o levou à casa da família Benedito. Tirou o molho de chaves do bolso e os colocou na palma da mão de um embasbacado Randolfo.

- Eu sabia que você não deveria ter saído com o carro, mas você é o mais cabeça dura de nós dois. – Randolfo balançou a cabeça pensando por um momento no estado do seu Jeep, mas voltou-se novamente ao homem ao seu lado, que parecia encarar o teto como se o próprio lhe respondesse as maiores incógnitas do planeta. – Quer me explicar o que houve? Você está bem?

Otávio finalmente pareceu sair de seu próprio estupor e virou-se para encara-lo.

-Randolfo, você acredita em coincidências? Ou destino? Ou... –Ele deu de ombros, parecendo não conseguir explicar o que de fato, pensava. – Você já teve uma sensação, como um... dejavu?

Quando ele viu o rosto de Randolfo abrir em um sorriso, ele percebeu o quão idiota estava sendo em perguntar aquelas coisas. Se sentia patético e isso apenas porque tinha conhecido uma pessoa que parecia ter tido o poder de revirar questões pessoais que ele mesmo achara ter guardado à sete chaves, tão escondido que nem ele mesmo se atrevia em pensar sobre isso, em poucas horas. Ele revirou os olhos, levantando-se.

-Esquece, eu vou dormir, amanhã discutimos o cas-

-Não! Espera um pouco. – Randolfo puxou o amigo pelo braço e forçando-o a sentar no sofá novamente. – Me conte do início. E o que aconteceu pra você quase destruir o meu carro.

-Eu saí pra pegar a comida que você tinha encomendado, mas acabei me distraindo e acabei quase batendo em um motociclista na saída da cidade e-

-Espera, você estava tão distraído que estava saindo do Vale? – Randolfo perguntou incrédulo. – Realmente você está precisando de férias da delegacia, meu amigo.

-Esse não é o problema, Randolfo! – Otávio se levantou indignado com o outro e com ele mesmo, confuso por se sentir tão abalado por causa de um quase acidente. – O estranho em que eu quase atropelei é o problema!

Randolfo franziu a testa olhando para o amigo que andava de um lado para o outro na sala de estar, gesticulando aparentemente nervoso.

- E porque o estranho é o problema? Ele ficou bem? Vocês se machucaram? Algum prejuízo na moto dele ou no meu carro?

-Não, Randolfo. – Otávio respondeu, exaltando-se e disparando sem perceber na expressão surpresa do outro sentado à sua frente. – Eu só não consigo tira-lo da minha cabeça desde o momento que eu o vi, eu não consigo tirar essa ideia estupida da cabeça de que eu já o conheço, o que me faz parecer um esquisito com uma cantada barata e eu-

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