Dor divina

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Certo dia, me deitei na verde grama macia e fresca do pasto para admirar as estrelas que rutilavam nas trevas do céu. Apesar de ser um hábil caçador, desprezava o fato de que um homem deve viver apenas sob a condição de aproveitar os prazeres da carne e das rodas de escárnio. Eu acreditava em toda a beleza das coisas e me admirava vendo as manchas brancas no alto que repousavam majestosas junto aos astros.

Aquela noite, admirei o mais profundo e sombrio abismo nas alturas mais longínquas. Eis q a noite se tornou dia e pude contemplar a mais bela estrela do céu nos primeiros raios da manhã. Aquela força me atraía de uma forma sem igual, tanta que nem pude descrever a potência de meus sentimentos pulsando demasiadamente forte em meu peito.

O dia todo olhei o sol que queimava meus olhos, mas não pude parar de contemplar. Olhei tão longe nos pensamentos que fiquei cego.

Temi não poder mais caçar. Quando apanhei o arco, riram de mim e me chamaram de tolo. Como amaram me ver sofrer.

Eu escutava os sons da natureza, e ela me dizia onde atirar minhas flechas, porém era tempo de desistir.

Meu sofrimento vinha do arrependimento. Não poderia mais estar junto de meus amigos, pois era eu um ser diferente, digno de piadas e ofensas. Eu merecia ser a caça em um dia de zombaria. A mais cruel das angustias era não poder mais admirar nenhuma beleza da vida a qual a própria luz q amei, me tirou.

Eu deveria rir deles, os que me humilhavam, pois eram todos iguais. Tão previsíveis e manipuláveis, primitivos e pueris. Bem, a lição por mim foi claramente aprendida. Quando quis ser grandioso como os poderosos astros, tive que me submeter ao sofrimento para ver as coisas que os homens ignoram, todavia se eu soubesse da dor contígua à evolução humana, teria aceitado o encargo?

Fui perseguido por um jovem ambicioso, hábil nas palavras. Ele queria saber o que eu sabia, e disse a ele as coisas que os olhos jamais irão vislumbrar.

Ah sim, como eu amava meu arco e flecha. Como chorei noites a fio por não poder mais matar uma única criatura se quer. Porém tive que abrir mão de algo para conquistar tudo.

Matei uma ultima criatura insuportável que zumbia em meus ouvidos. A ela dei o som do conhecimento, e ela quis morrer antes de atingir a grandiosidade.

Ele não fugiu do sofrimento quando disse a ele que aquilo o tornaria maior, ficou firme em suas convicções, indo a diante e sempre mais. Ele era desordem e caos, quando se tornou um deus, passou a ser a solene força de todas as coisas se expressando pela eternidade. Ele veio a ser Sermo, o guardião da palavra, deus de toda ideia que um dia saiu da boca do homem.

Antes de mim, ele veio a ser um deus. Sermo viveu o que temi durante minha vida toda, e eu ainda estava cego de mais para ver.

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