Luna

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Levo alguns instantes para voltar a realidade, nem me lembro o que respondi para a voz no telefone ou como a ligação terminou. O mundo parou por um segundo quando ele disse ser irmão do meu falecido marido, cujo me garantiu que não tinha irmãos. Não falávamos muito sobre nosso passado, eu por não ter muito o que dizer e sempre achei que era algo doloroso para Luca.

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- E quanto a sua família? Luca me pergunta enquanto caminhamos pela praia, em uma cidadezinha no México. Ele apareceu pela manhã no meu trabalho e decidiu que passaríamos o dia juntos. Só não imaginei que seria em outro estado, mas por mim tudo bem já que a garupa da sua moto tinha se tornado meu segundo lugar preferido do mundo.

- Eu e Nina crescemos em um orfanato, não sabemos exatamente como fomos parar lá e honestamente não me interessa. É só mais uma história triste sobre crianças órfãs. Digo com sinceridade.

- E quanto a você? Tirando os caras que trabalham na oficina e a sua Harley preta, quem mais está na sua vida? Como é a sua família?

- Meus pais morreram quando eu era criança, fiquei com uns tios até os 18 anos; não mantive muito contato depois que sai, acho que foi melhor assim para todos. Não tive irmãos ou alguém para me apegar. No fundo sinto uma melancolia em sua voz. Não sei como foi o passado de Luca, mas percebi que era algo que ele não iria compartilhar sempre. Depois disso o assunto nunca mais surgiu, afinal eu não tinha família nenhuma além de minha irmã. Então encontrar alguém em situação semelhante não era nada surreal, pelo contrário, era quase um consolo.

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Com o susto esbarrei no telefone que caiu no chão fazendo barulho, Nina deve ter ouvido porque apareceu uns segundos depois com o rosto inchado de sono. Coloquei o telefone de novo no ouvido para ter certeza de que a ligação tinha mesmo terminado e não havia ninguém na linha. Eu não acho que cheguei a dizer uma palavra, então a pessoa deve ter desligado quando não houve resposta. Contei para a Nina o que tinha acontecido, mas ela estava convencida de podia ser apenas um trote ou engano.

-Seja quem for vai ligar de volta se for importante, até lá não podemos fazer muita coisa. Pode ter sido apenas um trote, está muito cansada, pode ter entendido errado. Ela diz me dando um abraço e acariciando meus cabelos, ela sempre fazia isso quando eu ficava triste.

-É, talvez. Sabe o que é mais estranho? É que depois de 3 anos só agora me dou conta de que não tenho ninguém para perguntar sobre Luca. Seus colegas de oficina me disseram no enterro que o conheceram há um ano antes de mim quando ele os chamou para trabalhar. É como se tudo que eu sabia sobre ele tivesse morrido junto com ele.

Depois de conversarmos um pouco vou para a cama, amanhã será um longo dia e terei tempo para pensar sobre isso. Por agora vou ficar com toda a memorias boas que tive ao lado do homem que eu conheci e que no pouco tempo que tivemos me fez feliz.

Pela manhã estou me sentindo um pouco melhor, decido que é hora de recomeçar minha rotina. Depois que me casei com Luca em uma curta viajem a Itália, eu resolvi me dedicar totalmente a minha faculdade de artes. Logo comecei a receber encomendas de esculturas, retratos e me dediquei a isso. Luca me apoiou totalmente, ele adorava me ver pintar, dizia que nunca tinha visto alguém tão conectada em algo. Depois que Nina sai para trabalhar, coloco meu avental e me preparo para uma pintura encomendada pela esposa de um político da cidade. Quando estou prestes a começar a campainha toca, ao abrir a porta me deparo com uma linda mulher loira me encarando com um sorriso amigável.

-Posso ajudar? Pergunto

-Meu nome é Milena Caccini! Você deve ser Luna. É realmente um prazer te conhecer. Ela diz sorrindo e estendendo sua mão para mim.

- Caccini? - Eu mal consigo pronunciar a palavra, o meu choque não permite que eu faça qualquer movimento. É o mesmo sobrenome da voz no telefone ontem, não consigo acreditar depois que passei a maior parte da noite me convencendo que havia sido apenas uma alucinação.

-Olha, eu sei que isso pode ser confuso. Eu sou irmã de Luca também sei que ele não falou sobre sua família, mas se você me der uma chance eu prometo responder todas as suas perguntas. Tudo que eu e minha família queremos é saber o exatamente aconteceu com o meu irmão. - Ela diz e por alguma razão que não sei explicar a deixo entrar.

-Certo, pode entrar. Eu a levo para o sofá e nos sentamos; a encaro esperando que ela diga alguma coisa que faça essa situação fazer algum sentido.

-Eu não vejo meu irmão a muito tempo, desde que ele decidiu ir embora. No começo ele mantinha contato, E-mails, cartas e cartões postais. Aos poucos foram apenas desaparecendo.

-Eu não entendo, porque ele escondeu tudo isso? – Não escondo minha indignação.

Milena procura as palavras com cuidado - Eu e minha família temos muitos negócios na Itália e isso faz com que sejamos bastantes discretos. - Depois que nosso pai faleceu meu irmão mais velho Nikolai assumiu os negócios da família; Luca como o segundo mais velho deveria ser seu braço direito, mas ele não quis. Era jovem; aventureiro só queria viajar, conhecer pessoas novas e ter uma vida diferente. Minha mãe e meus tios não concordaram, mas Nikolai o dispensou de seus deveres pela sua felicidade com a condição que não seria mais um membro oficial da família. Ele teria que usar outro sobrenome e não nos ver mais. Sei que isso soa frio Luna, mas temos muitos inimigos e existem certos protocolos que precisamos seguir.

-Como vocês souberam de mim? As lágrimas queimando nos olhos.

-Apesar da benção de Nikolai a família decidiu que era mais seguro não perder Luca totalmente de vista. Havia um segurança particular sempre por perto cuidando de vocês, ontem recebemos a notícia de que Luca tinha cometido suicídio. Ficamos sem chão, nossa mãe está desolada, tínhamos a impressão de que ele era completamente feliz. - Mesmo vendo as lágrimas em seus olhos ela era uma estranha e essa história podia ser papo furado.

- Você quer dizer que durante todo esse tempo que estive com Luca, tinha alguém vigiando e assistindo nossa vida?

- Sim, mas não é tão invasivo como você está pensando. Ele estava ali para a segurança de vocês e nos reportar sua localização para o caso de precisarem de reforço. Eu confesso que algumas vezes a mãe pediu mais informações sobre ele, mas porque sentia muita saudade do filho.

-Então o que querem agora? Ele está morto, tirou sua própria vida. Não posso dar a vocês mais informação do que isso. Nem mesmo eu entendo o que aconteceu, num dia estávamos planejando uma viajem romântica e no outro estou organizando um funeral.

-Eu vou ser direta Luna; ontem recebemos um telefonema dizendo que Luca está morto. A maneira que ele morreu foi um choque, principalmente para minha mãe. O Luca que nós conhecemos jamais faria uma coisa dessas e se fez queremos entender o motivo. Precisamos de você, era a única pessoa que passou a conhece-lo como ninguém. Além disso, você é parte da família agora e todos querem te conhecer.

-O que quer dizer com isso exatamente? Pergunto confusa

-Quero dizer que você vem comigo para Itália! Ela diz com um largo sorriso.

Amor e Guerra ( SÉRIE AMORES NA MÁFIA )Onde histórias criam vida. Descubra agora