Inevitável

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Após aquela pequena declaração e mais um beijo, Cléo decidiu ir tomar um banho. Assim que ela voltou para o quarto eu já estava deitada e já havia deixado um certo espaço para ela. Ela se deitou, colocou uma de suas pernas sob a minha e se virou pra mim.

Ela não disse nada e eu também não, nós apenas trocamos olhares. Olhares intensos.

Eu gosto de intensidade. Eu gosto da nossa intensidade. Eu gosto de olhar para ela e me desligar completamente do mundo, só existir eu e ela, ela e eu. Eu gosto dá intensidade dos seus olhos escuros. Mas eu só gosto de ser intensa com ela. Só com ela.

- Eu sinto tanto medo de te perder... - ela diz quebrando totalmente o silêncio.

Em seguida abaixa a cabeça, olhando para qualquer coisa que não seja os meus olhos.

- Você não vai me perder. - respondo.

Ela levanta a cabeça e sorri e em seguida diz:

- Eu sei lá, acho que não te perder seria inevitável - ela diz e desfaz o sorriso e segura uma das minhas mãos.

Ela começou a fazer um certo carinho na minha mão, calmamente seus dedos passam em minha pele em um movimento sincronizado.

Eu não sabia aonde ela queria chegar com aquilo.

- Por que diz isso? - recuoo minha mão.
- Eu não sei - ela respondeu baixo quase inaudível - Isso é totalmente novo pra mim, talvez seja isso.

Eu não sabia como dizer:

Tudo bem,você só ama alguém do mesmo gênero que você.
Isso é errado aos olhos da sociedade,mas fazer o que? Acontece.
Todos vão te julgar,mas o que que é que tem? é só alguém do mesmo gênero que você.
Eu sinto medo, mas você não precisa sentir.
Sério, tudo bem.
Tudo bem.
É só amor.
Você só ama alguém do mesmo gênero que você.
E tá tudo bem.

- É confuso né? - ri quebrando o clima - Mas certas coisas como você disse são inevitáveis.

- Muito confuso - ela responde após alguns minutos em silêncio.

Da mesma maneira que ela iniciou ela encerrou o assunto: de repente. Eu achava estranho mas não comentava nada, porque as vezes parecia que ela queria dizer muito mas se limitava ou não podia.

Sua respiração ficou mais leve então tive a total certeza que ela havia adormecido.

- Boa noite... - sussurei.

E acabo adormecendo também.

Não me lembro o horário em que acordei, só me lembro de Cléo dormindo ao meu lado.
Me levantei calmamente para não acorda-la. Fui até o banheiro e fiz minhas higienes, logo desci para cozinha e me sentei com a minha mãe para tomar café.

- Bom dia! - digo e dou um beijo em seu rosto.

Logo em seguida pego uma xícara e coloco o café, talvez, muito café.

- Bom dia! - ela responde - Por um acaso você tomou dois banhos quando chegou em casa? - ela me olha e toma mais um gole do seu café.

- Não. A Cléo veio passar a noite aqui... - respondo enquanto passo a manteiga em um pão.

- E por que ela não desceu para tomar café?

- Ela ainda está dormindo - mordo um pedaço do pão com manteiga.

Ela terminou seu café e se levantou, colocando sua xícara em cima da pia.

- Eu vou passar o dia fora... - ela diz.

- Mas hoje é domingo, você não trabalha. 

- Irei sair com umas amigas. Acho que também mereço espairecer.

- Ok mãe, divirta-se.

De repente Nicolas apareceu na cozinha vestido como se fosse jogar bola, como se fosse não, ele iria jogar bola.

- Bom dia! - ele dá um beijo no rosto da minha mãe e em seguida pega uma banana na fruteira - Futebol hoje! Só chego no final da tarde! Fui!

Ele diz e rapidamente sai da cozinha batendo a porta da sala.

- Se você for sair, tranque bem a casa. - ela diz.

- Pode deixar - mandei um beijo e terminei meu café.

Logo ela saiu e eu lavei a pequena louça do café da manhã, deixando apenas o que Cléo precisaria para comer assim que acordasse.

Volto a me jogar  no sofá da minha sala e procuro alguma coisa que me agrade na televisão. No final, deixo em um canal de polishop para responder as mensagens de Diogo com mais calma.

Whatsapp On
Diogo: O que aconteceu ontem?
Malu: Eu e a Cléo ficamos de novo.
Diogo: QUE? QUE HORAS QUE EU NÃO VI?
Malu: No banheiro e na minha casa.
Diogo: Mas vocês foram embora em horários diferentes...
Malu: Pois é! Ela apareceu aqui do nada. Depois eu te conto com detalhes. Mas como foi sua festa?
Diogo: Eu sai da festa namorando.
Malu:  Como assim?
Diogo: Te conto depois.
Whatsapp of

- Bom dia.

Uma voz sonolenta recuou da escada e ao me virar me deparo com Cléo, com a cara amassada de tanto dormir e cabelo bagunçado. 

Ela era linda. Ela era muito linda.

- Bom dia. - respondo e me arrumo no sofá - dormiu bem?
- Sim e você? - ela passa a mão no cabelo e se sentou ao meu lado.
- Também - dei um sorriso de lado - você não vai tomar café?
- Você não vem?
- Eu já tomei. - digo e ela assentiu com a cabeça. 

Cléo se levantou e foi até a cozinha, eu me deitei novamente no sofá e voltei a procurar algo que me interesse na televisão. Logo ela volta, com uma xícara de café em uma mão e algumas torradas em outra, levanto minhas pernas para que ela possa se sentar e logo após as coloco em cima da mesma, ela não parece se importar, nem eu.

- Cadê os seus pais? - ela pergunta e em seguida morde uma das torradas.
- Meus pais se separaram... - digo e ela me olha com receio, como se estivesse se arrependido de ter perguntado - a minha mãe saiu com umas amigas, agora o meu pai eu não faço ideia de onde esteja...
- Eu sinto muito Malu.... - ela diz - Por que não me contou antes?
- A gente não estava se falando esqueceu? - olhei para ela e soltei um riso mas ela não pareceu achar tanta graça.
- Eu deixaria nossas desavenças de lado sabendo que você estava precisando de mim... - ela diz firme - eu não sou um monstro como você acha que eu sou.
- Eu não acho você um monstro. - digo olhando nos seus olhos
- Não é o que parece...
- Eu estava com raiva, falei as coisas sem pensar. Não queria te machucar.
- Eu sei disso, mas não deixou de machucar. - ela diz a última frase meio baixo e bebe mais um gole de café.

Ficou um silêncio meio chato enquanto ela terminava de comer. O clima havia pesado. Ela se levantou para colocar a xícara na cozinha e quando voltou se sentou no mesmo lugar. Mas desta vez eu também me sentei e digo:

- Não sabia que era amiga do Diogo.
- E não sou - ela diz - na verdade, não era.  Sou amiga da Scarlett.
- Quando você chegou ela fingiu que não te conhecia. - digo.
-Na verdade não, ela só perguntou se eu era sua ex.
- Como você sabe disso? - a olhei espantada -  e desde quando você usa salto?
ela solta um riso e responde:
- Desde quando eu preciso chamar a sua atenção quando está com raiva.


Por outros olhos (Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora