Indômito.

Capítulo 5: Indômito

Tomo um banho gelado, para despertar. Estou cansado. Deito-me em minha cama grande e solitária. Os pensamentos ecoam em minha mente. Então me vem a lembrança daquele dia em que tudo foi tirado de mim.

Lá estava ela a dançar, deslumbrante como sempre, com aquele sorriso que contagiava a todos.

- Amanhã, alguém vai adotar a gente, com certeza.

- Mas não quero ser seu irmão. - Digo para ela, bravo. - Você é minha noiva. - Digo apontando pro seu dedo que tem uma aliança feito de cipó que eu mesmo fiz para ela.

- Eu sei. - Ela sorri.

Mal sabia eu que aquele seria o último dia que iríamos nos ver.

Era noite, e acordamos com tudo em chamas, quase morri ao inalar a fumaça. Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, sei que tive que ser levado às pressas para o hospital. Podia ver o prédio sendo queimado, lembro-me de perguntar por ela o tempo inteiro, mas ninguém me respondia, só me pediam para ter calma que tudo iria se resolver. Então eu apaguei.

Alguns anos mais tarde descobri que este incêndio havia sido criminoso, mas não soube-se por quem e então fora arquivado o inquérito. 

O problema é que eu não a encontrei mais essa minha amiga. Ela não sabia, mas eu já tinha sido adotado, só fiquei naquela noite porque queria passar o último dia com ela, na nossa festinha de ano novo. E então aconteceu essa desgraça. Não tive notícias dela, e isso nunca sai da minha cabeça. Onde ela estava? Não poderia ter morrido. E se não morreu, ainda irei lhe encontrar.

***

Ao acordar, percebo que havia sonhado com ela.

Mais uma vez.

Como de costume, tomei um banho gelado e depois um café.

O motorista já estava a minha espera, hoje Helena chega um pouco mais tarde na empresa então não poderá vir em minha casa.

Ao chegar na empresa, todos param de fazer o que estão fazendo para me recepcionar. Não digo nada, vou direto para minha sala.

Ao passar por Helena, ela levanta-se e me dá bom dia. Eu respondo um Obrigada e vou para minha sala. Quando me sento, vejo Helena pela porta de vidro. Ela está deslumbrante como sempre, e muito elegante.

Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e senta-se e abre a porta. Ela anda em minha direção, seu salto scarpin faz aquele barulho irritante. Ela inclina-se para mim e então ajeita a minha gravata e sorri. 

- Agora sim. 

Ela morde o lábio inferior de forma sensual, parece até que faz para me provocar.

- Agenda de hoje, por favor.

- Reunião às oito e as duas horas deverá passar na Universidade Urbana-Champaign para renovação do convênio. E temos que marcar um horário para resolver aquela questão na prefeitura. Qual horário você acha melhor?

- Pode ser após as dezessete, por favor.

- Ok. Irei ligar para marcar e então te aviso o horário marcado.

- Muito obrigada!

- Irei preparar os papéis agora. 

- Pode ir. 

Helena volta para a recepção, ela é uma mulher muito linda, com certeza deve chamar muita atenção. Além de bonita é muito inteligente e eficiente, não fora fácil ela aceitar estes atributos, com o tempo ela entendeu que era capaz de qualquer coisa. Aliás, ela foi a única que conseguiu cumprir todas as minhas necessidades. E tenho sorte de ela me ver somente como o seu chefe, nosso vínculo é desta forma, ela nunca teve algum tipo de interesse por mim, e se teve não me demonstrou. Por diversas vezes tive que despedir outras secretárias, pois se jogavam praticamente em meu colo. Eu sei que sou um homem irresistível, mas para mim trabalho é trabalho e eu dou total importância para isso.