Capítulo 7: O Saci Pererê

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  Depois de terem mergulhado no rio tudo ficou branco. Eles não tiveram mais consciência do que estava acontecendo. Negão acordou em um lugar escuro durante uma alvorada. Ele levou um tempo para raciocinar, mas o lugar aonde ele estava era uma cela de escravos. Aos poucos ele foi se indignando, aquela velha o havia enganado?

- Minha cabeça! – Ele pôs as duas mãos apertando forte.

- Silêncio – Um escravo disse. – Quero aproveitar esse pouco tempo que me resta antes de mais um dia.

- Onde estou? – Negão perguntou.

- Ora essa Giú, ocê ficou maluco? – Um outro escravo falou.

- Giú? – Negão olhou para seu corpo. Suas mãos, pernas, roupas, tudo nele estava diferente. – Não... Minha cabeça é que ta queimando – Ele raciocinou rápido para entrar no personagem.

- Aguenta homem – O mesmo escravo disse. – Quando anoitecer procure Matiki. Ele e dona Marisa são muito bons com ervas de cura.

- Obrigado – Negão levou sua mão novamente à cabeça. O que o fez se perguntar: Onde estavam Thays e Kiane?

- Vamos seus nojentos! Acordem parasitas, hora do trabalho! – O capataz da fazenda anunciou.

  Em um estralo de dedos todos os escravos se levantaram, ainda muito cansados, mas prontos para enfrentar o que o dia os reservava. O capataz abriu a cela. Quando Negão saiu pode ver que haviam mais três celas. E duas delas saíram apenas mulheres. Formação aqui na frente, vamos! O capataz gritou. Todos, homens e mulheres, formaram filas laterais, todos olhando para o meio, que era aonde o capataz se encontrava. Do outro lado as mulheres também fizeram o mesmo. Negão procurou, bastante preocupado, até que encarou um rosto na última fileira, e ela o encarava. E depois dos dois se analisarem e fazerem caretas, Negão chegou a uma decisão, era Thays. Eles voltaram a ficar de prontidão por causa do capataz.

- Hoje receberemos a visita do barão e da baronesa Pontes – O capataz continuou. Caminhando e encarando um por um. - Eles pretendem comprar essas terras, então o patrão deu ordens explícitas para castigar em dobro quem não fizer um trabalho, no mínimo, impecável. Se estiverem cansados demais, podem dormir um sono profundo debaixo da terra, porque esse será o único descanso que terão nessas vidas miseráveis! E mais uma coisa...

- Rapaz, hoje ele acordou de mal humor – Um cara começou a falar atrás de Negão. – Tomara que hoje eu cuide da horta. Assim vou poder xeretar o que está acontecendo naquela mansão.

- Não inventa, Matiki. Ocê não é mais como antes, esqueceu? – Um outro escravo falou. O nome Matiki causou na mesma hora arrepios em Negão, onde será que ele ouviu esse nome? – Você ouviu o que ele disse, se continuar com suas travessuras, ele finalmente vai encontrar a desculpa certa para te matar.

- Não consigo entender esse rancor dele – Matiki continuou. – Só porque desafivelei suas calças e todos viram seus pequenos dotes? Ou porque fiz xixi em seu chazinho da tarde? – Ele riu. Negão reparou que sua voz era muito animada, diferente. – Ah se eu tivesse minhas duas pernas ainda.

- Isso é bom para lembrar porque ocê, acima de qualquer um, é o que corre mais risco de morrer hoje. Toma cuidado, não continue sendo tão tapado. A sorte acaba um dia.

- Ei, teremos capoeira mais tarde? Que vontade de cantar e tocar berimbau! – Disse Matiki animado, ignorando os avisos – Olhe, começaram a andar. Hoje ensinarei mais uma lição para esses branquelos, sigam o plano comigo.

  Branquelos. A forma dele falar essa palavra finalmente deu a Negão a memória que precisava. Aquela voz... Negão olhou para o tal de Matiki e sentiu um arrepio na espinha. Era ele. O Saci Pererê. Ele se apoiava em um pedaço de madeira porque não tinha uma das pernas. Francisco não sabia se sentia felicidades ou tristeza em encontra-lo. A única coisa que aconteceu foi ele sendo despertado de seus devaneios através de chicotadas do capataz.

A Misteriosa Mansão GermaniOnde histórias criam vida. Descubra agora