La chiave essenziale

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O sorriso aberto de Otávio denunciava a felicidade que sentia.

- Essa felicidade toda é apenas por me ver, ou tem algum outro motivo? – Mariko perguntou, sorrindo ao ser puxada por Randolfo em um abraço caloroso.

-Posso dizer por mim mesmo que é por vê-la minha amiga, já com o Tatá eu não posso dizer o mesmo... – O policial delatou, achando graça dos olhos revirados do melhor amigo por um breve segundo.

-E pelo o que mais seria, Randolfo? Às vezes você tem cada ideia.

Mariko olhou para os dois homens ao seu lado e balançou a cabeça, suspirando ao sentir a saudade se firmar por causa daqueles dois. 7 meses distante de seus amigos, mas a harmonia entre eles era a mesma, nem o tempo e nem a distância era capaz de destruir aquela bolha de conforto e alegria entre eles. 

-Bem, eu espero saber se há outro motivo pra deixar o Otávio com esse brilho nos olhos. – Mariko deu de ombros, tentando ser indiferente ao andar pelo apartamento colocando a mala no sofá da sala. – E espero que também tenha algo pra comer, e tenho certeza o senhor Mastronelli poderia agradar sua amiga que veio de tão longe só para vê-lo.

Ao ouvir Otávio rir, Randolfo sorriu, se sentindo mais relaxado ao estar na companhia dos amigos, diferente de alguns minutos atrás, onde estava preocupado e alarmado pela ausência do melhor amigo. Observou os dois caminharem até a cozinha retrucando leves farpas, tão costumeiras quanto há 10 anos atrás, quando se conheceram na época de colégio.

Depois de quase uma hora, os três adultos repousavam sobre a cama de casal de Otávio, largados entre pés, braços e mãos sobre os outros e os estômagos satisfeitos pela fome recém saciada, o clima confortável compartilhado entre eles. Otávio fechou os olhos contemplando por alguns minutos o dia cheio de surpresas que teve, jamais imaginando naquele início de manhã que repousava no batente de sua janela que viveria tanto em apenas um dia. De repente, um sentimento de gratidão o assolou por estar rodeado de amigos, poucos aos olhos dos outros, mas que para si era o suficiente para fazer-lhe bem, quase completo.

E desconfiava que a gratidão que sentia, também foi por causa de uma tarde em campo de trigos com uma pessoa aleatória. Otávio deixou-se voltar nos momentos que sentira a brisa quente daquele início de tarde em seu corpo, a textura dos trigos sobre suas mãos e ouvir um som de uma gargalhada quase imperiosa sobre o silencio que a paz do lugar o trazia durante aquelas poucas horas, e que por tempo tão raso, o policial secretamente admitira pra si mesmo ter sido um dos melhores momentos que já vivera até então.

-Não pode ser.

Otávio abriu os olhos, voltando a sua atenção à Mariko, que naquele instante, estava deitada em forma horizontal, parcialmente nele próprio e em Randolfo, a cabeça pousada em seu estomago e boa parte de seu corpo estendida sobre o outro amigo que abriu um sorriso lento e divertido ao notar o tom malicioso da japonesa. O sorriso da mesma parecia evidente na penumbra do quarto, iluminado apenas pela luz da luminária no canto do pequeno quarto.

-Não pode ser o que?

- Não pode ser que a minha chegada repentina seja o único motivo de te deixar com essa expressão suave no seu rosto.

Otávio se contorceu sob os olhos questionadores de Mariko buscando alguma desculpa ou qualquer outro assunto, mas ao abrir a boca, não sentiu nada concreto sair dela, dando-se por vencido pelo silencio.

-Otávio Mastronelli sem palavras? Sem rebater comigo? Randolfo, você estava certo, tem algo realmente acontecendo.

-Nem mesmo quando eu me atrapalho na delegacia, ele fica com essa expressão. E isso porque eu sou alvo dos sarros dele quase constantemente quando o próprio não está enfurnado no trabalho. – Randolfo comentou, apertando os pés de Mariko em uma massagem que a própria mulher sentira tanta falta, mas não apenas disso, mas de tudo, dos amigos, da companhia fácil, e da troca entre eles.

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