Luccino não sabia ao certo quanto tempo ficou ali, sentado junto à Otávio, quietos, assistindo o pôr do sol chegar aos poucos, já que sua mente estava tão distante, levando-o a pensar inevitavelmente em sua vida com sua família há anos atrás. Ele sabe que teve suas razões de sair de casa e procurar seguir seu coração, e seus ideais tão bem guardados, por conta do que vivera quando era mais jovem, mas a saudade também era algo que sentia tão forte quanto a angústia e mágoa sentidas ao deixar as lembranças do passado o avassalarem.
Suspirando, com a cabeça recostada no ombro de Otávio, levantou os olhos o olhando de soslaio, sendo pego de surpresa ao notar que estava sendo observado por ele.
-O que foi?
-Nada, eu só... Estava pensando no que poderia ter deixado você assim, tão quieto. – E angustiado também, Otávio pensou consigo mesmo. Preocupou-se de imediato ao chegar na oficina e ver Luccino com a cabeça entre as mãos, os ombros tensos, tão distraído a ponto de não notar sua chegada. Pôde entender depois de breves segundos abraçados, que aquele abraço era um procura de conforto, de apoio e ele se viu prontificado a dar ao italiano o máximo que poderia.
Pricelli abriu a boca para tentar explicar, mas fechou-a pensando se era certo compartilhar algo tão pessoal para alguém que... Luccino começava a ter mais certeza de que Otávio era uma regra a exceção de não confiar um desconhecido. E ele sabe, assim como suspeitava que Otávio também saberia, que ambos já saíram do patamar de estranhos, dessa forma, a proposta de dividir algo com ele não era desafiador ou impensável, mas, acolhedor, certo, confiável.
-Eu entendo se você não quiser, não é da minha cont-
Luccino levantou a cabeça do ombro do outro homem, rapidamente, tentando cortar aquela linha de pensamento de Otávio.
-Não! Não é isso, é só que eu não abri esse lado da minha vida pra muitas pessoas, entende? Talvez, Mariana teria sido a única a saber.
Otávio acenou a cabeça, pronto para mudar de assunto ou se despedir.
-E agora, você.
Luccino deu um pequeno sorriso ao ver a expressão de Otávio se abrir, surpreso pelo voto de confiança recebido. Olhou em volta da oficina, e teve uma ideia repentina.
A surpresa de Otávio passou a se tornar confusão ao vê-lo guardar a moto de Brandão junto à sua e de Mariana.
-Acho que podemos conversar sobre isso em outro lugar, enquanto pelo menos tomamos alguma coisa. O dia já está mesmo terminando, o que acha de um café, na casa de Mariana?
-Eu não sei... Não terá problema?
O italiano revirou os olhos, rindo e puxando Otávio pela mão em direção a saída da oficina.
-Você nem parece o mesmo Otávio que me puxou em direção de um campo de trigos de uma propriedade privada. Vamos lá!
Nenhum dos dois comentaram nada a respeito do abraço demorado, e nem do contato de suas mãos até naquele momento. Depois de minutos terem se passado enquanto falavam sobre o festival, e quão trabalhoso seria deixar as motos em perfeito estado para a corrida em poucos dias, Luccino finalmente começou a pensar sobre os reais motivos de ter vindo para o Brasil, os compartilhando com Otávio, enquanto sentavam-se com suas canecas cheias de café nos degraus da casa dos Benedito, enquanto observavam o sol sumir entre as nuvens do céu do Vale do Café.
-Eu e a minha família sempre fomos muito próximos, mesmo com todos os problemas acontecendo. – Luccino iniciou, com os olhos distantes em algum ponto do céu, ao mesmo tempo que sentia o olhar de Otávio sobre ele. – Tentávamos ser uma família unida, ainda que... Eu e meus irmãos discutíssemos com o nosso pai. Tudo o que podíamos fazer ao nosso alcance para ajudar com as coisas em casa, era pouco, insuficiente pra ele, até e isso foi apenas um dos motivos por eu decidir sair de casa e procurar fazer o que eu realmente queria.
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Por toda vida
FanfictionInfelizes despedidas, Inesperados reencontros. Avisos: Cena implícita ao suicídio, portanto se isto o mobiliza, não leia!