Estava quase sem fôlego quando entrei no parque. Olhei ao redor e não vi o tal do Oliver. Depois de mais de dez minutos andando entre árvores, grama, mães com carrinhos de bebês, crianças que pareciam que tinham ficado trancadas em casa durante um mês, correndo de forma desesperada, eis que eu o vejo sentado em um banco. As mãos apoiadas na cabeça. Uma postura de derrota.
Quase senti pena dele. Não o suficiente para tentar ser simpática.
— Sua videoconferência é com os pombos do parque? — perguntei debochada, me sentando ao seu lado no banco de concreto. Ele me olhou assustado, reparei que seus olhos estavam vermelhos. Fiquei na dúvida se ele havia chorado ou se era um desses advogados que precisavam de substâncias ilegais para se sentir mais motivado pra ganhar casos no tribunal.
— Você é a garota que acha que sou obrigado a te receber sem hora marcada? Acha que vou aceitar o caso de alguém que resolveu me perseguir? — perguntou ele.
— Eu não tô te perseguindo — respondi na defensiva.
— Escuta, estou com problemas pessoais, trabalho mais de 12 horas por dia. Será que você teria a consideração de me deixar sozinho ao menos alguns minutos? — disse ele, com a voz embargada.
— Te deixarei sozinho quanto tempo precisar, mas preciso que ao menos escute meu caso. Tô sem advogado e isso está me deixando maluca, não consigo nem dormir. Desculpe se interferi no seu dia. Mas será que não vê que tô desesperada?
— Eu te conheço de algum lugar? — perguntou ele, com olhar especulativo.
— Não sou tão difícil de esquecer, não com essa cicatriz no meu rosto. Você me viu em um café ontem, quando conversava com um casal estranho.
— E o que você quer de mim? Em que se meteu?
— Eu tô sendo acusada de quebrar a câmera de uma garota e bater nela, algo bem absurdo.
— Mas você a agrediu?
— Não vejo como agressão, diria que foi autodefesa.
— Ela tentou te agredir?
— Bem, não de forma nítida, mas acredito que essa era a intenção dela. — Ele respirou fundo, como eu já o havia visto fazer.
— Pra que fazer tanta questão de conversar comigo, sendo que essa não é minha área de atuação? Quem foi que me indicou a você?
— Ninguém! Quer dizer...
— Sou especialista em direito empresarial. Hoje o perfil do trabalho do meu escritório é mais consultivo e preventivo. Identifico problemas em potencial e proponho soluções para garantir o bom andamento dos procedimentos empresariais.
— Mas não pode mudar de área nem apenas por um minuto? Abrir uma exceção? Você disse ao casal do outro dia que ia pensar sobre o caso deles e que também fugia um pouco do seu segmento.
— Mas o caso deles ainda envolve empresa. Já o seu, não.
— Me recuso a aceitar um não! Não percebe que tô à beira de um colapso? — disse, fazendo uma careta que deve tê-lo assustado, pois recuou um pouco.
— Não posso fazer nada por você, sinto muito.
— Tem alguém para me indicar? Um advogado muito bom? O melhor, que você conhece?
— Até tenho um amigo, o problema é que ele é mais ocupado do que eu. Ele trabalha com casos mais badalados.
— Mas o meu caso é bem badalado, pro lado negativo da palavra.
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Degustação - A youtuber
RomanceCompleto na Amazon. O conceituado advogado Oliver tinha tudo o que queria, uma carreira de sucesso e a mulher dos sonhos, porém, com as guinadas da vida, agora vivia em função da irmã adolescente, que precisava de sua ajuda. Até o dia que o destino...