Distante no horizonte, o sol nascia trazendo mais um dia prometido aos habitantes do Vale do Café. Os primeiros raios caiam ainda tímidos pela cidade, mas Otávio observava que seria um dia bonito, ensolarado, ao contrário da tempestade que alguns moradores acreditavam que estava por vir na pequena cidade. Deixou os raios tocarem seu rosto, sentado na beirada da janela do seu quarto, abraçando suas pernas com a cabeça apoiada nos joelhos, ainda pensando sobre o dia de ontem, naquele momento, mais calmo e pensando mais racionalmente.
Depois de revirar tantas vezes na cama, as suas suspeitas foram confirmadas. Sabia que não conseguiria pregar o olho a noite, e assim, para não se sentir mais impotente, preferira pegar os arquivos do caso que estavam investigando e começara a estudar e criar novas hipóteses, ansioso para compartilha-las com Randolfo e Brandão.
Alguns minutos se passaram, onde neles, Otávio se deixou fechar os olhos, descansando no parapeito da janela, tirando um leve cochilo, até escutar umas batidas suaves na porta do quarto.
-Pode entrar Randolfo. – Levantara os olhos ainda um pouco vermelhos mostrando o quão a sua noite não fora produtiva no mundo dos sonhos, mas os papeis espalhados pela cama diziam que houve uma produtividade no trabalho. Randolfo entrou com uma caneca de café preto, parando para olhar a bagunça que estava em cima da cama do melhor amigo.
-Eu ia perguntar se você conseguiu pregar os olhos em algum momento, mas acho que a minha pergunta foi respondida. – Ele entregou a caneca para um Otávio que esfregava os olhos com esperança de afastar qualquer resquício de sono. – Bom dia meu amigo.
-Bom dia Randolfo. Conseguiu dormir bem? – Otávio deu um gole na bebida, sentindo-se mais acordado quase de forma instantânea. Olhou o outro que sentava-se junto à ele, com as costas apoiadas do outro lado da janela, bocejando como um gato preguiçoso.
-Sim, como uma pedra.
-É tão fácil imaginar você dormindo enquanto o caos está acontecendo ao redor, então eu realmente acredito que quase nada é capaz de te acordar. – Otávio respondeu sorrindo, enquanto o outro revirava os olhos, chutando o seu pé. – Exceto, uma coisa. Na verdade, um alguém... uma Benedito.
O rosto de Randolfo abriu-se imediatamente em uma expressão sonhadora.
-Lídia... Estou ansioso para a próxima semana e poder vê-la novamente. – Suspirou, soltando uma risada baixa.
- O que? – Otávio arqueou a sobrancelha.
- Pelo menos com Lídia e a família Benedito distante, eu consegui um pouco de paz sobre todos os preparativos do casamento.
-Eu e você, afinal, se você está angustiado por ter Dona Ofélia te perseguindo pela cidade inteira no horário de trabalho, você acaba me perseguindo pra reclamar do cansaço de resolver detalhes matrimoniais.
-É verdade. – Randolfo riu lembrando de alguns momentos de desespero em que passara horas com Lídia e os seus pais falando sobre detalhes da cerimonia e da festa. Até que lembrou de ontem à noite e resolver tocar no assunto novamente. – E você? Pretende se casar um dia?
Otávio bufou, tomando o ultimo gole de café.
- Acho que depois da tentativa infeliz que tive de quase subir ao altar com Lídia, eu já tive o suficiente da palavra casamento, Randolfo. Foi um estresse para todos, inclusive pra mim, você e Lídia. Você sabe.
Randolfo sabe. E como sabe. Considera-se sortudo por conseguir casar com a mulher no qual sempre era alvo dos seus olhares e suspiros mais bobos, mais apaixonados. Lídia era amiga de ambos há anos, e Dona Ofélia sabendo disso, resolveu que já era mais do que a hora de sua filha mais caçula casar-se, afinal, pensava que os encontros quase diários que Lídia dizia ter no apartamento deles, era por causa de Otávio.

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Por toda vida
FanfictionInfelizes despedidas, Inesperados reencontros. Avisos: Cena implícita ao suicídio, portanto se isto o mobiliza, não leia!