A Concessiva

6. A dublagem?

Bianca

Eu dormi muito pouco e com o Tonho babando a minha cara fui obrigada a pular da cama e acabei voltando à biblioteca sem a presença de Toni para verificar as fotos e o livro.

— Vovó. — sussurrei sentindo angústia e revolta com as imagens de sua caminhonete com a frente toda destroçada por uma árvore de tronco frondoso.

Kroos sempre tinha de ser intrometido e provavelmente fora ele quem colocara uma tarja sobre o rosto de Gretel para que eu não visse a sua expressão pós morte. E de certo modo fiquei grata por isso, pois apenas ver parte das imagens era arrasador.

O corpo estava imprensado contra o volante e as anotações de um legista confirmaram o que eu já sabia. O impacto fora tão rápido e forte que ela não tivera tempo de sofrer muito com o fim.

Tudo ali parecia de fato uma fatalidade, mas alguém o fizera parecer dessa forma.

'' Preciso ir até a cena do crime pessoalmente. '' — pensei ao devolver as fotos ao envelope e voltei a minha concentração ao diário de anotações.

Nele existiam os nomes de dezenas de seres e demônios com as descrições de estrago que cada um deles poderia fazer, mas apenas um nome entre todos despertou o meu interesse de imediato.

— Nachzehrer. — li o nome em voz alta.

A explicação sobre ele dizia que era uma criatura morta viva que consumia as essências de vidas de pessoas moribundas ou até das saudáveis. E tinha a força de cem homens e existia por ser um amaldiçoado que voltou dos mortos depois de incendiar uma aldeia na Romênia.

'' Minha nossa! Essa cidade está mesmo repleta de coisas nojentas. '' — segui lendo as informações.

E elas explicavam que ele tinha o dom de criar monstros a partir do DNA de outras criaturas das linhas, mas que por regras da concessiva estava confinado a tocar apenas em pessoas já mortas para sugar o que sobrara de suas energias corporais, pois se ultrapassasse os limites seria destruído de vez ao invés de continuar sendo apenas mais um encarcerado.

— Preciso ter uma palavrinha com esse cidadão. — lembrei daqueles Licanspectros que estavam rondando a montanha e ficou quase óbvio que poderiam ter alguma relação com ele.

'' Talvez eu tenha de incomodar o Toni sobre isso também. '' — pensei deixando as anotações de lado para verificar o celular de minha avó. E apenas um número em suas chamadas estava sem identificação, porém ao contatá-lo recebi a mensagem de que ele não existia mais.

— Eu ultimamente vivo para quebrar a minha cabe... — um roteiro foi atirado na mesa e olhei para cima para encarar Caroline.

— Também não dormiu? — disse segurando mais partes do roteiro.

— Eu perdi o sono por causa dos últimos acontecimentos e quis usar o tempo para investigar todas essas pendências.

— Eu fiz o roteiro para cada uma de vocês e quero que me ajudem hoje com as leituras dele no estúdio. Preciso do meu chá. É exaustivo fazer modificações na tradução de livros. — resmungou.

— Vou acompanhá-la nisso. — assenti pegando o roteiro que recebi antes de segui-la.

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Marcelle

O corredor estava completamente esfumaçado, mas eu podia ver inúmeras portas vermelhas e ouvir batidas vindas de trás delas. Porém somente a maior delas prendeu a minha atenção porque eu já a tinha visto antes e sabia que o que tinha atrás dela não era algo bom.