A. N. D. R. O. N. I. A

Mundo Vazio

Um homem loiro de barba, adulto com idade equivalente a uns vinte anos usando uma blusa de capuz cobrindo seu rosto e calça jeans e um tênis, anda atordoado na Times Square em Manhattan com uma aparente tristeza no meio do mar de pessoas na agitada metrópole, chegando no seu limite, ele coloca as mãos na cabeça e grita:

-AAAARHG! Meu Deus, onde eu estou, o que está acontecendo comigo

O rapaz corre desesperado em meio aquela multidão, como se tivesse fugindo de algo que não conseguia mensurar, pensando sobre todo aquele turbilhão confuso em sua mente:

-É como se eu tivesse vendo o mundo de fora, como um expectador... me sinto perdido, a multidão passa mas é como se eu estivesse só.

E a dor... a dor que não passa, cada vez piora mais e mais, é a dor de viver? Tudo vem de uma vez em minha mente numa enxurrada de imagens confusas e sem nexo, de uma vida que não sei se foi minha ou nunca existiu... de pessoas que não sei quem são. Tudo que me resta é confusão e dor.

E um medo de um ontem que talvez nunca tenha existido e de pessoas desconhecidas como fantasmas imaginários me atormentando. Quem são essas pessoas na minha mente? Uma mulher... será minha esposa? A criança será meu filho? Ou talvez não são nem minha família.

Também aparece imagens da Casa Branca, mas o que justamente a Casa Branca tem a ver comigo? Que relação poderia haver entre mim e esse senhor elegante que parece ser alguém com status na sociedade? Ou esse outro, que parece um coronel ou algo do tipo?

Mesmo com essas dúvidas sobre tudo isso ser real ou não, eu sinto uma saudade inexplicável dessa vida que nem sei se é minha, uma sensação estranha de sentir saudades de uma ilusão.

É sempre igual, eu acordo e apenas a dor continua, tudo se torna vazio e sem sentido novamente. A multidão passa sem rumo seguindo suas vidas tão vazias e sem sentido quanto a minha, só uma coisa nos difere, eles tem memórias enquanto eu só tenho o vazio, nada, nenhum sonho que mostrasse uma verdade completa do meu passado. Sobre quem eu sou.

Apenas acordei um dia como se tivesse sido... ligado. Ligado como uma máquina.

Mas tenho que continuar a caminhar, a procurar meu caminho... o que é aquilo no tumulto? Um homem correndo passou por mim como um furacão, ele era semelhante a uma mistura de um soldado com esses jovens punks, a colisão de dois mundos totalmente diferentes. Ele parecia fugir de alguma coisa mas não havia medo em seus olhos, na verdade ele parecia feliz? Sim, uma felicidade estranha... livre.

No meio da multidão de faces vazias, a liberdade leve como o vento expressada no rosto . parecia uma alienígena chegando em um mundo morto. E por um instante representava uma fagulha de esperança para aquele jovem atordoado, de que pudesse conseguir sair da insanidade de sua mente e conquistar também aquela liberdade. Mas também em um instante, a liberdade revela sua forma caótica, literalmente com uma explosão:

Jesus o que foi isso? Uma explosão... acho que fui atingido de leve. Mas essas pessoas... meu Deus quantas pessoas mortas, não consigo acreditar. O vazio definitivo da morte trouxe o fim do vazio superficial da vida delas, o vazio que as corroem por dentro. Isso soa até mesmo algo estranho mas, é como se essas pessoas tivessem sido... libertas?

Enquanto todo esse caos afeta as ruas, no telão da Times Square o repórter David Zukerman, sempre com seus ternos elegantes e seus cabelos bem penteados pra trás, mascarando bem seu lado ardiloso e astuto sempre colocando seus entrevistados contra a parede, entrevista Sara Wright, com seus cabelos longos, pele clara, elegância e determinação, conhecida como uma das mais notáveis e bem reconhecidas mulheres da cidade e atual presidente das empresas A.N.D.R.O.N.I.A, uma gigante de nanotecnologia e próteses mecânicas:

-Estamos ao vivo com a atual presidente do grupo A.N.D.R.O.N.I.A, a belíssima Sarah Wright que vai responder sobre questões envolvendo essa grande corporação na justiça. Boa noite Sra. Wright, eu gostaria de começar lhe perguntando sobre as criticas que sua empresa vem recebendo por uso de tecnologia de implantes e próteses para fins militares, o que acha disso?

