CAPÍTULO 7

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Talvez estivesse ocupado com alguma coisa de trabalho, ou talvez problemas com o chefe ou então porque não quis vir. Revirei os olhos, isso era simplesmente ridículo... O que eu estava pensando da vida? O que eu realmente estava querendo com esse cara? Algo que eu provavelmente nunca poderia ter? Mas sim, era algo que com certeza eu queria ter. Só que tem uma diferença muito grande entre o querer e o poder, me entenderam né!?

Fiz careta assim que mandei garganta abaixo aquela dose de pinga, sim, isso mesmo, pinga! Arregalei os olhos quando terminei de engolir, era simplesmente horrível!!! Como dão conta de beber isso?

Voltei a olhar em meu mini celular, esses que são apenas para uma urgência e claro que poderia ser usado se tivesse créditos. E não, não havia nenhuma ligação e eu também não ia ligar. Vocês estão me conhecendo agora... mas uma coisa eu posso garantir, sou muito, muito orgulhosa.

- Guarde o celular se não quer que seja confiscado. - Judith disse - e essa dose será descontada de seu salário. - me olhou por cima daqueles óculos de grau. Bruxa. Olhei para os lados enquanto deixava o celular em baixo do balcão, Rebeca me olhava com uma cara cínica e um sorriso sujo nos lábios. Vaca. Eu ainda pego você.

Três horas depois. Fim de expediente.

- Esse é o seu Bianca, esse o seu Goret, Rebeca - ela se aproximou e pegou a grana, olhou e sorriu satisfeita - e, Dulce Maria! - voltou a me olhar por cima dos óculos de grau, isso estava me irritando. Aproximei dela e peguei meu bolo de dinheiro.

- Quê!? - disse frustrada com o olhar em direção a Judith - aqui tem menos do que eu tenho que receber, bem menos. - ela apenas me olhou com uma cara debochada.

- A princesinha não recebeu o que esperava foi?

- Cala a boca. - virei - me para Rebeca que ria com prazer.

- Ei, ei... Sem escândalos! E vão, vão... vão todas para a casa já, hoje eu estou exausta. - respirou fundo e encostou-se na cadeira. Me recusei a sair daquela sala minúscula. Bianca e Goret sem dizer um ah saíram, já Rebeca antes de atravessar a porta tentou levar a mão em meu cabelo e eu logo afastei minha cabeça para que não tocasse se quer em uma fiapo. Saiu rindo de minha cara.

- Judith... - eu disse assim que a porta se fechou.

- Dulce, eu estou cansada! Por favor, garota.

- Judith eu preciso do dinheiro!! Eu trabalhei muito esse mês... eu preciso mandar dinheiro a Paloma.

- Trabalhou!? - arqueou a sobrancelha

- Trabalhei!! - disse ainda mais convicta

- É verdade, eu vi, mas também vi o quanto você anda distraída, de cara amarrada. Está esperando o príncipe encantado querida? Sinto muito, mas isso não existe.

- O que? Príncipe encantado? - ri sarcástica - da onde tirou isso?

- E ainda é abusada!! - também riu como eu - aqui eu sei de tudo Dulce, sei de tudo que acontece dentro do meu bar.

- Mas não tem nada acontecendo dentro do seu bar! A não ser trabalho.

- Claro, e aqui eu não admito que trabalhem de cara emburrada ou até mesmo que cheguem atrasada! Nunca tivéssemos esse tipo de problema Dulce.

- Foram poucas as vezes que cheguei atrasada e sempre fiquei tempo a mais para redimir isso. - ela suspirou e relaxou mais na cadeira

- Que seja! Enfim, seu salário é esse e não temos mais o que conversar. - por alguns segundos continuei a olhá-la de forma incrédula e sem dizer nada mais passei a pisar duro no chão enquanto saia de sua sala, peguei meu casaco e minhas coisas que estavam sobre o sofá de espera e fui embora. Não era possível que isso estava acontecendo comigo, não era possível.

Ajeitei a gola de meu sobretudo para tampar aquele vento gelado e coloquei as mãos dentro do bolso, mais um dia congelante em Nova York.

Continuei a caminhar e caminhar, como sempre a passos largos e precisos.

Eu tinha que mandar dinheiro para Paloma, pagar o aluguel do apartamento, água, luz e não sabia se quer de onde eu tiraria esse dinheiro. Com o salário que Judith me pagou não daria nem para a metade de tudo isso.

Mais um dia, mais uma noite e nada dele. Depois de um banho bem quente, relaxei no sofá para colocar meu pensamento em ordem, minha vida em ordem, ou pelo menos tentar isso. Fechei os olhos para descansar, estava sem sono, nervosa, angustiada. Meu celular apitou, era uma mensagem... mais que de pressa levantei e o peguei. "Me desculpe, tive um contra tempo! Boa noite, Christopher." Relaxei os ombros, ao menos sabia que não viria. Talvez estivesse se divertindo com outra pessoa. Outra mulher.

Para Dulce, pare de se iludir com algo que nunca poderá ter.

Joguei o celular no sofá e caminhei até o quarto, me joguei na cama, puxei minha coberta e abracei o travesseiro. Bufei e rolei meu corpo, descansei o anti braço na testa e fiquei olhando o teto até que quando dei por mim a claridade que vinha da janela batia em meu rosto, havia pegado no sono e nem tinha percebido... era minha folga e merecia dormir mais um pouco, estava tão pouco interessada em saber que horas era, que se dane. Virei para o outro lado, puxei ainda mais a coberta para mim e dormi.

Por volta das 15 horas resolvi correr no parque próximo a minha casa... não tão próximo assim, dava cerca de uns 7 km, já era um tempo de exercício bom e até lá já havia fumado dois cigarros, certamente a ansiedade estava me consumindo aos poucos.

Depois que suei bastante, uma quantidade bem considerável devido ao frio que fazia parei em um telefone público e liguei para minha irmã, precisava ouvir sua voz.

- Ei. - sorri - tudo bem?

- Dul! - do lado de cá pude perceber que ela também havia sorrido. - tudo e com você? - não, não está.

- Tudo ótimo. - menti - e então, como estão as coisas por ai?

- Legal, o vestibular está chegando então estou dando o máximo de mim. Louca para o feriado e poder ver você. - suspirei

- Paloma - calei, ela também - eu não vou conseguir mandar dinheiro para você venha e acredite, estou morrendo de saudades sua.

- Está tudo ok, não se preocupe Dul, as férias também não vão demorar! E eu também estou morrendo de saudades sua. - novamente percebi que ela havia sorrido, Paloma era tudo para mim, era compreensiva comigo e minha melhor e única amiga. Mato e morro por essa menina.

Conversamos mais um pouco, tratei de acalma -lá em relação a prova, minha irmã sempre prestava o vestibular para testar seus conhecimentos e juro que por pouco não passava, era uma menina esforçada, inteligente de verdade e tenho certeza de que quando for a época de entrar para faculdade ela passará de primeira.

Voltei para casa e tomei um banho demorado, sequei meus cabelos em seguida e também dei um jeito de ler um de meus livros, mas, não demorou para que eu me pegasse no mundo da lua, pensando nele, pensando nesse homem que tanto me tirava do foco. Novamente meu celular apitou, descruzei as pernas rapidamente e o peguei. Droga.

"Lety está doente, preciso que venha trabalhar."

Era tudo, tudo o que estava me faltando para me tirar de minha paz. 

ATÉ O LIMITE (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora