Não pode ser

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Porque a madrinha me causa isso, eu fico meio desconcertada, ela me provoca coisas...quando eu fui crescendo, dizia à minha mãe que sentia algo em relação a Malévola, mais não era amor de sobrinha ou coisa assim...era amor de mulher e ele só cresceu, afinal eu já tenho 19 anos, tive muito tempo para alimentar essa ilusão. Minha mãe dizia ser errado, afinal ela era mais velha em fim. Meu pai era mais "de boa" ele só queria que eu fosse feliz, mas sabe,  é muito difícil ser feliz desse jeito, na vila ou no campo eu nunca vi duas moças ou dois rapazes. Deve ser por receio, afinal a sociedade em que vivo está empacada, mas na real, só sabe quem vive na pele de uma pessoa que tem um sentimento proibido por outra pessoa, no meu caso outra mulher. Nos garotas somos ensinadas a; cozinhar, passar, limpar, ser boa mãe, filha e esposa. Mas eu nunca quis isso...só que nem todos pensam como eu, é muito duro, ouvir que você não pode trabalhar por ser mulher, que não pode viajar só por ser mulher, que não pode ficar solteira, por ser mulher e que você não pode gostar de uma mulher, por ser mulher.  Isso seria uma desonra. Bem vindo ao meu mundo onde dinheiro e classe social valhem mais que uma cabeça cheia de conhecimento. É muito difícil ouvir dos outros que a pessoa que tu gosta é a errada pra ti, simplesmente por ela ter a mesma genital que a tua. Somos criados numa sociedade hetero, por isso há tanta ignorância, se tivéssemos diversidade, talvez não existisse tanto ódio, mas eles preferem simplesmente dizer que é errado...ah Deus. Estou tão cansada disso, se eu amo uma mulher ou um homem, qual a diferença? O importante não é a felicidade, não Aurora e a posição na sociedade, respondo para mim mesma, já ouvi tanto esses discursos. Certa vez minha mãe contou à um amigo que estava de passagem em casa, que eu tinha essas vontades peculiaridades,  como ela mesma dizia. Ele disse a ela para me colocar no convento ou no sanatório, pois eu estava tendo pensamentos do demônio. Eu ri, agora amar é coisa do demônio? Acho que pra algumas pessoas sim...enquanto esse cara; Porfilho, estava em casa, eu o assustava diariamente, era minha única diversão, mas logo ele foi e antes de ir me jogou água benta, eu ri e ele disse que via o demônio resplandecendo em meus olhos...apesar de tudo ele era um homem bom, diferente de outro amigo da família, leoncio, ele era duro e turão, minha mãe contou a ele também,  sobre meus gostos, já que ele teve 3 filhas e 5 esposas, ela acha que ele tem alguma experiência...ele disse que o que me faltava era macho/homem que me colocasse no eixo, eu sinti nojo dele tão perto, acho que se meus pais não estivessem ali, ele faria algo. Cada lembrança dessa me fazia bem e mal, eu lembrava da saudade de meus pais, e lembrava do alívio de não ter mais brigas com minha mãe sobre casamento...eu amo ela, mas sem as brigas desnecessárias está bem melhor. Decido ir ver se a madrinha já acordou, a procuro na caverna que ela dorme as vezes e nada. Fico andando sem destino e meus olhos me traem e fixam apenas num único lugar; o corpo alvo e molhado de Malévola, exposto ao sol ela parecia um anjo, bem asa já tinha, mas com aquele chifre parecia outra coisa...oh meu Deus, que mulher fenomenal. Estou pasma com tamanho beleza, cada curva dela é perfeita, olho bem tudo para gravar cada pequena parte de seu belo corpo, para poder sonhar mais tarde, mesmo sem estar dormindo. Noto que ela  tem uma pequena mancha à cima do seio esquerdo, fiquei curiosa, queria saber o que foi aquilo, mais eu não poderia chegar e falar, como você conseguiu essa mancha no peito? Ela iria se assustar, e saber que eu a espionei, falando nisso, é melhor eu ir embora antes que me veja. Por mais que eu tente não consigo, quero ficar e olhar tudo naquele corpo me atrai, quero beija-ló sem exceções, principalmente naquela manchinha no seio esquerdo. Sinto algo que já venho sentido à muito tempo quando a vejo, e como se fagulhas se formassem e sinto algo sobir por minhas pernas...uma vez perguntei a minha mãe como a gente sabia que gostava de um homem, e ela disse que era assim, quando sentia isso, fiquei imaginando que com mulher deve ser igual. Malévola terminou seu banho, tenho que sair logo, tento correr mais corto meu pé perto da beira do logo, mas mesmo assim vou, Malévola não pode me ver assim.