-Boa noite Zukerman,o tom negativo dessas acusações é injusto, apesar de sim, termos pesquisas relacionadas ao campo de agencias militares com autorização do governo, também tem que se considerar todo o avanço que nós trazemos para o campo médico que afetam de forma positiva toda a humanidade, desde próteses que é nossa especialidade numero um como aos avanços de recuperação de danos cerebrais e doenças terminais.

-São palavras comoventes Sra. Wright, mas além disso existem diversas acusações contra sua empresa sobre suborno, envolvimento com a máfia e venda de próteses e equipamentos ao mercado negro, muitos dizem que vão direto aos terroristas inimigos de nossa nação. Isso sem mencionar a briga judicial entre você e Thomas Wright, o ultimo herdeiro da família Wright e candidato a presidência dos Estados Unidos da America. Após o incidente no Alaska que causou a morte do seu marido Jack e seu sogro, o grande senador e fundador das empresas A.N.D.R.O.N.I.A, incidente esse que cá entre nós nunca foi muito esclarecido, você e seu cunhado Thomas disputam na justiça o cargo de presidente da empresa. Você é a atual presidente por meio de liminares judiciais, mas dizem que a própria bancada de diretores prefere Thomas pelo sangue Wright e pelo forte apelo público que a imagem de seu irmão Jack tinha, e Thomas sendo considerado favorito a vencer a corrida pra presidência dos EUA visto por alguns como um novo messias da política mundial, seria o nome perfeito para o cargo.

-Lutarei pelo que tenho direito! Sinceramente, esses questionamentos e especulações extrapolam a ética jornalística e não sou obrigada a responder suas questões, agora me da licença que vou me retirar, tenha uma boa tarde Sr. Zukerman!

Assistindo a essa entrevista no meio da rua, algo além da beleza daquela mulher no telão cativou aquele rapaz perturbado. Era como se um sonho ganhasse vida e um pedaço de sua mente ganhasse forma pra todo mundo ver.

-Aquela mulher... eu conheço ela! É a mesma mulher que aparece na minha mente! Eu preciso encontrá-la, ela deve saber algo sobre meu passado, quem eu sou! Mas antes tenho que sair dessa confusão, tudo aqui virou um caos depois da explosão.

Caos. A palavra que define não só Nova York, mas também todo o país. Depois do crack na bolsa de valores em 1945 o país nunca foi o mesmo economicamente, e vem sofrendo mais ainda com ações terroristas de grupos extremistas do próprio país e árabe. O povo busca um salvador, alguém que traga novas esperanças e dias melhores, e é se aproveitando dessa fragilidade que os grupos extremistas ganham força.

O povo busca um salvador alguém que traga novas esperanças dias melhores, e é nesse instante que os grupos extremista ganha mas forças!

Pois eles precisam de um culpado pra esta crise, o capitalismo apresenta os problemas e ao mesmo tempo a solução com seus messias.

A ordem que tenta controlar esse caos se transforma em autoritarismo e repressão na forma de helicópteros e extrema força policial fortemente armados e protegidos pela cidade. Entre eles, um dos policiais se dirige a um superior de cabelo grisalho e uniforme militar como do exercito e fala:

-Senhor, a situação está sob controle, o incêndio foi dominado.

O senhor do exército responde enquanto soldados enfurecidos gritam e praticamente agridem as pessoas na confusão

- Certo, agora deixe conosco, o exército vai resolver tudo por aqui!

O país vive quase que num estado de sítio ou guerra civil, onde o exercito tem cada vez mais força e autoridade beirando a uma ditadura militar disfarçada, e o medo está na rua cada vez mais com ataques terroristas sendo cada vez mais comum.

E no meio de toda essa turbulência, jovem perturbado continua andando sem direção atravessando a ponte George Washington:

-Aquilo na Time foi uma loucura, eu realmente preciso de um lugar seguro pra poder ficar e pensar melhor o que vou fazer, mas nesse mundo caótico como ficar seguro? Ver os policiais agredindo as pessoas pelo caminho está fazendo crescer uma fúria dentro de mim, uma fúria tão grande quanto a confusão em minha mente, eu não entendo de onde ela vem. Hã? O que é aquilo? Aqueles caras parece que estão batendo naquele homem, não vou me conter dessa vez, vou impedir esses malditos!