capítulo 10

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AS CARTAS QUE EU NUNCA TE ENTREGUEI

São quase duas da manhã e eu estou naquele sofá velho que você tanto gostava fazendo mais um texto para você. Tenho comigo uma xícara de café que já esfriou e algumas lembranças que não me deixam te esquecer. A insônia tem sido uma amiga desde que você foi embora. E eu estou aqui tentando pela milésima vez te escrever uma carta ou algo que faça com que você volte. 

Talvez eu devesse ter te enviado mais cartas ou aparecido na sua casa durante a madrugada. Você adorava quando eu tocava a campainha e aparecia de surpresa. Lembra? Você vinha sorrindo e aquele sorriso permanecia até eu ir embora. Eu nunca te disse, mas era tão bom te ter por perto. Até mesmo quando a gente brigava, eu batia a porta do seu apartamento com força e ia embora sem mais nem menos. Eu gastava contigo tudo o que havia aprendido naquele cursinho de teatro barato. Eu queria ser atriz, você sabe. Talvez eu ainda queira.

E você? O que quer? Você ainda pensa em ser músico e toma café todos os dias naquela padaria? É que faz tanto tempo, né? Não tenho mais como saber. Eu só posso perceber como as coisas estão diferentes agora. Você de um lado e eu de outro. E eu penso, em madrugadas frias como estas, em todas as coisas que ficaram para serem ditas. Eu nunca te falei o quanto eu gostava de te ouvir cantar. Você decorava as minhas músicas favoritas só para me deixar feliz, mesmo que não gostasse tanto assim delas. Mas você gostava de mim. E isso já era motivo suficiente para você para decorá-las.

Eu nunca te disse também o quanto eu gostava de te ter na minha vida. E, para falar a verdade, acho que só percebi isso no momento em que você foi embora. Só percebi o quanto o seu abraço era bom depois de perdê-lo. Sinto muito por nunca ter dito o que você queria ou merecia ouvir. Não era culpa sua. Era minha. Ainda é. Eu sei que você esperava bem mais de mim. Você esperava que eu te pedisse para ficar quando se levantou e bateu a porta da minha casa. Aquela cena era tão minha, e não sua. Quem dava show ali era eu, você sabe. Talvez seja por isso que não entendi naquele momento o que você ter ido embora daquela forma significaria. Eu só assisti àquilo apática e deixei a gente acabar como se a nossa relação não fosse algo importante.

Eu não fiz nada quando você foi embora. Eu sei que eu deveria ter me levantado e pedido para você não ir. Deveria ter te dito o quanto acreditava na gente e no quanto eu queria que aquilo desse certo. Eu poderia ter te falado que todos aqueles textos que você encontrava espalhados no meu quarto eram para você sim. Eu sempre negava e eu nem sei o porquê. Eu deveria ter te enviado as cartas que te escrevi, mas eu não fiz isso. Talvez eu te envie esta daqui.

Eu devia ter dito que a melhor parte da minha semana era quanto eu te encontrava. Eu devia ter te falado tanta coisa, mas eu não consegui. Acho que eu tive medo ou algo parecido. E deixa eu te contar outra coisa? Eu nem sei exatamente em que momento eu te perdi. Algo me diz que não foi quando você foi embora. Algo me diz que foi bem antes. Não sei onde te perdi. Se eu soubesse, tentaria te encontrar. Mas a única coisa que encontro por aqui é um sentimento de culpa, que me lembra a todo momento que eu deveria ter feito algo por nós.

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Carolina Monsi - Escrevo o que você sente !Onde histórias criam vida. Descubra agora