-Aurora. Seu tom era sério.
-S-sim.
-Você está bem? Fala com a sobrancelha arqueada.
-S-sim, po-porque?
-Você não foi me ver logo cedo, e está gaguejando...
-Eu só não quis encomodar, e quanto a gagueira logo passa.
-Hum. O que é isso em seu pé? Fala assustada
-Na-nada.
-Como nada, está sangrando!
-Er...
-Me dá aqui. Segundos depois o sangue tinha estancado e eu não tinha mais dor.
-Obrigada, madri...Malévola.
-Não precisa agradecer, meu dever é cuidar de você. Eu fico tão boba, quando ela fala isso...
-Já vai? Falo receosa.
-Tenho que procurar Dievo...
-Ah, entendo. Abaixo a cabeça.
-Venha comigo. Ela estende a mão e sinto meu rosto esquentar, acho que estou vermelha, mas mesmo assim pego sua mão e vamos, caminhando lado a lado e todos percebem como estou boba, ela principalmente.
-Porque você está assim?
-Assim como? Eu tô normal.
-Aurora, você está com os dedos na boca.
-Ah, é que...eu tô...eu tô...
-Você tá o quê?
-Tô andando de mãos dadas com você!
-É só por isso? Aurora, todo mundo anda de mãos dadas, se pudesse ver os humanos saberia, irmãos, irmãs, avós e netos, mães e filhos etc...
-Mas você,não é minha mãe!
-Mais você é como uma filha pra mim...aquelas palavras me atingiram em cheio, meu peito se encheu de tristeza, eu sei que ela nunca me prometeu nada ou ao menos sabe do que eu sinto, mas ela pudia ter evitado esse "filha". Larguei sua mão, e não peguei mais, ela achou Dievo e lhe deu a tarefa do dia...o percurso de volta foi num silêncio absoluto, ninguém ousava pisar fora do lugar...
-Aurora, o que você tem?
-Não tenho nada.
-Como nada, estava feliz à 5 minutos atrás!
-Exatamente, estava, no passado.
-Não seja arrogante comigo!
-Não estou fazendo nada!!
-Está sim. Está sendo uma menina arrogante, prepotente e mimada. Essa não é minha Aurora. Eu a olhei assustada, nunca tinha visto ela desse jeito.
-Me desculpe emendou eu não queira me exaltar, mas é que eu me preocupo com você.
-Igual se preocupa com uma filha?
-Ah Aurora, é isso?
-É!
-Foi só uma expressão! Uma EXPRESSÃO!
-Então não gosta de mim como uma filha?
-NÃO!
Então prove.
-Como? Me aproximei e fiquei a centímetros de distância de  seu rosto.
-Me beije!
-Aurora você está louca!
-Sim, estou por você!!! Me beije Malévola.
-Eu não posso.
-Porque?
-Porque não!
-Me ama como uma filha?
-Não!
-Então me ame, como mulher...sigo cada pequeno movimento de seus olhos, e a coragem me toma para beija-lá. A seguro pelo pescoço, ela segura minha cintura de uma forma que me faz arrepiar. Suas mãos oscilam entre meu pescoço e rosto, e eu estou amando tudo isso, o beijo dela é incrível e ela não parecia ter pressa para parar...sinto suas mãos delicadas no único fio que prende meu vestido, e acabo retrocedendo...
-Aurora, isso foi uma loucura!
-Mas você gostou?
-...ela pareceu ter engolido em seco, e só me observava. Ela tenta ir embora, mas a puxo pela mão.
-Não gostou do meu beijo, Malévola? Parecia cabo de guerra, só que em vez de puxar cada um para seu lado, estávamos indo uma em direção a outra, estava a ponto de beija-lá novamente e sinto que ela queria, mas ouvimos um barulho e ela logo vai, e eu fico ali perdida e completamente apaixonada por ela, por aquele beijo, aquele toque...Vou pra casa literalmente flutuando, se o paraíso existe, ele bem se compara aos lábios dela, e eu fiquei assim, nas nuvens até adormecer...

MaléficaOnde histórias criam vida. Descubra agora