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Jhonny Morningstar

Após o jantar, Chloe me mandou para o quarto, pois de acordo com ela, já era tarde e também já era hora de criança ir dormir. Nem gastei saliva tentando dizer que não sou criança, pois acho que quando digo essa frase, Chloe entende totalmente o contrário, ou apenas se faz de surda.

Sento em minha cama e olho em volta, com um meio sorriso no rosto.

Quem diria em Jhonny... Você tem um quarto!

Nunca pensei que teria meu próprio quarto algum dia... Meu pai deixou bem claro que eu nunca mais teria. Desde que mamãe morreu, ele não conseguiu mais gostar de mim. Nunca entendi por quê, pois toda vez que eu tocava no assunto "mamãe", ele já ia embora, me batia ou gritava comigo. Nunca entendi porque Lúcifer agia assim, e pelo jeito com que o mesmo me recebeu aqui, nunca irei saber.

No momento não tenho muita certeza de nada... Não sei se vou continuar aqui, não sei se papai vai me apagar da existência ou apenas me mandar de volta para o inferno, não sei se quero continuar aqui, não sei se quero ser um humano ou se até mesmo consigo... Mas de uma coisa eu sei.

Lúcifer não gosta de mim, mas eu o amo, e infelizmente não sei parar de amar. Ele é meu pai né...

E é pensando assim que me deito em minha cama. É surpreendente como estou cansado, nem fiz nada desde que saí do inferno, mas me sinto exausto. Passo alguns minutos assim, olhando para o teto, até que escuto o caminhar de alguém do lado de fora, perto de meu quarto. Mas logo vejo a porta abrir e uma detetive vestida apenas com uma camisola solta entrar sorrindo.

- O que você quer?- Pergunto revirando os olhos.

Não posso ser amigável com quem me bate!

- Vim te dar boa noite baby.- Ela também revira os olhos.- Não fique bravo comigo por ter te castigado, fiz isso para o seu próprio bem. Para que você tenha educação, principalmente comigo que estou cuidando de você.- Explica se aproximando e se senta ao meu lado na beirada da cama.

- Não pedi cuidados, já te disse isso.- Digo com grosseria.

- Não aja assim Jhonny, você está sendo maldoso.- Repreende colocando suas mãos humanas em meus cabelos.

- Nunca disse que era bonzinho...- Digo aproveitando os movimentos suaves que a humana fêmea faz em mim.

- Não precisa dizer baby, você é bom, e sei disso. Não me pergunte como e nem por quê, mas eu sei que você é.- Sinto a mesma me puxar para seu peito e sem pensar muito, aceito me aconchegar ali.

- Isso é bom...- Digo fechando os olhos, sentindo os dedos da detetive acariciar as vezes meu rosto,as vezes meus cabelos.

- Isso o que rapaz?- Pergunta em um tom de dúvida e reabro meus olhos.

- Isso.- Aponto para sua mão que agora está pousada sobre minha testa.

Vejo Decker sorrir, um sorriso sem mostrar os dentes, mas mesmo assim, sei que é um belo de um sorriso.

- Isso se chama carinho Jhonny.- Ela continua a me acariciar.- Nunca fizeram em você?

Ao escutar sua pergunta, tento me lembrar se em alguma vez em minha vida recebi carinho. E a única coisa que me lembro é de minha mãe me pegando no colo.

Faz tanto tempo...

- Minha mãe... ela me dava carinho.- Respondo sentindo um aperto forte em meu peito. Uma sensação nova.

- Como ela era?- Pergunta Chloe com certo interesse na conversa.

- Bom... Ela ficou comigo nos meus dez primeiros anos de experiência.-Explico tentando me lembrar.- Ela era muito boa, não só comigo ou Lúcifer, mas... ela era boa com todos.- Sorrio com o que digo, e essas lembranças fazem meu peito apertar ainda mais.- Ela nunca deixou Lúcifer me bater, por mais que ele quisesse, ele não podia porque mamãe não deixava. As vezes os dois brigavam, mas sempre ficavam bem no final. Quando ela morreu... Lúcifer me culpou por sua morte, me tratava mal por tudo, não me deixava sair, não falava comigo e sempre que podia me dava surras horríveis.- Decker para com o carinho e percebo sua tensão, mas continuo a explicar.- Ele me culpou por não ter cuidado dela, por não ter obedecido as ordens dele de ficar no porão.- Franzo o cenho ao me lembrar do que aconteceu.- No mesmo dia, antes de tudo começar... Alguns anjos enviados por Deus, no caso meu avô, vieram atrás de mim, eles queriam me levar embora, e papai não quis deixar. Na época ele ainda gostava um pouco de mim.- Explico sentindo meus olhos ficarem marejados.- Quando estava no porão junto com mamãe, escutei os gritos de papai, e fugi para ir atrás dele, mamãe não conseguiu me segurar, ela era humana e eu mesmo com dez anos não deixava de ser um arcanjo. Quando corri para fora, mamãe correu atrás de mim, um dos anjos tentou me acertar com o punhal de Asrael, mas ela entrou na frente e... E caiu sangrando... Eu tentei ajudar, eu juro que tentei! Papai viu tudo, nós não conseguimos salva-la, e o que vi em seguida foi Lúcifer enfrentando dois anjos, que depois de matarem minha mãe com certeza caíram... Ele estava furioso, não conseguiu se controlar. Papai nunca tinha matado ninguém... Pelo menos não até aquele dia.- Explico sentindo minha boca seca e meus olhos molhados.- Tudo por minha culpa ma... Chloe.

Sinto Decker me puxar com força contra si, e logo estamos nos apertando um contra o outro, em um abraço forte, e me deixo chorar baixinho ali.

Não creio que tô chorando praticamente no colo de uma mulher... Que vergonha.

- Não é culpa sua meu anjinho, seu pai foi injusto com você, você não teve culpa, você só queria ajudar não é?- Sinto a mesma me apertar contra si e choro ainda mais com o conforto que a humana me oferece.- Eu sei que não posso mudar o que aconteceu, sei que não posso trazer sua mãe de volta. Mas prometo a você que irei fazer o meu melhor para cuidar de você e te manter bem.- diz me fazendo sentar em seu colo e eu escondo o rosto em seu peito, tentando a todo custo parar de chorar.

Já passei vergonha de mais por hoje.

Jhonny MorningstarOnde histórias criam vida. Descubra agora