Capítulo 2: O Testamento

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  André e Tom subiram até o primeiro andar. André observava as paredes, os quadros estavam mofados, cheios de teias de aranha, e suas cores haviam desaparecido quase que por completo. As portas estavam velhas, a madeira desgastada. Eles caminharam pelos compridos corredores e André pôde ver a si mesmo correndo por eles, em sua infância. Seu avô brincava muito de esconde-esconde com ele. André caminhou até o fim do corredor e dobrou a esquerda, onde só tinha uma porta um pouco mais ornamentada. O quarto de Hustof. Ele abriu a porta lentamente, Tom entrou em seguida.

- Os móveis, as decorações, as roupas, tudo está do mesmo jeito que eu lembrava – André comentou. Ele se aproximou da cama e se sentou.

- O quarto tem um cheiro diferente – Disse Tom.

- É o perfume que ele usava. É importado. O aroma vem de uma erva paradisíaca, no deserto árabe.

- Isso parece mais com o cheiro do pé da minha mãe depois de um dia longo de trabalho. Doce e mortal – Os dois riram.

- É essa impressão que fica na primeira vez. Logo você se acostuma.

  André olhou para a escrivaninha, haviam alguns papéis em cima. Hustof andava escrevendo? E havia também uma pequena caixa, André a abriu com uma medida de força e ao olhar o conteúdo sua expressão ficou fria, triste.

- Cartas. Cartas direcionadas para mim. Mas por que ele nunca mandou? – Ele tirou algumas e as analisou – Essa aqui foi de anos atrás - Os olhos dele queimaram, ele se sentou na cama abraçado à caixa.

- Eu vou dar uma olhada na casa, depois nos falamos – André só conseguiu assentir. Tom se retirou.

- Você sempre gostou de cartas, vovô. Nunca entendi bem na minha infância, mas hoje posso compreender um pouco mais. A tecnologia afasta as pessoas, de certa forma – Ele abriu uma carta aleatória:

  Mal posso acreditar, meu netinho querido alcançou o ensino médio! E foi o primeiro da família a ir para uma escola pública, ousado! Sinto muito orgulho de você, filho. Eu não tenho tido paz por aqui. Os vizinhos têm pedido muito para me ver, parece que não compreendem que um velho precisa de espaço. Mas eu gosto disso, nunca me senti abandonado de verdade. Espero que você possa me visitar essa semana.

  Ele leu o resto da carta, e pegou uma outra, essa era de um ano à frente.

  Meu garoto! Parabéns por ter ganho os jogos de interclasse, seja lá o que isso signifique, é uma vitória, não é? E quem é essa nova amiga, Bárbara? Está gostando dela, não é? Sua definição sobre ela não nega. Ah, na minha época o amor era tão demorado, precisávamos esperar um tempão para conseguir ao menos o primeiro beijo. Nunca gostei de seguir regras, devo admitir. Eu fazia o que vocês fazem hoje, como é mesmo o nome? "Ficava" escondido com uma vizinha, Melissa Soares. As vezes as coisas esquentavam, eu colocava a mão na cintura dela, era uma loucura – André riu e uma lágrima caiu no papel. - Mal posso esperar para você trazer sua namoradinha aqui. Faz muito tempo que não o vejo.

  Ele pegou outra carta, essa foi durante seu terceiro ano.

  Meu netinho querido, recebi sua carta. Parece que hoje você vai se formar. Não poderia estar feliz. O movimento está mais devagar por aqui, não recebo mais tanta visita quanto antes. Acredito que as pessoas estejam muito ocupadas. Afazeres do dia-a-dia, compreendo bem. Pelo que disse aqui na carta, você se saiu bem no ENEM, acredito que entrará em uma boa faculdade. Espero que faça algo relacionado a desenho, você tem grande talento. Bem, eu espero que... você possa me visitar novamente, faz quase um ano que não o vejo, estou com saudades – O coração de André apertou de forma sufocante. – Mas se não puder, tudo bem, você tem um futuro brilhante. Mostre ao mundo o rapaz incrível que você é. Espero que não deixe me atualizar. Te amo, meu querido neto. Beijos do vovô.

A Misteriosa Mansão GermaniOnde histórias criam vida. Descubra agora