CAPÍTULO 23

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Quando você se torna mãe, nada mais é o mesmo. As preocupações triplicam, o tempo é curto, o sossego é outro e tudo gira em volta dos filhos. Primeiro eles e depois você. Acho que é isso... desde que Benício nasceu isso foi a primeira coisa que aprendi quando me tornei mãe. E não tem receita para isso, ainda aprendo muito com eles... dia após dia.

Ucker e eu tínhamos sim nossos momentos a sós, nossas viagens sozinhos, nossos passeios. Mas não era direto... nem mesmo na empresa nos víamos com frequência ou almoçávamos juntos. Até mesmo em suas viagens a trabalho eu não ia, era muito difícil isso acontecer. Gostávamos de matar a saudade depois de um tempo longe e isso nos fazia bem, vão por mim, eu acho que cada um precisa do seu espaço, da sua individualidade.

Meu marido estava encostado no balcão da pia, com uma das mãos no bolso e a outra segurando um jornal.

- Quanta baboseira. Não dá pra acreditar o quanto a sociedade se preocupa com a vida de um casal. – sorriu, calmo. Parei em sua frente, ele me olhou e mesmo que não falasse nada meus olhos demonstravam minha aflição, todo ano era assim. Ele estendeu sua mão e acariciou meu rosto. – está tudo bem, eu me sinto ótimo.

- Eu sei. – logo o abracei – é que isso sempre me causa angústia. – voltei a olha-lo. Ele me deu um belo sorriso e em seguida uniu seus lábios aos meus, em um selinho demorado.

- Papai, e o meu skate? – Benício adentrou a cozinha junto a Clarinha. Os olhamos.

- O que é skate? Também quero. – Clara disse.

- Skate é legal. – Paloma falou, quando também chegou. Bateu sua mão a mão de Benício e em seguida na de Clara. Era assim o cumprimento dos três todas as manhãs ou quando se viam pelo primeira vez ao dia.

- Boa, tia Paloma. Pai!! – voltou-se para Ucker outra vez – você prometeu.

- Prometi, é? - Benício assentiu. – Hm, não me lembro. – me olhou divertido. Benício olha para cima, relaxando os ombros.

- Esse assunto pode ficar pra depois, não é? Agora vocês tem que ir para o colégio. – eu disse.

- No final de semana? – ele perguntou.

- Pode ser, filhão. – Ucker disse, em seguida lhe dando um beijo na cabeça – certo, princesa? – fez o mesmo com Clara e ela assentiu.

- Paloma, você leva as crianças? – perguntei, já entregando a chave do meu carro – Christopher e eu temos um compromisso agora.

- Claro.

- Não esqueçam de olhar se não estão deixando nada pra trás.

- Tá bom, mamãe. – falaram juntos. Dei um beijo em cada um e em seguida na minha irmã.

- Amo vocês.

Sempre que Ucker ia a uma consulta meu coração ficava na mão. Uma vez ao ano ele fazia uma bateria de exames e apresentava ao médico. O vi respirar fundo uma, duas, três vezes. Estava preste a roer minhas unhas, enquanto ele se mantinha sereno. O médico suspirou e foi até sua mesa.

- Christopher a sua saúde está de ferro. Talvez se comparar a um jovem de 20 anos, posso lhe dizer que você está melhor. – Ucker sorriu e colocou sua camiseta – não há nada com o que se preocupar. – nos olhou de cara boa e estendeu os exames de volta para nós.

- Eu não disse. – me olhou e sussurrou. Sorri, aliviada.

Em uma noite de sexta, estávamos em um evento social. Com roupa social e sinceramente? Fingindo gostar de tudo aquilo. Lembram-se daquele coquetel em Dubai? Pois bem, era mais ou menos parecido com aquele... durante todo esse tempo fui em muitos para acompanhar Ucker, sejam eles a trabalho quando inauguram um hotel, por exemplo, ou quando éramos convidados por outras empresas para prestigiar. O que, no fim das contas isso sempre virava uma festa de negócios. No fundo era só isso mesmo.

ATÉ O LIMITE (Vondy)Onde histórias criam vida. Descubra agora